domingo, 23 de dezembro de 2012

Ele. *__*

Vendo a ti tão pequeno não tenho medo do futuro. Pelo contrário, sinto vontade de devorá-lo. Aspiro para que ele chegue e te faça grande. Faça a ti um homem bom. Um homem que carregue dentro de si esse pequenino que hoje cabe tão perfeito nos meus braços. 

Nesses teus passos desajeitados tenho vontade de correr pela estrada da vida. Seguir por ela e ver o que há no caminho. Sem temer as curvas, os buracos e os outros que não se importam com o nosso percuso. Carrego-me de forças e sou capaz de transpor os obstáculos mais enraizados dentro de mim. 

Esses teus olhos escuros iluminam minha alma. É magia. Quanto te vejo olhando para mim fixamente sinto que sou vista. Finalmente existo. Coloca-me no mundo. Teus olhos tãos cheios de energia me transbordam. 

Tua pele macia. O melhor travesseiro já inventado. Poderia passar o dia com a cabeça recostada ao teu corpinho. O cheiro sossegado me embriaga. Cheirinho de coisa boa. O odor que limpa os pulmões. Queria poder guardá-lo em um frasco. 

Não sei explicar esse amor. Não sei explicar o valor que tu tens. Parece mentira. Parece bobagem. Admito que não esperava algo assim. É loucura demais, mas vale a pena mergulhar dentro dela. Afogar-se nesse não sentido. Quando estais presente não há mais nada. Não importa mais nada. Suporto tudo. Enfrento tudo. Meu sobrinho. Meu encanto.

sábado, 22 de dezembro de 2012

A saída.

''E todos os dias serão piores enquanto eu continuar aqui, vivendo uma vida que não é minha.''
Tal frase ecoava nos seus ouvidos como um sino que marca a passagem do tempo. Ela acreditava no anúncio que as palavras faziam sobre a condição de sua alma, mas não era tão simples. Parava pra pensar um pouco mais e se fazia a pergunta: Qual vida será a minha? Se não é esta, qual é então? 
Não descobria nada passeando pelos pensamentos. Eles não possuem a resposta. Por um bom tempo, tempo incerto demais para ser dito seguramente, ficou procurando algo que confortasse suas dúvidas. Saia por aí em busca da vida que seria a dela. Aquela vida que é sua e que está implícita na frase.
Numa noite adormeceu docemente. Há muito tempo que não o fazia. No sono seu pensamento se desprendeu da razão que o guiava enquanto desperto e ela sonhou. Sonhou com uma sala e neste ambiente não estava só e ao mesmo tempo sim. Para onde olhava só via a si mesma. Ela era várias. Como se repentinamente fosse dividida e esses pedaços ganhassem vida. Seis. Seis garotas idênticas e diferentes distribuídas ao longo da sala. Susto. Medo. Estranheza. Familiaridade. Não havia nada ali que elas não conheciam. Eram elas. Era ela. 
"Como viver uma vida que satisfaça a todas?" Esse era o assunto. O tema da discussão. E elas se debatiam e lutavam para encontrar uma solução. Cada uma possuía algo de particular. O que era bom para uma servia de veneno para outra. Às vezes a maioria concordava, mas sempre tinha aquela que não estava satisfeita. E se todas não estivessem unidas não daria para continuar. Houveram brigas. Muitas brigas. Ameaças. Porém, nada foi decidido. "Por hoje encerramos".
Ela acordou sobressaltada. Com o ar escapando dos pulmões. Seu corpo doía como se tivesse sido repartido. Confusa. Passou o dia pensando sobre a noite e percebeu que não havia sido um mero sonho. Era uma tentativa desesperada de sua mente de resolver o dilema e ao mesmo tempo revelá-lo. Era por isso que nunca tinha conseguido encontrar a resposta. Dentro si havia vários "eus" e cada um com suas expectativas. Era esse o motivo de não encontrar uma vida que fosse sua, pois haviam tantas possibilidades e nenhuma contemplava todas. Ao anoitecer. Fechou os olhos e novamente sonhou a continuação da noite anterior.
Lá estavam. Lá estava. E recomeçaram a discussão. No calor do tema teve uma que gritou: "Desse jeito não dá para todas viverem". E os olhos saltaram e ficaram frios. Será? Será que essa é a saída? 
Acordou sem reação. Não tinha o que pensar. Sua mente estava em silêncio. Passou o dia passeando pelas horas. Até a noite chegar mais uma vez e o sonho retornar. 
"O que foi dito ontem não é algo a ser pensado". Estavam caladas. Cada uma com suas reflexões. E assim foi por vários dias. As vezes se tentava falar sobre alternativas, mas nada encontravam. E durante o dia as coisas foram ficando difíceis. Era doloroso continuar daquela maneira. Sem saber seu lugar. Sem sentir que vive. Estando sempre errada. Não dava mais. 
"Se apenas uma não pode viver e não podemos viver como uma, então poremos fim em todas. Essa é a forma de acabar com tudo o que nos pertuba". Algumas relutaram, tentaram debater, usaram diversos argumentos, mas nada bom o suficiente. Então, todas concordaram. Juntas, uma sufocando a outra. E no instante que o último suspiro foi lançado finalmente eram uma só.
 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

"Nas ondas verdes do mar"

Repentinamente me vi diante do mar. Senti no rosto o vento com cheiro de maresia que brota do horizonte e diante dos olhos o mar dançou pra mim. Nos seus passos vi o cotidiano, o dia-a-dia que nos faz esquecer que há vida dentro de nós e que iremos passar. Estamos passando. 

Na imensidão daquelas águas lembrei do quão pequeno é o tempo. Pequeno demais para nós. Pequeno demais para ti. Em mim o tempo passea. Brinca com meus anos e cansa os meus dias, pois ele corre depressa e não posso alcançá-lo. Quem é que pode? Tu não pôdes. Fosses engolida por ele. Iremos todos.

No movimento das ondas vi o mistério que nos envolve. A forma como ele balança, ligeramente muda seu curso e não consigo perceber esse momento. Descubrir o instante que as coisas se transformam, mudam de tal modo que não sabemos o ponto onde tudo aconteceu. Estamos em outro lugar sem ter ideia de como nossos passos nos levaram até lá. Até aqui. Estou agora. 

Eles se cruzam e depois se separam. É assim que somos nós. Foi assim que fomos nós. Em um minuto estávamos aqui a fazer planos e no outro estou eu a recolher retalhos dos sonhos que se chocaram nas pedras. Sim, ainda estou navegando. Meu navio continua a navegar. Ele é forte, tem medo demais para naufragar, mas o mar tem seus mistérios.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Até logo.

