quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

A vida é um pega-pego de olhos vendados.

Lembram-se da cabra cega? É um jogo de pega-pego onde o pega está com os olhos vendados. Os outros ficam de olhos abertos e perambulam ao redor do "cabra cega" desafiando-o. Lembro-me que existia algumas regras: O "cabra cega" não poderia ficar parado. Quanto mais ele se movimentava era melhor pro jogo. E os outros precisavam se aproximar do pega. Quanto mais eles se arriscavam no contato com o "cabra cega" aumentava a tensão do jogo. 

Uma experiência no consultório fez-me lembrar dessa brincadeira. Propus um experimento para um cliente onde ele ficava de olhos fechados e pensava sobre seus objetivos e sonhos. Na medida que ele visualizava algo caminhava (de olhos fechados) para chegar até aquele objetivo. Quando pensava na possibilidade de esbarrar em algo tinha medo. Então, caminhava com cautela e receio. Esbarrou em alguns móveis e alguns, ele até imaginava que ira aparecer em seu caminho. Notou que podia reorganizar sua rota e que esses esbarrões não impedia sua caminhada. Alguns móveis ele nem imaginava e não sabia em quê estava batendo, mas mesmo assim, continuou caminhando. Às vezes nem tinha mais um objetivo bem traçado e ainda assim caminhava. Não sabia para onde estava indo e ainda assim caminhava. Aos poucos foi ganhando confiança e começou a andar mais relaxado, mesmo não sabendo para onde estava indo e o que poderia encontrar. 

Na nossa vida seguimos adiante sem visualizar o amanhã. Caminhamos pela vida como o cabra cega, desejando, almejando, idealizando, porém não temos a visão do porvir. Temos apenas que confiar e ter coragem para ir. É angustiante não ter a plena certeza e segurança do que virá. Ficamos receosos e apreensivos. Queremos prever. Às vezes achamos melhor esperar do que ir buscar, mas lembrem-se do cabra cega. É muito chato quando o pega fica apenas de prontidão esperando. A graça está na busca. Em quando ele sai como um zumbi com braços estirados e sedentos atrás do nada. É nesse momento que ele amplia suas chances. A sua busca é um convite para as outros irem interagir com ele. A sua espera diminui o ritmo do jogo e desmotiva. Saí o grito de reivindicação: "Ah! não pode. Fulano tá roubando. Tem que vir atrás." Sim, na vida não podemos parar e esperar. A vida exige busca, caminhada, movimento. Na vida caminhamos e de repente, esbarramos em algo que não havíamos pensado. Em alguns momentos precisamos mudar o percurso, ficamos confusos, as vezes nos machucamos, cuidamos disso e seguimos. Sempre seguimos. Quanto maior a insegurança, maior é a tentativa de controle, já dizia Frederich Perls. As nossas brincadeiras na infância contribuirão para os nossos processos enquanto adultos. Aquele brincar nos ajudará a estruturar e fortalecer as bases da nossa personalidade frente a desafios e adversidades futuras. Nunca pensei que a vida, no final das contas, seria uma grande brincadeira de Cabra cega. E cá estou eu (estamos nós) seguindo com os olhos vendados e algumas coisas consigo agarrar, outras deslizam sobre meus dedos, outras nem percebo, alguns esbarrões, tropeções, pancadas, quedas e ainda estou aqui, indo, visualizando internamente o meu caminho, os meus sonhos, porém, sem ter a plena certeza de que as coisas se darão como meu desejo constrói. Enfim, sigo.

Andreza Crispim
Psicologia Clínica CRP 02/17314
Psicomotricidade Relacional
@psicoterapiafalemais
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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Psicoterapia é espaço para falar os silêncios. De expor, o que geralmente, decidimos calar, evitar, guardar, esconder e dissimular.

A psicoterapia é espaço de calar o discurso comun que usamos no nosso cotidiano para administrar os afetos e as relações. Descobrir outras maneiras de expressar nossas emoções e perceber o que fica encoberto pelo receio de sofrer.  

Psicoterapia é lugar de enfrentamento. Encarar a nós mesmos. E acolher, sim acolher, sobretudo acolher, nossos infortúnios, nossas fragilidades e vulnerabilidades.

Sobre política, fronteira de contato e identidade. Sobre o direito de existir.


