sábado, 16 de janeiro de 2016

Eu não leio poesia.

Adoro poesia. Não, eu amo poesia. Gosto de escrever, alias, a escrita é vida pra mim. É por onde construo meus sentidos. Porém, pode espantar um pouco alguns, quando digo que não leio poesia. Na verdade, quase não conheço poetas. Minha leitura nesse segmento é bem pobre. É sério, praticamente não leio poemas, na verdade só li três livros (e nem foram inteiros) de poesia, As obras completas de Manoel de Barros, um pocket de Mario Quintana e aDeus de Miró da muribeca. Pronto, são esses meus livros lidos de poesia. Mas, reafirmo, eu amo poesia.

Sou apaixonada pelo o que a poesia representa. Na verdade, sou inundada e transbordo com o toque poético. Essa habilidade de enxergar o belo no ínfimo, de expressar o indizível, de brincar com os sentidos, de quebrar a rotina, de dar asas a pedra e pés para as nuvens me deixa estarrecida. Não preciso ler poesia para saber que a vida é poética ali, na poeira, na rasteira, na lágrima, no riso. A vida é poética na varanda da vizinha e no sofá vazio da sala. É poética no peito que dá leite e na mão que carrega a mamadeira. A vida é poética e não são nos livros que se encontram as poesias. Não sei como passei a gostar de poesia, já que não as li enquanto me fazia de grande.

Na verdade, acho que foi quando ia com meu padrasto buscar minha mãe no trabalho no centro da cidade e eu tinha o costume de olhar pela janela. Ficava observando as pessoas e minha brincadeira predileta era dar pensamentos a elas. Tentava captar suas expressões e seus sentimentos. Acho que passei a gostar de poesia quando minha amiga teve uma filhinha e pude colocá-la para dormir. Era pura magia fazer alguém adormecer nos meus braços. Penso que aprendi sobre poesia quando ficava brincando de espiã dentro de casa, observando minha família e seus hábitos. Deve ter sido assim. Tenho inveja dos poetas que escrevem e um dia sei que irei conseguir lê-los, mas por enquanto eu aproveito a poesia de andar de ônibus e escutar as histórias de pessoas que procuram se encontrar.



Vivemos para postar.




É comum ouvir na clínica o incômodo que os clientes sentem ao perceberem nas redes sociais o quanto as vidas dos “amigos” são repletas de emoções e felicidade, enquanto que as suas são “uma grande merda”. Para eles, notar essas diferenças traz insatisfação com o modo como andam organizando suas histórias e lhe impulsionam a buscar algo semelhante. Preocupam-se com a imagem que lançam para o mundo. Perturbam-se com os possíveis comentários que os outros possam fazer sobre quem são. 

Vivemos para postar. Nossa rotina, nosso dia, nossa vida virou artigo de divulgação. Aquele que aparece tem mais reconhecimento. É através da visibilidade que estamos conquistando respeito e afeto. Precisamos, atualmente, sermos bons divulgadores de nós mesmos. Construir uma imagem que seja comprada, ou melhor, curtida e compartilhada. Estamos mais preocupados na construção de um ideal publicitário do que na atualização de nosso verdadeiro potencial.
Cada vez mais nos afastamos de nós mesmo em busca de sermos alguém melhor (melhor pra quem?). Não podemos sofrer. Não podemos sentir tédio. Jamais podemos sentir inveja, orgulho ou raiva. Só é permitido a felicidade. A felicidade do espetáculo. Daqueles que curtem a vida. Que estão sempre sorridentes nas mídias sociais.
O homem que não assume a possibilidade inevitável de sofrer durante a vida se fragilizará e se manterá numa postura infantil diante das adversidades. O homem, hoje, parece sofrer por não conseguir escapar do sofrimento. Sofremos por não estarmos constantemente felizes e desfrutando dos diversos prazeres vendidos na contemporaneidade. Sofremos por estarmos jogados no mundo e não fazermos a menor ideia do que fazer com uma vida que não é aquela ofertada pelas redes sociais e publicidade.

Parece que no presente as pessoas estão construindo seus projetos de vida baseadas no grande espetáculo oferecido pelas mídias e, consequentemente, encontram a infelicidade por acreditarem que ser feliz é aquilo lá, que os outros sentem e não isso aqui que estou sentindo. Estamos dando à felicidade um status comercial que não se cumpre na realidade. Estamos matando a felicidade por não aceitá-la como ela é - comum e passageira.

E o que isso tem a ver com a queixa dos meus clientes? Ao se orientar por uma aparência, por um jogo de marketing, eles se distanciam de si cada vez mais, pois fogem de seus vazios, de suas tristezas, de suas invejas, de suas faltas e consequentemente da felicidade. Quanto mais eles se esforçam para serem felizes, mais tornam-se infelizes, pois suas tentativas só mostram o quanto se encontram imersos nesse jogo performático. Como reflete o poeta Rilke (2001) “Por que deseja excluir de sua vida toda e qualquer inquietação, dor e melancolia, quando não sabe como tais circunstâncias trabalham no seu aperfeiçoamento?” (p.70) e continua “Desejava algo melhor que transformar-se?” (id, p.70). 

Pense, o que de fato você deseja? E para quem você vive? O que você busca? 
 
Referência bibliográfica.
RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta e A canção de amor e morte do porta-estandarte Cristovão Rilke. São Paulo: Globo, 2001.




segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Parto

Quando meu filho nasceu,
Eu pari.
Fui puro parto.
Naquele momento vi que não havia volta.
Eu fui partida,
Ao encontro de um novo Eu.


Para todas as minhas amigas gestantes e mães.







quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...