Sinto muito, mas decidi te colocar em um cantinho escuro na minha mente. Um lugar afastado onde você não possa ser vista. Onde não possa conversar nem trocar ideias. Não possa ser ouvida. Sinto muito, mas é preciso. Todos dizem que é necessário continuar e resolvi acreditar neles. E nesse momento essa é solução que encontro. Fujo de tudo que possa te lembrar. Tenho corrido bastante esses dias. Sinto muito, mas preciso desligar as luzes do quarto mais uma vez. Fique bem por ai. Qualquer coisa tem vela e fósforo na cômoda.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A cada folha uma vida.

Ray Bradbury na introdução da versão ilustrada de Fahrenheit 451 por Tim Hamilton, propõe um exercício. Sugere que os leitores pensem no nome de um livro que gostaria que ficasse protegido dos censores ou "bombeiros", e que fosse dito a razão pela qual este livro deveria ser salvo e levado a posterioridade. Não sei se seria capaz de escolher apenas um livro, pois quando olho para a minha estante tem pelo menos quatro que não poderia abandoná-los ao fogo. Cada um deles tem um significado diferente para mim. Cada um deles representa um pedaço de mim, são partes da minha história, recortes de minha personalidade. Estes livros são: Os famosos e os duendes da morte, Como me tornei estúpido, Cartas a um jovem poeta e Niels Lyhne. 

Os dois últimos são recentes e Niels Lyhne ainda estou lendo, no entanto já me transfomou. Cartas a um jovem poeta foi lido a pouco tempo em um momento de grande furor emocional e admito que ele acalmou tempestades e gerou algumas ventanias. Muitas ideias, muitos questionamentos e sentimentos foram ativados em mim através do contato com ambas obras e nas circunstâncias que me encontro, eles vêm sendo remédios valiosos. 

Falando um pouco sobre os dois tenho que dizer que Niels Lyhne me espanta e encanta a cada página. As três primeiras linhas do livro me chocaram e fizeram com que soltasse um belo palavrão em sala de aula sem o menor decoro. Fala que "Há homens - (...) que vivem como se viver fosse a coisa mais natural do mundo". E me pergunto: Não é? Será que viver de fato não é algo natural? Talvez o seja e o que o torna artificial sejam os jogos sociais, as exigências culturais, o dia-a-dia, as obrigações, os deveres e direitos, e todos os aspectos que parecem retirar de nossas mãos a capacidade de viver a própria vida como acreditamos ser possível. 

Porém, penso que talvez viver não seja natural. Não é um processo que se dar por si só. É algo que sempre tivemos que conquistar, que lutar por. Temos que rotineiramente batalharmos para manter nosso corpo em condição de atividade. Sempre fomos guerreiros em busca de mais um dia, de mais um tempo. A vida não é natural. É uma conquista diária. Árdua. Que caminha para o desgate de se própria. Não, a vida não é natural. A morte o é. Será que é assim?

Quem nunca se remoeu com a sensação de estar presenciando o passar dos anos sem estar vivendo? Quem nunca pensou que a sua vida estava sendo ditada por outro alguém? Que era um mero passageiro na sua própria história? Quem? Ninguém? Não, não é possível. Existem pessoas que passaram e passam por isso, mas tem aquelas que jamais experimentaram desse ardor. Sorte delas. Ou talvez não? Não sei bem. 

A leitura de Niels Lyhne se dá da seguinte maneira (assim a vejo): Lê-se sobre o cotidiano. A rotina do dia. E de repente algo de extraordinário acontece. No meu caso, paro um pouco, respiro, releio a parte que me abateu, penso sobre tudo e quase nada e continuo a leitura. Algo foi mudado, mas permanece um sentimento de calma e marasmo até outro golpe e assim prossegui o texto. Jacobsen, o autor, fala de variadas questões da existência. Seu discurso é sútil, no entanto de uma crueza arrebatadora. Descreve as amarguras da vida docemente e, ao mesmo tempo, nos revela as sombras que se escondem na escuridão da alma e os clarões que a torna mais leve. Somos levados a perceber as inconstâncias da vida. As ilusões, as fantasias que habitam nosso ser e nos tornam estranhos para nós mesmos. 

Tomando como ponto de partida a maneira que se dá a leitura do livro, acredito que assim seja o curso dos nossos dias. Submetidos a um roteiro e repentinamente somos surpreendidos por algo que nos escapa, que nos invade. E o quanto buscamos artimanhas para nos proteger desses descontroles, dessas fugas do roteiro. 

As minúcias de nossa fé tão frágil, tão humana. As delicadezas das relações, seus não-ditos, seus enganos. Os afetos tão instáveis, tão ferozes. Os amores na sua forma pura, ou seja, imperfeita, insensível e que perde forças diante do conhecimento e da conquista. A capacidade de imaginar, a criatividade, a infância sem embelezamentos românticos. O quanto a incerteza nos é amiga e a certeza é fim demais para nos dar esperanças. Esse eterno fluir dos acontecimentos que não nos permite experimentar a segurança, a calmaria da estabilidade. É ele que nos provoca para seguirmos adiante, mas também nos devora. E como disse o lunático na ponte no filme Walking Life "Mas os paradoxos incomodam-me, e posso aprender a amar e a fazer amor com eles".

São tantas coisas, tantas coisas suscitadas nestas páginas. E as lembranças? Ah! As lembranças são a melhor parte, pois cada parágrafo me leva ao encontro de alguém. Alguém que já se foi. Leva-me ao encontro de mim mesma em um tempo que não sou mais. É um mundo. Ainda não cheguei ao final do livro e parece que jamais chegarei. Não poderei encerrar tal obra. Ela é grande demais, como disse Creder ao passar por mim pelo corredor da faculdade: Ela está muito a cima ...

"Viva nesses livros um momento, aprenda neles o que lhe parecer digno de ser aprendido, mas, antes de tudo, ame-os. Esse amor ser-lhe-á retribuído milhares de vezes e, como quer que se torne a sua vida, ele passará a fazer parte, estou certo, do tecido de seu ser, como uma das fibras mais importantes, no meio das suas experiências, desilusões e alegrias" (RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta).

sábado, 29 de setembro de 2012

A fotografia.

Encontrei tua foto jogada ao chão.
Percebi tua foto esquecida ao chão.
Não sei como foi parar ali.
Não sei como caiu.
Só sei que vi tua foto jogada ao chão.
Ela estava guardada.
Tão bem guardada que não se via.
Só a vi no dia em que a ganhei.
Fazia sete dias da perda.
Ela ficou guardada.
Escondida de mim.
Segura de mim
E de repente,
vejo tua foto jogada ao chão.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Teus quereres.