Somos indivíduos únicos e singulares. Somos a soma de nossas experiências de vida e a maneira como percebemos e lidamos com esses eventos. Quando falamos de subjetividades não falamos em igualdades, falamos em semelhanças, e na semelhança incluímos, inevitavelmente, a diferença. Então, é a diversidade de nossas personalidades que nos define. É, graças as diferenças, que construímos nossas particularidades. Sem a diferenciação não haveria a identificação. Pois, na igualdade não há identidade.

A diferença é o que constitui o ser como único, e sendo único, ele procura aspectos no mundo aos quais se identifique. Ele procura por semelhanças, e as semelhanças une os sujeitos, atraem as pessoas. Como seres únicos, evitamos as diferenças, a diversidade nos assusta e tendemos a evitá-la, rejeitá-la. Dentro de nossa fronteira de contato, buscamos manter aquilo que consideramos como ponto de identificação e expulsamos os pontos de distinção. “Assim, dentro da fronteira do ego existe geralmente coesão, amor, cooperação; fora da fronteira existe suspeita, estranheza e não-familiaridade.” (PERLS, Frederick S., 1997, p.23).

Quando o sujeito sente sua identidade ameaçada pelas diferenças, ele pode escolher (de forma básica e geral) por dois caminhos, o primeiro é avaliar, refletir e questionar para integrar/assimilar novas possibilidades de ser. O segundo é evitar, expulsar, rejeitar ou até mesmo destruir aquilo que lhe ameaça. A primeira provoca uma ampliação do ser e a identidade se modifica, pois adquire novas características. É um processo difícil e necessita esforço e períodos de adaptação que perturba a “tranquilidade” do Eu. O segundo, cria um estado de tensão e desperta a sensação de perseguição, paranoia e o enrijecimento da identidade para proteger-se do que considera ser uma violência.

“Só aquilo que é capaz de perturbar meu Eu corporal é que me provoca.” (LAPIERRE, André e AUCOUTURIER, Bernard, 1985. p.20). Ou seja “(…) nós só amamos e odiamos a nós mesmos” (PERLS, Frederick S., 1977, p.26). Tememos algumas diferenças, pois a percebemos como possibilidades de Ser. Somos afetados pelas diferenças apenas quando elas repercutem de alguma forma em nossa identidade. Assim, rejeitamos ideias fascistas, pois consideramos que elas ferirão algo que amamos. Aceitamos ideias fascistas, pois sentimo-nos ameaçados por outras posições políticas/ideológicas e acreditamos, que aquelas, protegerão valores preciosos para nós. Tememos que, aquilo que consideramos diferente e perigoso, afete nossa vida, nossa família, amigos e desestabilize a base onde constituímos nossa personalidade.

Alguns, para defender aquilo que consideram precioso, lançam mão e sentem-se legitimados a serem violentos. Perde-se de vista a empatia, pois o outro se torna só diferença, e se não há nada nele que seja semelhante a mim, não questiono feri-lo. “Cada um tem do outro uma ideia falsa. (…) Já o sentimento hereditário de ser alguém superior, com pretensões superiores, torna a pessoa fria e deixa a consciência tranquila: nada percebemos de injusto, quando a diferença entre nós e outro ser é muito grande, e matamos um mosquito, por exemplo, sem qualquer remorso.” (NIETZSCHE, Friedrich. 2012, p.62-63). Não percebemos que num mesmo ponto, existem semelhanças e diferenças. Ninguém é de todo diferente e ninguém é de todo semelhante. O que odiamos no outro é apenas alguns aspectos e não ele todo. Assim, como o que amamos no outro não é sua totalidade. Em todos nós existem diferenças que nos afastam e semelhanças que nos unem. Desejar extinguir as diferenças é assassinar o direito universal de construção de identidade. Extinguir as diferenças é exterminar possibilidades de crescimento e de Ser. Repito: “Quando falamos de subjetividades não falamos em igualdades, falamos em semelhanças, e na semelhança incluímos, inevitavelmente, a diferença. Então, é a diversidade de nossas personalidades que nos define. É, graças as diferenças, que construímos nossas particularidades. Sem a diferenciação não haveria a identificação. Pois, na igualdade não há identidade.”.

E, cada lado, luta pelo direito de existir e manter sua identidade.

