quinta-feira, 10 de março de 2016

A vida só quer uma coisa da gente: coragem.

"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem." (Guimarães Rosa).

A primeira fez que vi essa citação fiquei chocada com a força, simplicidade e veracidade das palavras. É tão simples que dá medo. É isso, a vida só quer da gente coragem. Pense bem, quantos sonhos foram deixados para trás por termos medo de arriscar? Quantos nãos foram calados por temermos as consequências? E haja desencontro e insatisfação. "Viver é um risco e eu tenho medo do perigo", já dizia Leoni. 


O tempo fica encarregado de nos mostrar o quanto a vida não nos pede autorização para romper nossa rotina e transformar nossos planos. Seguíamos ali, seguros, tranquilos e de repente "O correr da vida embrulha tudo". Ficamos confusos e perdidos. Precisamos reconstruir. Precisamos recriar. Como continuar frente a essa bagunça? Como prosseguir se nossos planos foram desorganizados? O que fazer agora? Hajam dúvidas. Haja medo. Será preciso coragem para sonhar novamente. Para acreditar novamente. Para seguir com novas perspectivas.

E ficamos assustados, pois percebemos que não estamos seguros. As coisas não são assim tão certas e seguem um caminho centrado. Nossa ilusão acabou, porém, parece que a vida pede que nos iludamos novamente pra continuar. Ela pede que a gente acredite quando perdemos a fé. Ela exige coragem quando estamos arrasados. A gente vai precisar a aprender a suportar e ultrapassar as dificuldades, pois "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.".

Por mais que não pareça estamos sempre em contato com coisas novas. A vida é um repleto encontro com a novidade. Não há como fugir disso. Notamos que chega um momento na nossa história que não dá mais pra repetir. Ela exige inovação. Diante do novo não temos respostas imediatas e pré-moldadas. Será preciso tempo, paciência e aceitação com as possibilidades de erros e decepções. Chega um instante na nossa caminhada que precisamos mudar o passo, o ritmo, pois não dá pra continuar da mesma forma. "O que ela quer da gente é coragem."

Ah, o quanto precisamos de coragem. Ela é o ponto de partida para tudo. Através dela tomamos decisões, aceitamos as consequências e reorganizamos nossos dias. Experimentamos novas formas de viver que sejam mais satisfatórias, encaramos as falhas, ultrapassamos as vitórias e assumimos nossos desejos. Coragem não para enfrentar a vida, pois não estamos numa batalha com ela, mas coragem para caminharmos ao lado dela de mãos dadas, passando por tudo o que vier no caminho e continuando apesar dos obstáculos.

sexta-feira, 4 de março de 2016

O Quarto de Jack.

Quem não assistiu se prepare, pois lerá algumas informações que podem prejudicar a surpresa sobre o filme.


O Quarto de Jack é um filme de extrema sensibilidade. Acompanhamos a situação de cativeiro de Joy, a mãe de Jack, que foi sequestrada aos 17 anos e vive nessa situação a 7 anos. Quanto a Jack, que possui 5 anos, não há sofrimento por viver isolado em um quarto de 10m², muito pelo contrário. O que assistimos é uma criança saudável que acredita que o mundo se resume a aquele quarto e mesmo com dificuldades tem uma vida feliz, alegre e repleta de sonhos.

Acredito que esse é o ponto mais complexo do filme. Jack, não vive em sofrimento por suas condições de vida. Com amor e dedicação, Joy conseguiu criar uma atmosfera de saúde no meio do caos e da dor. A criança é preservada. Mesmo nesse ambiente recluso o garoto tem uma criatividade imensa que o ajuda na leitura de mundo e a transformar seu universo. É possível constituir uma relação saudável dentro de um ambiente de imenso sofrimento. 

É fundamental salientar que o mundo de Jack se resume ao quarto. Tudo que ele se relacionou na vida foi com os instrumentos que existem no quarto. Mas, Joy sabe que o mundo é muito maior e começa a ter medo pela segurança do filho e assim, arquiteta um plano para a fuga. 


Fora do quarto as coisas tomam novas dimensões. Jack precisa se adaptar a tudo e todos. Joy, também. Para Jack a saída do quarto foi abertura para um mundo de possibilidades, novidades e desafios, as vezes assustava e ele questionava não poder voltar pra casa, sim casa. Já para Joy a saída do quarto foi encarar um mundo de perdas e lutos. Perceber o quanto as coisas mudaram e se questionar sobre a vida que perdeu, a história que foi interrompida. Haja dor. Pois, o cativeiro não era e nunca foi sua casa e sua casa, não era mais a mesma e nem ela.
 


O que aprendi com esse filme foi o quanto o ser humano se constitui de fato em relação, e mais do que o clima do ambiente, são as relações que transformam e nutrem nosso ser. O amor, o respeito e a compreensão são fundamental na formação de uma subjetividade. Não venha mais me falar de ambientes tóxicos, o que existe são relações tóxicas, como por exemplo, a repórter sem noção que entrevista Joy - que ódio daquela mulher DOENTE.

Para fechar um pequeno diálogo:
- Eu não sou uma boa mãe.
- Mas você é a mãe.












em meus olhos atirei lágrimas
chorei palavras entaladas
fui mágoa
virei cachoeira
renasci em pôr do sol
sou entardecer

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...