O que queres de mim? 
O que procuras em mim?
Sinto te dizer que não sou única.
Não sou uma.
Em mim há várias.
Em mim habita o mundo.
Sou tanto.
E é tanto que não me cabe.
Transbordo em fragmentos de um todo.
Todo é o que me compõe. 
Sou vazio também.
Existe muito em mim que não sei.
E em ti descubro muito de mim.
Não posso te dar apenas teus quereres,
pois sou inteira. 
Sou a vida
e a vida é incerteza, é multiplicidade.
Tenho riso
Mas há lágrimas nos cantos dos olhos.
Tenho paz
Porém as vezes faço guerra.
Eu abraço e deixo cair.
Beijo e também viro o rosto.
Não sou fácil.
E nem tão difícil assim.
Veja, estou sendo o que posso.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Teu olhar

Há tanta vida em seu olhar. Por eles consigo enxergar toda a sua história. Eles me mostram que já viram e imaginaram muitas coisas.

Ao longo da vida nossos olhos são preenchidos por tudo aquilo que experienciamos. Quanto mais vividos, mas repletos de luz são os olhos. Contudo, essa vida que invade a pálbebra e se afunda no globo ocular não é medida pela quantidade do tempo transcorrido. Não, de forma alguma. Basta olhar nos olhos de sujeitos idosos e verá que alguns ainda estão vazios. Não é dessa forma que se dá o preenchimento de nossos olhares. A vida que nos inunda não é medida por lógica alguma existente. Ela é grande, tão grande que não se percebe com facilidade. Se dá de tal maneira simples e pequena que escapa aos nossos dedos. Não a captamos de maneira alguma. Ela nos irrompe. É uma vida que se encanta em não ser vida falada. Essas vidas que discursam por aí não entra por nossos olhos. Não enchem nossos corpos. É uma vida que está fora daquilo que falam da vida. É aquele pedaço que não explicamos. Notável no inotável. É ar, água, mato e fogo. Um nó. Não, não um nó, um laço facilmente desatável. Frágil e também firme, tão firme que não pode ser destruída. Como pode caber tantas contradições em sua explanação? 

A vida que vejo em teus olhos conta a história que para ti não fica clara. Aquele recorte da tua história que não houve palavras. Não ouve. Nos teus olhos eu vejo a vida, a tua vida invivida. Sim, vejo que a tens caminhado e que estais a construir algo. Tu sonhas. Percebo isso. Sonhos modeláveis. Sonhos facéis. É mais simples. É mais fácil. Tudo bem, não há indignidade em sonhar sonhos simples.

Ah, teus olhos, que bela magia. Consigo acreditar que o amanhã nascerá com sol e leves pancadas de chuvas para molhar nossos pés. Sim, dá pra ver. Sim, posso ver. Nos teus olhos meu reflexo é uma possibilidade. Pintar-me-ei na tua retina e serei por um tempo parte dessa vida, da tua vida. Quem sabe do tempo? Que seja agora. Que seja hoje. Por enquanto, que seja.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Cânticos

VI

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

Cecília Meireles

"Este cântico foi recitado para mim por meu grande e lindo amigo Cayo César. Foi incrível e muito importante ter escutado tais palavras vindo dele que é beeem especial para mim." (:

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

31 dias.

E hoje faz um mês. Um mês de estranheza inexplicável. A saudade ainda está aqui, não sei se irá embora, porém as coisas estão diferentes. Estão mais calmas. Estão serenas. Sei que não será sempre assim. Haverão momentos que o aperto se fará forte e vai ser difícil. Vai ser mais difícil. No entanto, hoje, estou calma. Tudo parece esquisito. Ainda não me acostumei com a ideia, mas já convivo com ela. Começo a me esforçar para voltar ao ritmo normal de minhas atividades rotineiras. Penso em novas formas de lidar com o que vem acontecendo dentro de mim e até que estou bem. Voltei a ler e esta sendo incrível. Lembro de você a cada página e não me dói, pelo contrário, alívia. Você está em mim, sempre estará. É, algumas coisas ficam mais bonitas quando viram lembranças, porém isso não quer dizer que elas eram feias antes. Apenas ganharam a roupagem da saudade que tende a engrandecer as memórias com o passar do tempo. Então, imagina só o quanto deve estar grandes e bonitas as recordações que guardo de ti?

Hoje, e espero que isso dure por mais tempo, não reclamarei de ter reclamações. Não me frustarei com as minhas frustações e nem ficarei triste por ter tristezas. Viverei tudo da maneira que aguentar viver. Vivenciarei cada emoção com o que ela tiver a me oferecer. É, abraçarei minhas dores e aguardarei ativamente que elas me transformem. E saiba que foi lindo ter te conhecido. Foi mágica a nossa amizade. A guardarei em mim até onde puder. Agora, seguirei e lidarei com o que vier pela frente. Obrigada, muito obrigada por ter sido minha amiga. Melhor, por ter sido minha cobaia.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Eu não sei fazer poesia.
Não entendo de métrica
tão pouco de rima.


Não faço ideia do que seja poema
Prosa? o que é isso?
Como se faz?
Sei que é bonito.

Não sei compor frases encaixadas
Palavras acertadas, afinadas e quebradas.
Fico perdida no bem escrever que a gramática impõe.

Só sei que sinto.
Sinto muito.
Sinto tudo.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Sem você
Me sinto caco de vidro
Despedaçado entre as lembranças
Sinto-me só, desaguo!
Arranco de mim o que nem sei se tenho
Soluço tentando entender
E a dor não se despede
Não era ela a companhia que cobiçava
Mergulho no fundo de mim
Eu nado e nada!
Eu quero força, para explicar
São sentimentos e não se vê
TUDO MUITO
Muito que não me cabe
Transbordo!
Tento recuperar o que é seu
Vale ouro, me faz pertencer
Guardo o que encontro
O que recordo escrevo
Não quero esquecer
Junto tudo e guardo
Á sete chaves num relicário
Dentro do meu coração.

                                                                                                   (Andressa Costa).
"Nos seus versos vejo o reflexo do que meus olhos não podem alcançar."

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Fora de visão: Enxergar além do que os olhos podem ver.


Um dia desses fui levada despretensiosamente a pensar mais uma vez em psicoterapia. Foi bastante interessante como as coisas ocorreram. Pensando em Jung, diria que não foi coincidência. Depois de certo tempo finalmente me propus a ler um artigo no blog de meus professores Joaquim Cesário e Marcos Creder, o literalMENTE (http://literalmente-literalmente.blogspot.com.br), intitulado "Raízes psicológicas da psicoterapia: Anatomia de uma relação" de autoria do primeiro. Porém, antes de lê-lo fui presenteada pelo meu amigo Lucas Garcia com um belo curta metragem chamado Out of Sigth. A partir disso fiquei impulsionada a escrever um pouco mais sobre psicoterapia.