Andreza Crispim
Psicologia Clínica CRP 02/17314
Psicomotricidade Relacional
@psicoterapiafalemais

Referências bibliográficas:

LAPIERRE, Andre e AUCOUTURIER, Bernad. Os contrastes e a descoberta das noções fundamentais. 2° ed. São Paulo, Editora Manole, 1985.

NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres. São Paulo: Companhia das letras, 2005.

PERLS, Frederick Solomon. Gestalt-terapia explicada. 2. ed. São Paulo, Summus, 1977.


domingo, 16 de setembro de 2018

Psicomotricidade Relacional e a coragem de ser.

De 13 a 15 de setembro aconteceu o III Congresso Internacional de Psicomotricidade Relacional em Curitiba. Nesses três dias mergulhei intensamente em um universo de afeto. Vivi experiências indizíveis, indescritíveis e que escapam de uma lógica racional. Definitivamente estou imersa em emoções. Como estou tocada. Toque! Esse é o ponto de partida e o ponto de chegada. A Psicomotricidade Relacional chegou para mim no ano de 2014 e ela surge como um caminho a seguir. Ela aparece, em mim, como um objetivo. Na verdade, ela cresce como uma missão. Hoje, ela me dá sentido, direção e suporte. A Psicomotricidade Relacional despertou o meu desejo de me fazer vida.

Falar de Psicomotricidade Relacional é falar de amor. Amor puro. Amor originário. Amor que é base. Amor que constrói. Amor que nutre. Falar de Psicomotricidade Relacional é falar do Ser. Da coragem irremediável de Ser em um mundo que, pouco a pouco, vai nos sufocando, aniquilando, rejeitando e negligenciando. Ser em um mundo que está adoecido na precaridade do respeito ao próximo é campo de angústia e perda. Encarei tantas fragilidades minhas, mas principalmente, percebi tantas potencialidades. Psicomotricidade Relacional é encarar o outro na sua autenticidade e abraçá-lo nessa sua particular configuração. Psicomotricidade Relacional é perdão, é resgate de vínculo, é passagem, é fluidez, é, simplesmente, amar. Como é difícil amar e ao mesmo tempo, como é básico amar. Amar a si próprio é tão difícil. Perdoar a si mesmo é tão complexo. Cometi erros. Falhei. Ultrapassei limites. Desculpe a todos. E principalmente, desculpe a mim mesma por ter me julgado, me traído e me punido por esses erros. Por que pretendo ser perfeita? Por que volto-me para a dificuldade e puno-me pelo o que encaro como falha ao invés de valorizar e reconhecer minhas potências? Por que insisto na dor mesmo quando percebo que existe tanto carinho e amor?

No Congresso de Psicomotricidade Relacional pude nascer. Fui o primeiro bebê. Quem viveu esse momento sabe do que falo. E como eu precisava nascer. Eu tinha de estar ali. E eu tinha de ser a primeira. A vivência em Psicomotricidade Relacional é visceral. Encontrei a minha mãe. Escolhi a minha mãe. Pude ser dela, entregar-me a ela, e por um segundo, confiar nela, apesar de todo o medo que isso revela em mim. Encontrei o meu pai e o meu papai. Encontrei e reafirmei o meu irmão. Tudo isso no campo do simbólico. Não falo aqui das figuras reais. Falo aqui de um afeto. E é somente o afeto que poderá curar as rupturas no terreno real.

Em Psicomotricidade Relacional não fingimos sentimentos. Em Psicomotricidade Relacional nos atiramos e nos disponibilizamos para encontrar o outro na nossa verdade. O que cura é presença humana. O que toca é a verdade do amor. Não é uma técnica a ser aprendida. É uma técnica a ser vivida, a ser integrada e assimilada. É uma técnica que vai convocar o Ser e não o fazer. 

Sou pura imensidão. Estou extasiada. Estou encantada. Estou estarrecida. E tenho medo de tudo isso, assim como desejo e almejo, tudo isso. Existe um percurso longo. Começo a ter mais paciência e menos pressa. Vou errar muito nesse caminho. Estou aprendendo a ser. Estou aprendendo a me amar com todo o meu ser. Estou aprendendo a aceitar o meu ser. 

Quero agradecer a André Lapierre e a Anne Lapierre pela sensibilidade e coragem de ter revelado para nós esse método de vida. Sou grata a Leopoldo Vieira por sua dedicação e luta pela manutenção dessa proposta. Graça Cunha pela oportunidade e confiança no meu trabalho e por sua legitimação do meu lugar como psicomotricista relacional. Jussara por sua delicadeza em me apoiar e me guiar na minha formação pessoal (você nunca desistiu de mim). Patrícia Távora por sua presença feminina que convoca a minha feminilidade. Esquilo por seu olhar, sua espera e seu reconhecimento na minha formação pessoal.  Ao G15 que encarou e dividiu esse processo comigo. Helena e Simone por serem lindas e ensinarem para mim como ser melhor. Aline por sua coragem em estar mergulhando no seu universo particular. Vitor Garcia (Vitor gracinha, vovô!) que transbordou encantamento, amor, carinho, simplicidade, onde a sua presença humana me convida a ser mais responsável com a minha humanidade. Diogo de Miranda (aqui as palavras não conseguem abarcar) apenas por estar junto comigo sonhando e cuidando. Todas as pessoas que toquei e pude tocar nesse congresso (vocês contribuíram imensamente com a descoberta da beleza do meu ser). E, especialmente, a Ibrahim Danyagil e Ceça Gomes (Meus inestimáveis analistas corporais)  por todo amor que emanam e despertam sobre mim. A grandiosidade desse trabalho não cabe em palavras, afinal de contas, somos corpo. A Psicomotricidade Relacional está em todo o meu corpo e transborda. Perdoem-me se as vezes não consigo conter. Estou aprendendo e é necessário muita coragem para aprender a ser. Obrigada! Imensamente Grata. 

O Ícone: Desenvolvimento humano é meu templo, minha casa, meu tapete. Esse lugar é benção. Esse lugar é origem. Como essa casa estrutura meu ser.

Segue algumas fotos que talvez demonstrem o que tento descrever aqui. Proponho que percebam o olhar, o toque, o corpo, a verdade.

















Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista relacional
@psicoterapiafalemais

sábado, 25 de agosto de 2018

Imagem corporal e a bendita imperfeição dos pais.

Quando era pequena chupava dedo. Alias, dedos! Os escolhidos foram o fura bolo e o maior de todos, e os experimentava sempre que ia dormir e/ou assistir televisão. Chupei dedo até os 4-5 anos. Lembro como parei de desfrutar dos meus dedinhos. Meu padrasto não concordava muito com essa minha atividade e nem minha mãe, porém ela, no fim das contas, não se importava tanto. Eles começaram a falar das desvantagens de chupar dedo para mim: "Andreza, você vai ficar com os dedos murchos! Andreza, deixe de chupar dedo, você já é velha. Andreza, pare de fazer isso que a sua boca já está ficando feia, está enorme. Vixe, olha como tá a boca dessa menina..." Eu ouvia tudo. Até que, de certa forma, via lógica nos argumentos deles, mas preferia meus dedinhos. Foi quando, meu padrasto, já tendo me alertado várias vezes, decidiu cumprir a ameaça. Quando dormi, ele colocou pimenta nos meus dedos, e deixou ali, a espera da minha procura por eles. Bom... Dá pra imaginar o resto da história né? Foi uma experiência bem ruim e como havia a promessa daquilo ser repetido, decidi que não queria mais correr o risco de sentir aquele sabor horrível e desisti de chupar dedo(s). 



O elogio mais bonito que já recebi em toda a minha vida foi quando tinha 14 anos. Era oitava série. Até hoje lembro desse momento e me sinto acariciada. Enquanto fazia uma tarefa distraída ouvi um colega de turma dizer impressionado e encantado: "Caramba, bicho! Posso dizer pra ela?". De repente, ele me chama: "Andreza, poxa, tu num sabe o que Josué disse de tu. Eu achei incrível." Eu, um pouco insegura e imensamente curiosa, pedi que ele me contasse. Foi quando, rabico (apelido do sujeito) disse: Josué falou assim 'o que eu acho mais bonito em Andreza não são os olhos dela, mas o olhar. A forma dela olhar pras coisas. O olhar dela diz muita coisa. E eu acho lindo isso.' Nossa! Eu fiquei em êxtase. Até hoje sou muito grata por esse elogio. 