Fiquei encantada com a trama do curta e decidi juntá-lo às ideias do texto e organizar sob meu ponto de vista. Para tal é necessário falar um pouco sobre o vídeo, no entanto indico ao leitor que o veja antes, por isso aqui está o link do mesmo: http://www.youtube.com/watch?v=x6dnqnsdBOg&feature=plcp. Ele foi o trabalho de conclusão de curso de três estudantes da Universidade Nacional de Artes de Tawain e relata a história de uma jovem cega que após ser roubada e largada pelo seu cão guia vê-se sozinha e com o mundo todo a sua frente para ser descoberto. Ela empreende uma busca ao seu animal de estimação e instrumento facilitador de locomoção e socialização, e nessa aventura descobre um universo encantador. Passa a ter experiências novas e prestar atenção a tudo que a rodeia. Os seus sentidos são despertados e sua imaginação pinta o mundo a maneira que lhe parece ser correta. Ela passa a vivenciar as coisas de forma intensa, porém no momento que reencontra seu cachorrinho tudo volta ao que era antes: as cores se apagam, a sua criatividade se dissipa e a cidade assume a sua forma original. 


 Com o enredo do vídeo podemos discutir dois pontos que acredito serem primordiais em psicoterapia. O primeiro diz respeito ao desenvolvimento da independência do cliente sobre a figura do psicoterapeuta e o segundo se refere aos profissionais que se escondem atrás de técnicas e permitem que estas sejam a sua bússola. 

Quando se busca uma psicoterapia se vai atrás de respostas. Respostas que possam causar mudanças, respostas que consigam acalmar a tempestade emocional que inunda cada um. Existe a crença que aquele que está ali nos “esperando” possui as soluções para as aflições daqueles que o procura. Algumas vezes a esperança é depositada mais na figura do psicoterapeuta do quê em si mesmo. Inicialmente esse processo é interessante, pois colabora com a criação do vínculo terapêutico e na confiabilidade do cliente. No entanto, não se deve cultivar tal comportamento. Para maiores esclarecimentos, profissional algum possui a fórmula mágica que irá transformar a vida do solicitante. Não há modelos. Não existe nenhum livro de cabeceira que dê a nós, psicólogos, o dom de transmutar os problemas alheios em lembranças engraçadas e em material de experiência de vida, apesar de ter aqueles que carregam tal ilusão.
 
Retomando então ao curta citado a cima, quero dizer que alguns indivíduos entregam aos terapeutas o poder de guiarem suas vidas. Deixam-se ser levados pelos conselhos e opiniões bondosas dos profissionais que lhe acolhem, o que é um engodo de ambas as partes. Tais sujeitos dependentes delegam a habilidade para lidar com seu dia-a-dia e esperam ansiosamente até a próxima sessão onde poderão pensar sobre seus assuntos. A responsabilidade pela construção de sua história foi deixada em alguma esquina da cidade ou em algum cantinho do consultório terapêutico. Deixam de experimentar o mundo da sua forma singular e passam a perceber os fatos com os olhos dos profissionais que os atendem.

Não digo que agir contrário a essa postura impedirá que obstáculos surjam no caminho, em ambas as posições não há seguranças, os dois modos são arriscados, afinal de contas viver é um risco. Porém alguns podem dizer que carregar sobre os ombros suas próprias decisões é muito desgastante. Concordo. No entanto o enriquecimento pessoal e o prazer irremediável de ser o principal autor de sua história, não tem preço. É uma experiência assustadora, admito, mas é fascinante descobrir-se. Vale a pena tentar.

 

Quanto ao segundo ponto, a instrumentalização da psicoterapia, pode-se afirmar que esta cega o profissional e o impossibilita de fornecer o melhor de si para o cliente. A ferramenta mais importante que o profissional possui é a sua própria subjetividade. A maneira como o cliente o toca, a relação estabelecida, trabalhar no que há entre e não unilateralmente, respeito pela singularidade e a criação de um vínculo de confiança são os instrumentos mais válidos no setting terapêutico. Um psicoterapeuta que não leva em consideração as repercussões que ocorrem dentro de seu ser terá dificuldade de escutar o outro e de possibilitar que o mesmo se escute. Terapia não se desenvolve em um indivíduo, é uma troca que ocorre dentro de uma relação assimétrica, porém sincera e coerente com suas finalidades.

Teoria e técnicas são importantes. São recursos sérios que moldam e possibilitam a profissionalização. No entanto, como diria Jung em sua célebre citação: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”. Assim, observando o curta, posso dizer que o psicoterapeuta que se refugia em técnicas bem estruturadas e pratica terapias instrumentalizadas, vazias de interação, perde a criatividade e torna o espaço terapêutico um vácuo onde o sujeito fica em segundo plano e o que se vê são apenas os jogos sociais e a superficialidade do ser que não transmite a verdade do indivíduo. 

A visualização do curta desperta, ao menos em mim, diversos sentimentos e um questionamento: Até que ponto o cão guia estava colaborando com a garotinha? Refletir sobre o nosso papel com o outro é fundamental, e digo para aqueles que se vangloriam quando escutam da boca de algum profissional que não precisam se responsabilizar com as escolhas e o processo do cliente, que não cabe a nós nos devorarmos com os caminhos tomados pelo paciente: Parem e pensem qual a nossa função e, principalmente, não se acomodem com essa defesa. A responsabilidade é ainda maior devido a isso.



segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A minha perda: em busca de um sentido.

Fico aqui procurando as palavras certas para expor o que estou sentindo. Não sei por onde começar. Não sei o que fazer. A pergunta que ficou rodeando minha cabeça foi: Então é assim que é a morte? Não dá para acreditar na simplicidade dos fatos. Como pode ser possível desaparecer assim alguém que para mim era essencial? É essencial. Que fim é este que não te deixa terminar nada e nem anúncia sua chegada? Ele é. E nós somos apenas peças compondo o tabuleiro da vida que não possui regras para nos esclarecer suas jogadas repentinas. Sim, acabou. Simplesmente acabou. 

Perder alguém. Perder a ti. Como encontrar sentido para tal? Há algum sentido nisso tudo? Para quê haver sentidos? Lógicas que só servem para mascarar a nossa falta de respostas. Ver alguém partir sem destino. Sem destino mais. É destino. O que na verdade eu perdi se nunca foste minha? O que nós perdemos quando alguém morre? Penso agora que são recortes de nós mesmos. Pedaços de nossos sonhos, nossos planos, nossas fantasias e lembranças. Retalhos de tudo que construímos com e que jamais poderá ser sem. É isso, perdi com tua partida algo meu que não mais poderei retomar no contato com outros. É por isso que dói. É por isso que dói? Não sei, mas dói. 

Por enquanto, nesses sete dias que passaram desde a tua despedida sem adeus, as manhãs continuam a acontecer e o mundo continua girar. É incrível, mas é verdade. As pernas dão seus passos, as vezes tropeçam, porém permanecem na estrada que não trilharás mais. O relógio permanece com seu tic tac nos lembrando que o tempo passa, passou e passará. Todos os dias, desde então, levantar da cama tem uma conotação diferente. E meu maior medo é um dia abrir os olhos e não sentir no corpo o peso da saudade. Medo dessa sensação de vazio se propagar. Quando esse tempo chegar saberei que terás ido embora. Somente nesse instante é que terás ido embora. Por enquanto, "aos outros eu devolvo a dó, eu tenho a minha dor". E, não consigo tirar da cabeça que "quando você acorda, a vida já passou." e "Não é preciso ser velho para sentir o tempo".

Tempo. O que falar dele? Poderia tê-lo usado com mais intesidade. Poderia tê-lo aproveitado. Poderia tê-lo. Não tenho. Ver a impossibilidade de manusear o tempo ao nossos caprichos é humilhante. Se pudéssemos brincaríamos com os ponteiros invisíveis do incontrolável e seríamos rainhas do mundo. O universo estaria aos nossos pés. Teria sido engraçado. Mas não é. 

Pelas pontas dos meus dedos escorrem sentimentos, emoções que não ganham voz quando tentam escapar pela garganta. Desde cedo aprendi que escrever era a saída para aquilo que não poderia ficar preso. Você me ajudou a encontrar outras maneiras, porém continuo com velhos hábitos. E é por isso que não consigo falar sobre tal assunto de outra forma. Diante de tudo que estou vivendo não poderia discorrer sobre sentimento de perda, sobre morte, sobre a vida sem ser de maneira passional. Se caso o fizesse estaria sendo desonesta comigo mesma e com tudo que acredito. Nessas conjuções mal elaboradas e emotivas tento organizar o que esta confuso. "(...) trato meu coraçãozinho como uma criança doente, satisfazendo-lhe todas as vontades".

Ainda havia tantas coisas para fazermos juntas. Nossas promessas estão passeando pelo vento e continuarão. Na tentativa de te manter aqui guardo tudo que possa te lembrar. Conservo as memórias, "mas algumas coisas ficam mais bonitas quando se transformam em lembranças". E por mais que pareça loucura, por mais que seja incompreensível, "Mas foi minha, essa amiga, senti esse coração, essa grande alma, em cuja presença eu julgava ser mais do que era, por que era tudo o que podia ser" e isso é o que importa. 

Estou aprendendo que independente do quanto estude, do quanto leia, do quanto pesquise, a realidade sempre te surpreenderá. Quando me deparei com a situação descrita por tantos autores, a circuntância comentada por diversos professores, não pensei, apenas senti. E é no sentimento que pretendo viver e compreender o que me acontece. "Geheimnis".

"Por algum tempo, eles poderiam ter andado juntos sobre o mesmo trilho. Mas nunca seriam esmagados pelo mesmo trem."

P.S: Citações dos livros que partilhávamos como queridos: Os famosos e os duendes da mortes e Os sofrimentos do jovem Werther. E a música De mais ninguém de Marisa Monte que para mim é especial.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Para Nathália Lins, minha cobaia.

Acabou. Finalmente, mas infelizmente, acabou. Só penso agora em como ficar sem, como vai ser sem. Minha cobaia, minha única cobaia. Ela se libertou. Ela se foi. Estava demasiado difícil. Eu sei. Eu entendo, mas dói, dói tanto. Você vinha tropeçando, a gente vinha tentando. Driblamos tantas pedras, pulamos tantos buracos, mas há abismos inevitáveis. Eu sei. Eu entendo, mas dói, dói tanto.

Com quem agora irei falar dos jogos de vôlei e dos jogadores? Para quem irei mandar msgs de natal estúpidas? Com quem irei falar de estupidez? Quem entenderá? Quem me entenderá ? Com quem poderei ser?

No domingo me disse que estava feliz e agora sei o por que. A muito tempo que vinha lutando, suportando, tentando, vencendo, perdendo, morrendo, até aqui. Eu sei. Eu entendo, mas dói, dói tanto. A quem recorrerei para falar daquilo que nem mesmo eu entendo? Quem vai me fazer respirar de novo quando o ar faltar? Tudo parecerá tão vazio agora. Tudo terá menos cor. Aquela promessa não pude cumprir. Aquele presente ainda está aqui, não tive tempo. Não tivemos tempo. Também não cumprisse aquela promessa. É difícil acreditar que o mundo ainda vai continuar a girar sem você aqui.

Depois que te conheci nunca mais fui a mesma, ou melhor, depois que te conheci pude ser eu mesma. Ninguém entende. Ninguém entenderá. Estava na hora, você sabia, eu não. Sim, tem razão, continuarás a viver nos corações daqueles que te amam. Amaram. Amarão. É, terei que acordar todos os dias sabendo que a vida continua, a minha, não mais a tua. Vai, que a paz, finalmente, espera a ti. Eu sei. Eu entendo, mas dói, dói tanto. Não dá para acreditar no que meus olhos viram. Meus ouvidos devem estar malucos. Eu sabia, já sabia, desde o primeiro esboço eu soube, mas não podia acreditar. Queria ter sido melhor. Deveria ter feito melhor e esse espaço vai sempre ficar aberto, pois eu não segurei a corda. Ela escapou pelos meus dedos.

Desculpa ser egoísta. Sei que para ti as coisas não davam mais e isso vinha de muito tempo, mas sou humana, tu também és. Eu sei. Eu entendo, mas dói, dói tanto. Simplesmente fechou os olhos.

Lembro de um episódio do seriado Oz, onde um dos prisioneiros conta a outro após ter perdido o filho sobre um amigo que perdeu um braço. Esse amigo lhe dizia que o mais difícil era sonhar toda noite que ainda tinha o braço e quando amanhecia o dia e abria os olhos precisava se acostumar com a realidade novamente. Uma batalha contínua.

Citasse nosso livro predileto e uma das nossas citações prediletas também:

"algumas coisas ficam mais bonitas quando viram lembranças" 

Desculpa, mas nesse caso, ela não se encaixa. 

Geheimnis!

É mais do quê saudade, é um vácuo. Para sempre minha cobaia.

PS: Já não posso dizer que não conheço a morte e que nunca perdi alguém que amei.  


E quando nos vejo assim até consigo sorrir.


sábado, 28 de julho de 2012

Emudecer

Procuro a multidão com o intuito de encontrar o silêncio.
Busco o barulho tentando obter silêncio.
Vou a festas com músicas altas atrás de não ouvir mais nada.
Eu quero o ensurdecer que todos os sons possibilitam ao meu ser.
Desejo o silêncio que há nas conversas alheias.
Esse silêncio que conforta, alivia e mascara.
Um calar-se de dentro.
O silenciar-se da alma.
No encontro com outros não busco palavras, quero o silêncio.
A tão sonhada paz de espírito de não se questionar.
Não se pensar, não se sentir, não se chorar.
Esse espalhar-se que te propaga e te encaixa no desencaixe.
A graça de não ter mais graça.
O ver-se pelo avesso das crenças que crer ter.
Busco isso, a sedução do não precisar ser.
Hoje quero não ter que ser.
Preciso desse silêncio que apenas o barulho pode me dar.
Hoje deixarei a mim dissipar-se entre todos, entre alguns, entre nenhuns.
Quero o silêncio da batida dos pés da multidão.
Quero o meu silêncio.
Vou silenciar-me.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Solúvel Eu.