A grande questão é que nenhuma experiência na nossa vida passa despercebida (mesmo que a gente não se lembre) e não saímos ilesos na nossa história. Passei a minha infância e adolescência com vergonha de minha boca. Achava ela feia, grande, carnuda demais, afinal de contas, foi assim que ela me foi espelhada. Foi assim que a minha boca me foi traduzida no momento que eu ainda não tinha possibilidades de traduzir por mim mesma as imagens do meu corpo. A criança, inicialmente, configura sua autopercepção por meio da percepção que os adultos de referência têm dela (os cuidadores - Pai/mãe). Já, a minha relação com os meus olhos, é maravilhosa. Meu irmão, quando eramos pequenos (mais eu do que ele), dizia: "Poxa, queria ter olhos claros que nem o de mainha e o da maga (eu)" Meus olhos são pontos de identificação com a minha mãe. Nós temos os olhos parecidos. Sempre os achei lindos e fico agraciada quando alguém retribui e confirma a minha impressão sobre eles. Até hoje, confesso, que os percebo como meu trunfo, minhas estratégias de conquista e atração. Hoje, mulher e adulta, começo a criar uma outra relação com a minha boca e admito que até acho ela bonita. Hoje, mulher e adulta, venho construindo (ou será descobrindo) outra imagem sobre meu corpo (ou seria imagens?). Começo a perceber um novo corpo que é diferente daquele da infância, daquele da adolescência e daquele que me discursaram. Minha boca é grande e cabe um sorriso enorme. Fico feliz, hoje, em tê-la. 

A nossa imagem corporal perpassa por essa finas teias que se enlaçam durante a nossa história. Não culpo minha mãe e meu padrasto. Eles fizeram o melhor que puderam naquela época para me convencer a parar de chupar dedo. Era importante e necessário para o meu desenvolvimento aceitar me despedir desse hábito. Os pais se esforçam (alguns mais, outros menos) para formar (ou deformar) uma imagem que revele bem (bem pra quem e para o quê?) seus filhos. Eles não podem e não conseguirão controlar seus discursos e suas impressões. Os filhos, quando ouvem palavras demais das figuras paternas, se ligam nos silêncios. Aqueles que possuem silêncios em demasia, agarram-se às frases soltas e raras dos pais. Ou seja, não dá pra impedir linhas soltas. O que dá pra fazer é cuidar do que for se desarrumando. 

Dias atrás, li algo em Winnicott que me emocionou bastante. Ele diz que o que revela para o bebê - criança - humano o fato dele ser amado é a imperfeição dos pais - cuidadores - figuras de amor, e o quanto esses se ESFORÇAM/ESFORÇARAM para restaurar seus erros. Não é A PERFEIÇÃO dos pais que nos fala sobre o quanto somos amados, mas sim, o quanto eles tentam/tentaram reparar um erro. CASSETE! Isso faz tanto sentido.

Outra grande sacada é que na nossa história, o tempo passa, os espaços mudam e os discursos se renovam. Eu não tenho mais o mesmo corpo que tive na infância e muito menos a imagem que tinha sobre ele. A minha vida seguiu e tive tantas experiências e tantos outros discursos que pude aprender diversas versões possíveis sobre mim mesma. E, o principal, é que, pouco a pouco, estou descobrindo, aceitando e fortalecendo os meus discursos e minhas impressões sobre mim. Não estamos estagnados. Nunca! Nem quando pensamos que estamos, pois a vida sempre segue em frente, mesmo quando a gente não acompanha, ela segue e nos arrasta. 


Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista Relacional
@psicoterapiafalemais





Sentido

Há em mim um sentido que nem sempre a palavra alcança.

Há sentindo em ser quem sinto que sou.

Nos meus limites, no meu não, no meu sim e até mesmo, no meu talvez.

Há um sentir nos meus desejos, nos meus quereres, nos meus sonhos e no quanto, eu me arrisco ao me permitir sentir e ser.

Que sempre possa haver a possibilidade de construir sentido aonde meu corpo se fizer vibrar, e aonde não, que eu possa apenas estar naquilo que não me agrida.
Confiar, inovar, desafiar.

Ser cuidado. Ser cuidada. Ser sozinha. Ser encontro.Sentir é um privilégio.E nós, somos privilegiadas por abrirmos o coração, o riso e o choro.