Quanto mais eu me espalho, tanto mais me envolvo, mais eu me perco. Me dissolvo feito sal em lágrima quando estou com. Quanto mais com mais sem mim. Perdida em mim. Perdida de mim.

Evaporo-me feito ar nos poros do estar. À procura de se perder entre tantos caio nos barrancos de minha alma e fico lá. Sem esperar, sem querer, sem tentar.

No meio de alguns sou nenhum. Sou massa espalhada pelos braços e abraços, e sorrisos enfeitados. Palavras soltas sobrevoam na estranha comunhão de corpos que não se tocam. Corpos que verdadeiramente não se tocam. Enrroscam-se sem ter ideia do que os enlaçam. Corpos que se tocam e apenas toque, nada mais.

Nesse caldeirão viro mistura. Nesse mar sou espuma, pois quanto mais me espalho, tanto mais me envolvo, quando mais estou com, mais eu me perco, mais eu me esqueço.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A terapia de todos os dias.

A um bom tempo venho pensando sobre psicoterapia. Como faço psicologia converso com meus amigos bastante sobre isso e outros assuntos e uma coisa que nos inquieta é quando alguém nos pede para explicar o que é terapia, o que acontece, como é. Nós não nos contentamos com a celébre resposta: Faça e descobrirá. Para nós não é tão simples e também não é tão complicado. 

Quando enunciada tal palavra a primira imagem que vem a cabeça é a do psicoterapeuta, do espaço terapêutico e a do cliente/paciente. Podemos dizer que essa tríade dá base para o entendimento do que seria uma psicoterapia. No entanto,  não a acho suficiente e talvez seja equivocada. 

Penso em terapia como transformação, como reflexão. O pensar de si em si. É algo que vai além das paredes da clínica e que independe dela. Acredito que seja um erro restringir esse processo a uma sala. Seria enganoso e perigoso essa linha de pensamento. Colocaria os profissionais em uma situação pretensiosa, pois seriam mais que fundamentais, seriam determinantes para o desenvolvimento do processo, o que não é verdade. E os clientes poderiam depositar suas crenças e energias em alguns minutos ou horas por semana para pensar e refletir-se dentro de um ambiente seguro e transformador, o que não deve ser verdade.

Não digo aqui que minha profissão é irrelevante. Que um espaço terapêutico é insignificante. Ambos são importantes para possibilitar ao cliente um olhar diferenciado, uma escuta acolhedora, uma fala refletora que pode dá a oportunidade para que ele pense em si e na sua história de maneira mais clara e responsável. Porém, a terapia pode e deve acontecer na ausência dos dois primeiros. Terapia ocorre na vida, no cotidiano, nos sonhos, no dia-a-dia. Em cada gesto, nas decisões, nas mudanças, nas dores e alegrias, nas conversas e no silêncio, no pensamento que liberta, desilude e ilude novamente.

Somente quando o indíviduo consegue pensar em si mesmo que se pode dizer que está acontecendo uma psicoterapia. É um pensamento que o move, que promove mudança. É algo singular, único, pessoal e independente. Somos, nós terapeutas, facilitadores, acompanhantes de uma jornada, ativadores de um processo que se dá no interior de cada sujeito. Terapia é quando alguém consegue lidar com suas questões indepentemente, sem se amarrar a um protetor ilusório e detentor do saber. 

Esses fatores podem ocorrer com alguém que jamais procurou um profissional da dor. Alguém que não faz idéia do que é uma psicoterapia. O ser humano está em constante mudança. O mundo é seu espaço terapêutico. A vida é seu terapeuta. Alguns esqueçem disso e às vezes é suficiente lembrá-los. Outros não sabem lidar consigo e com nada disso, no entanto nunca é tarde para descobrir. Ampliar as fronteiras e destituir de nós o poder de prover psicoterapia para os outros é fundamental para que ela passe a ser reconhecida como um processo natural do humano. Basta que cada um passe a se responsabilizar por sua história. Perceber a si em si. Todos os dias e a todo instante existe alguém passando por um processo terapêutico sem fazer ideia disso.

Para alguém que ainda não é...

Para mim você ainda não existe. Nesse instante você não é real. E isso se deve ao fato de não ter sentido seu cheiro. Não vi seus olhos brilharem. Não pude ver os músculos do seu rosto se esforçando para esborçar um sorriso. O barulho que sai da sua boca não chegou aos meus ouvidos. A textura da sua pele é desconhecida pelo meu tato. Ainda não o acalentei em meu braços. Não sei do seu choro. Nunca pude conter suas lágrimas. O tamanho dos seus pés. O comprimento das suas mãos.O peso de seu corpo. O jeito de dormir. Poder observá-lo descobrir cada detalhe de si e do mundo. Nada disso para mim é real.Você ainda é uma ilusão. Uma ideia. Um sonho.

Tenho medo de desfrutar da realidade por breves momentos e ter que ver tudo ruir. Pois, não poderei mais me esconder atrás das fantasias. Terei que lidar com o fato de nada ser como imaginei que poderia. Terei que encará-lo, irei sentí-lo e ver minha imaginação perder forma. Tenho medo de vê-lo, pois não saberei ter que adaptar meus desejos e vontades a essa situação. E é assim que as coisas são. Continuo sonhando.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

As magricelas

E lá vai ela, a menina magricela com suas pernas finas e a pele amarela.
Corre por aí sem se preocupar com o tempo.
Brinca de bola, pipa e peão.
Cabelos soltos, roupas largas.
Olhos castanhos e saltitantes.
Não sabe o que vem pela frente.
Não se importa com o que passou.
Sente apenas o presente.

E lá vem ela, a mocinha magricela com suas pernas finas e a pele amarela.
Corre por aí se preocupando com o tempo.
Já não brinca de bola, pipa e peão.
Pensa em química, matemática e no Gustavo.
Cabelos amarrados, roupas apertadas.
Olhos castanhos e vibrantes.
Não sabe o que vem pela frente, mas espera por tudo.
Não se importa com o que passou, mas tem medo do que irá deixar pra trás.
Sente o presente, porém tenta ver além.

E cá está ela, a mulher magricela com suas pernas finas e a pele amarela
Corre por aí lutando contra o tempo.
Jã não brinca.
Pensa nas contas, no trabalho e na família.
Cabelo curto, roupas arrumadas.
Olhos castanhos e cansados.
Não sabe o que vem pela frente, mas planeja tudo.
Já se importa com o que passou.
Sente o presente, o passado, o futuro.