Eu vibro em ressonância a energia que emana de nós. Nós? Não, laços! Que seja laço. Que tenha abraço. Que tenha colo. Que venha o apoio.

Afirmar, com segurança, meu ser e o quanto eu sou SENTIDO.

Ser mulher é privilégio.

O feminino é útero, é casa, é acolhimento, é nutrição, é força, é sedução e poder.

Jamais esqueçamos do potencial de prazer que existe em nós!

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Corporeidade

No corpo que sou tenho em mim uma história vivida.

Na pele que sou tenho registrado cada toque sentido e sonhado.

Nos olhos que sou guardei todos os delírios de lembranças e as imagens das palavras que me foram pintadas.

Há nos ouvidos que sou os sons, os silêncios e as pausas que ressoaram em suor, riso e choro.

Quantos abraços há em mim para trocar? Quantos passos me restam para andar?

No corpo que sou, existo! Sou presença no cheiro que transpiro e que expira a cada mover.

Sou passagem nas rugas que marcam.

Sou a cura em cada cicatriz.

Sou destruição no mastigar.

É na queda que me faço morte e no levantar ensaio o recomeço.
Renascer nos suspiros.
Embalar a dor nos soluços que escorrem.

O corpo que sou prevalece no sentir.
Sou afeto em todo gesto.
O corpo que sou insiste e persiste.
Sou corpo e nele me faço ser.

sábado, 4 de agosto de 2018

quinta-feira, 12 de julho de 2018

À casa da minha infância...

Desde pequena (bem pequena mesmo) morei em um apartamento num bairro pobre. Para mim, ele nem era grande, nem era pequeno, simplesmente, acomodava a mim e a minha família. Às vezes, ele parecia enorme e demarcava distâncias absurdas entre nós. Às vezes, ele parecia minúsculo e me sufocava. Vivi nele até meus 26 anos. Sinceramente, não sei quando comecei a morar nele. Acredito que foi por volta dos meus 3 ou 4 anos. O prédio era simples e ficava numa quadra (eu amava aquela quadra). Construí muitas amizades por lá. Antes de morarmos no bloco G, vivíamos no F (Foi a minha primeira mudança). Eu lembro que no auge da minha força ajudei meu irmão a carregar um colchão para a nossa nova casa, o bloco G. Foi nele que comecei a me perceber gente. Passei a infância, a adolescência e iniciei a vida adulta. Saí aos 26 anos. Sem olhar pra trás. Sem saudades e sem remorsos. Apenas mudei. Não sinto falta da minha casa (MINHA casa ...).

Porém, acontece um fenômeno engraçado. Sempre que sonho com casa retorno para a casa da minha infância, meu primeiro lar. Não é a casa da adultez que habito. Quando sonho é a casa da minha infância que me faz morada. Acho isso incrível! Independente do conteúdo do sonho, quando tem casa é pra lá que eu vou. Por exemplo, essa noite sonhei que estava em Serra Talhada, na casa do meu irmão, eu estava lá em Serra, só que o cenário era a querida Quadra 49 e o bloco G. Era a casa da minha infância. Aquela que foi base para as minhas descobertas. Nela vivi tantos sentimentos e aprendi sobre espaço quando me vi crescer e o apartamento diminuir (ao ponto de precisar me mudar). São 2 anos fora de lá. Às vezes, me parece 20 anos.

Diariamente não me faz falta e nem me aquece o coração pensar naquelas paredes laranjas (Isso é lá cor de se pintar casa, gente?) ou até de sentar na janela da sala e ficar pensando em nada e quase tudo. Não me abate e nem me invade as recordações daquelas escadas e os papos jogados fora por lá. Aqueles dois banquinhos debaixo do prédio já acolheram tantos abraços, risadas e lágrimas. As implicâncias do síndico com nós, crianças sedentas para brincar e correr por aquelas garagens. Aquele "quadrado" onde aprendi a namorar. A caixa d'água foi a primeira montanha que escalei. Ser a porta voz de mainha e gritar aos quatro ventos pelo meu irmão que, de repente, aparecia por detrás do prédio J ou vindo da direção do bloco D, era sentir-me poderosa e aliviada, pois eu tinha conseguido encontrá-lo (Ele vinha PUTO!). Não me faz estremecer o coração lembrar dos assovios convidativos dos amigos (que eu ouvia a quilômetros de distância) e de brincar no pequeno (quase minúsculo) terraço de casa, pois estava de castigo e não podia descer. Aprendi a modular minha força e a ser ágil, pois a bola não podia cair na pista. Beber e esconder as bebidas no nossos cantinhos secretos.