E no passar do tempo
Vê seu tempo passar.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Olá! Boa noite.
Deem licença agora que vou recitar-me.
Falarei da alma
Discursarei sob o corpo
Comentarei das vestes que iludem os moços.
E o que cobre o rosto?
Relatarei também.
As máscaras, as marcas, as farsas
Revelarei sem desdém.

Com medo, com senso e sem consenso
Direi o que não ouso.
Na covardia que os versos escondem
Serei coragem oculta.

E não sou culta para fingir valores.
Por isso, meus amigos, com licença, pois hoje vou recitar-me.

domingo, 17 de junho de 2012

Teatralizando, mascarando e vivendo.



Dias atrás participei de uma oficina de máscaras em grupo de teatro amador do qual sou integrante. Tínhamos como finalidade produzirmos máscaras de gessos no rosto de um colega e vice-versa. A experiência desse momento me submeteu a diversas reflexões. Enquanto estava sentada e o meu parceiro de grupo colocava vagarosamente as folhas de gesso sobre meu rosto procurei ficar calma. Rapidamente minha boca foi silenciada e em seguida meus olhos foram fechados. Não podia sorrir, não podia chorar, nem fazer movimentos bruscos. Diante de tal situação busquei concentrar-me no que estava sendo feito e meus pensamentos alçaram voo. Fomos solicitados a pensar no conceito de persona e como um gatilho ativou minhas ideias e meus sentidos para tudo o que estava sendo vivenciado ali.

Recordei-me das aulas sobre a teoria junguiana e o conceito de persona. Lembrei-me também de Winnicott e o falso-self. Notei que quem estava a montar minha máscara não era eu, mas sim um outro. Ele moldava o gesso aos traços do meu rosto à sua vontade e aos limites da minha face. Ela seria o resultado do nosso encontro e o produto seria fruto de nós dois.

 Várias camadas foram colocadas sobre minha pele. A primeira foi fria e causou desconforto, mas logo me adaptei, pois era leve. As seguintes iam se destacando em relação ao peso, porém o frio não era tanto e estava mais acostumada com a sensação que elas proporcionavam. Ao longo do processo sentia-me mais afastada, mais interiorizada. Algo estranho estava se formando no meu rosto, destacava-se, distanciava-me. Já não estava mais a vista. Escondida sob uma montanha de gesso sentia-me a vontade, arrisquei até uma dancinha com os braços, claro que com cuidado para não machucá-la.

Com o passar do tempo tive que me concentrar na respiração. O peso era algo que chamava bastante atenção. Às vezes ficava ansiosa. Sentia-me presa. Voltava os pensamentos para a respiração e procurava confiar no meu colega. No entanto, ele cometeu uma falha: estava tampando meu nariz. Quando adicionou mais uma camada a essa região percebi que aquela pequena passagem de ar foi interrompida e comecei a sufocar. Passei a respirar com mais força, mas não havia ar. Os outros integrantes perceberam e após poucos segundos abriram um pequeno buraco e pude respirar novamente. Contudo, nesse meio tempo não fiquei nervosa. Respirava fundo para tentar abrir uma passagem pela lateral e esperar alguma solução. Pensava apenas em não arrancar a máscara naquele momento, pois a estragaria. Ela já pertencia a mim e eu a ela.

A fase final do processo foi particularmente interessante. Outro membro do grupo veio ao meu ouvido e sussurrou uma série de frases. Pedia que fizesse alguns movimentos com o rosto, que tocasse calmamente a máscara e sentisse que aquilo não era mais eu, era qualquer outra coisa criada a partir de mim. Foi aos poucos a soltando de minha pele e disse que da mesma forma que a construí poderia me desfazer dela, não pude me conter e as lágrimas rolaram.

Pensando em como se dão os relacionamentos na sociedade e o desenvolvimento da personalidade humana, essa experiência que descrevi é um reflexo desses pontos. O convívio social exige de nós alguns artifícios e estes nos ajudam a nos adaptarmos ao mundo e às suas regras, valores e crenças.

A máscara no teatro tem várias funções e entre elas está a de preservar o ator dos olhares do público podendo ele observá-lo livremente. Esse instrumento desrealiza a personagem, pois introduz um elemento estranho entre o ator e o espectador que interfere na identificação deste com aquele. Ela é usada frequentemente quando a encenação busca evitar uma transferência afetiva e distanciar o caráter e será apenas no conjunto da encenação que seu uso fará sentido.

        No cotidiano, assim como no teatro, nos valemos de máscaras que colaboram para a vida social e preservação do nosso eu. É completamente saudável e compreensivo o uso destas. Contudo, quando se trata do humano nada é tão simples quanto parece. Aquilo que um dia foi saudável e colaborativo pode se transformar em um empecilho para a vida social e pessoal. Caberá a cada um saber utilizar sua mascará de forma que não se venha perder por trás dela ou confundir-se. Ela pode e deve sair do rosto quando for conveniente. É fundamental saber retirá-la e fazer cenas com o rosto nu.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Palavra corpo.

Em cada pulo uma gota de suor caí ao chão.
Em cada salto uma gotícula se dissipa no ar.
Seu corpo cansa, dói, seu corpo ri.
A energia flui.

Os ossos são estralados.
Gemem.
Dançam.
Como nós, são desenrolados.

A respiração desce e sobe
Falta e sobra
Prende e solta.

No movimento parasse tudo.
O que há dentro escorre pelos braços, testa e busto.
No bater dos pés ouvisse o que estava mudo.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Agulha de Bússola

E no compasso acelerado de meus passos fui em busca de uma poesia.
Seguindo o ritmo das batidas do coração procurei uma rima.
Com suor tentei misturar lágrima e encontrar algo doce.
Pensei que os movimentos das pernas poderiam cessar os pensamentos.
A dor do corpo cansado confundiria-se com o peito amargurado.
E nesse chão de barro corri todas as mágoas que o fôlego permitiu.


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Guarda interna.

Exércitos caminham dentro de mim e às vezes eles brigam entre si. Quando estão em acordo não há ninguém mais poderoso do que eu. Eles são suficientes para fazer minha guarda. Não é necessário ajuda de fora. Por dentro estou uma muralha, uma barricada é feita e nada pode atravessá-la.

Eles não ganham todas as batalhas, admito. No entanto, lutam bem na guerra. Já tiveram que recuar algumas vezes, pois o inimigo era demasiado forte. Recompunham-se e voltavam mais poderosos. Recusaram algumas lutas também. É necessário mais do que força para permanecer ativo em tempos sombrios de guerra. 

Teve momentos que a única saída era se render ao oponente. Servir a outro reino. Isso manteve muitos soldados vivos. Entregar-se para não sucumbir.  A sobrevivência vem à frente da honra, por mais que não se queira aceitar. Não há como resgatar a dignidade estando morto.  Adaptar-se diante de uma derrota eminente é a única forma para se manter no jogo e tentar, quem sabe, uma revanche em um momento que as forças estejam restabelecidas e mais resistentes.

Existem revoltas dentro de um exército. Por mais unido que seja há discordância de ideias entre aqueles que o compõe. Nessas circunstâncias ocorrem algumas baixas. É preciso exterminar os rebeldes ou, um novo comando se estabelece. Nesses instantes é preciso aliviar a pressão. Os olhos são uma boa saída. As lágrimas são o sangue dos guerreiros. Nessas situações muita coisa muda.  Algo se torna diferente. Porém, sempre haverá exércitos caminhando dentro de mim. 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Dê-me o nada.

É inimaginável. É impensável. Não dá para articular palavras e estabelecer um sentido sobre tal questão. Será que não vê que o que fala é tão despropositado que chega a ser engraçada tal colocação? Como? Diga-me como pode ser possível a aparição de algo que nunca existiu? Não há possibilidades de reavermos o que jamais tivemos. É melhor aceitarmos a nossa condição de não sermos e deixar para trás aquilo que poderíamos ter sido. 

Pense bem, imagine olhar nos meus olhos e vê o abismo que nos atravessa. Dividir um abraço e perceber a frieza de nossa pele. Observar que dos lábios saem palavras que nada dizem. Notar que entre nós dois nada há. Sorrisos artificiais e lágrimas escondidas. Por favor, não nos obrigue a passar por tal constrangimento. Por que tentar ir além dos limites? Chega. Eu desisti. Não quero mais ter que esperar. Não há o que esperar. O que vem do seu lado sempre é o nada. Não saberei receber alguma coisa. Fique. 

Imagine eu ter que olhar nos seus olhos e ver que minhas fantasias não findaram. Pense em como seria reacender em mim a esperança de um dia ter aquilo que nunca pude. Como seria sentir o afago? Como seria ter uma lembrança em que pudesse apoiar meu discurso? Não posso. Não aguento. Tenho medo. Não é possível. Isso é inimaginável. Não há nada do seu lado que eu queira esperar. Não posso mais esperar. Por favor, não force meus limites. Não me peça mais. Desisti. 

Não saberia ter aquilo que sempre quis. Nesse momento não posso me perder no seu sorriso e me afogar na possibilidade de sonhar. Eu desisti. 

sábado, 17 de março de 2012

É com você.

Ficar próxima, mas não muito.
Ficar distante, mas não tanto.
Qual a medida certa para prevenir decepções?
Não sei.

Nessa confusão métrica fico suspensa.
Em eterno balanceio procurando o ponto de equilíbrio.
Já me disseram que não é possível.
Mas, não posso deixar de acreditar.

Permaneço assim buscando.
Nunca encontrando.
Insatisfeita por escolha
Pois, não há o que encontrar.

Uma lição que tudo irá mudar
Terei que aprender:
Ser sozinha é condição.
Aceite-a!

sábado, 3 de março de 2012

Um ducado a mais.

Mudar custa caro. É mais fácil ficar imóvel. Repetir-se. Contudo, muitas coisas se perdem permanecendo no mesmo local. Naquele lugar que não te acolhe mais. Não cabe mais. 

O pensamento já devorou todas as possibilidades. As saídas estão marcadas, mas você não consegue continuar, pois é mais fácil repetir. 

Como ser então? 

Veja, tudo se move. As coisas ao redor não param. O vento uiva para lembrar-te que ele ainda está lá te esperando para voar pelo tempo. Use suas energias. 

Não há mais espaço para reflexão. Suas construções intelectuais não servem nesse momento. É necessário mover as pernas e olhar adiante. 

Mudar custa caro, mas a vida não tem preço. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O zombador.

Mais uma vez o silêncio vem gritar aos meus ouvidos
Não quero ouvi-lo. Não posso ouvi-lo.
Não é linguagem. É sentimento. 
Sentimento cru. 

Diante do silêncio fico nua.
Em sua presença sou.
Ele arranca minhas vestis.
Tira meu conforto.

O silêncio tira meu chão.

Decidi um dia encará-lo.
Respirei fundo e lancei de minhas entranhas
Um som que nunca pensei ser capaz de produzir.
Tudo que estava ao redor sucumbiu.

E foi então que o silêncio sorriu pra mim.
Nesse instante percebi que desde o início
Fui eu. Sempre foi meu.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O que há por detrás do dito?

Não sei por qual motivo me fere tanto as coisas que saem de sua boca. Alias, sei sim, mas é difícil aceitar. Queria conseguir lidar com suas palavras de maneira imparcial, mas não é possível. De todas as pessoas no mundo você é aquela que tem sobre mim uma influência tão grande que qualquer suspiro vira ventania. O pior de tudo isso é saber que sua força lhe é despercebida. Como culpá-la então? 

Milhares de perguntas sobrevoam minha mente no instante em que uma simples frase é proferida de sua boca. Ela surge como uma maleta repleta de significados. Vem flutuando. Procurando o alvo. Meu coração vive exposto. Não sei cobri-lo. Ela o acerta em cheio e me deixa sem ar por alguns segundos. São tantas perguntas que por um breve momento o mundo fica mudo. O pensamento preenche todas as brechas e não dá espaço a mais nada. Permaneço assim até que esse furor sentimental se acalma e consigo voltar ao chão, mas nunca do mesmo jeito, jamais sendo a mesma. Algo se perde.

Fico tentando entender que sobrecarga é esta que deposita em meus ombros. São tantas exigências, palavras incertas, culpas depositadas. O que existe por detrás de tudo isso? Sinto que fiz ou faço algo de errado. Talvez não seja eu. Você não sabe o poder que tem sobre mim. Desconhece o peso de sua gramática sobre meus ouvidos. Sobre minha alma. Sobre minha vida. Não faz ideia do esforço que faço para tentar corrigir algo imaginário. Não tem noção dos recursos que lanço mão para consertar o invisível. O indizível. Não sei pelo o quê, mas em muitos momentos sinto vontade de pedir desculpas. E a impressão de que elas não seriam aceitas.

Existem muitas coisas entre nós. Tantos nós. Quantos cortes. Cicatrizes. Silêncio ensurdecedor. Perdemos em alguma parte do percurso o sentido de tudo o que fazemos atualmente. Como reencontrar a mesma condição que nos fazia ser naturais, espontâneas? Como transformar essa situação?


Quando finalmente enxerguei, fiquei cega.
Meus olhos se negavam a perceber.
A minha visão estava nublada,
embasada, perturbada.

Quando inesperadamente escutei, fiquei surda.
Meus ouvidos não captavam mais as palavras.
Os sons se calaram.
Ficaram confusos.

Quando desesperadamente falei, fique muda.
Minha boca não aceitava mais transmitir os pensamentos.
As ideias foram silenciadas,
atrasadas, afastadas.

Quando sem querer senti, fiquei apática.
Minha alma não conseguiu aguentar.
As dores estão sufocadas,
acalmadas, fingidas.




O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...