Ai! Eu não sinto falta de nada disso. Está tudo muito bem guardado em mim e não me falta, simplesmente me preenche. Não é falta. É presença. Quando falo é um gosto doce que sinto. Durante o dia, vivendo, correndo, caminhando, cuidando da vida, nem me recordo. Só que, quando chega a noite, e sonho com casa, é pra lá que eu vou. É lá que habito. É lá que sou lar. A casa da minha infância é a base dos meus sonhos.

Desassossego

Minha vida segue em linhas que não compreendo.
Não compreendo a mim nas linhas que a vida traça.
Aprendi que não se pode vacilar
e a vida me mostra que não há como permanecer sã a todo custo.
O custo que a estabilidade me cobra é muito alto.
Fui ensinada a temer
e temo o que ainda não é.
Nem só de tolices vive o homem.
Sou mistura de tudo o que foi, do que está e do que será, além do que jamais ficou.
Meus sonhos me inundam e mostram a falta por detrás da esperança.
Caminho para a busca.
A busca de cessar a procura.
A procura de nunca ser fim.











segunda-feira, 28 de maio de 2018

Zodíaco

Sou touro
Sou terra
Sou firmeza sob os pés
Sou fertilidade
A cabeça cria
Os pés sustentam
Meus braços abraçam
a construção
Minhas lágrimas limpam a ruína
As mãos carregam os sonhos

Sou touro
Eu luto
Eu rendo
Sou força
bruta fina flor
nesse corpo de mulher
E fera no coração
quente e frágil
que esfrio por ter medo do desamor.



quinta-feira, 10 de maio de 2018

Descompasso

As mentiras que finjo ser na esperança de proteger seu amor.

*

Quantas palavras são necessárias para esgotar um vazio?

*

Estou abastecida de saudade. Sinto falta das minhas incompletudes.

*

Sou retalho de lembranças que ecoam num corpo mal amado.

*

No meu luto, luto para não esquecer. Esquecer é a verdadeira morte.

*

É no fundo do seu olhar que percebo que existo e nele dignifico minha existência.

*


quarta-feira, 2 de maio de 2018

No meu tempo de escola...

Quando eu era pequena minha mãe trabalhava de segunda à sexta das 9h até as 18h. Para chegar ao serviço no horário ela tinha que sair de casa por volta das 7h40 e só chegava em casa por volta das 19h30. No sábado ela ainda trabalhava meio expediente. Sua folga era aos domingos que íamos à praia SAGRADAMENTE para que ela aproveitasse seu dia. Era uma rotina cansativa que não cessava quando ela chegava em casa, pois ainda havia os afazeres domésticos para cuidar, dois filhos para criar e um marido para zelar.

Dito isso quero confessar que minha mãe nunca me ajudou nas tarefas escolares. Ela não sentava comigo à mesa e me ensinava a lição. Minha mãe não corrigia minhas atividades e nem revisava os meus exercícios. Na verdade, as vezes ele nem cobrava sobre a realização dos mesmos. Sei que na minha época escolar a maioria dos meus amigos e amigas não tinham os pais como colaboradores da hora de fazer "as obrigações" escolares. Alguns os pais até cobravam, procuravam saber na escola sobre o desempenho do filho(a) e em casa ficavam atentos às atividades das crias, porém não sentavam junto para fazer com eles os deveres.

Hoje, como psicóloga, observo um movimento diferente por parte de muitos pais. É bastante comum ver a presença e participação ativa dos pais quanto ao suporte dado na realização das atividades escolares de seus filhos. Eles respondem juntos, revisam e até corrigem com o(a) filho(a) antes do dia de aula. As tarefas escolares, em algumas casas, deixaram de ser atividades da criança/adolescente, para virar um evento em família.

Na minha infância a escola era o meu espaço, era a minha responsabilidade e lá eu vivia uma diversidade imensa de sentimentos. No colégio comecei a construir uma vida independente dos meus pais. Ali, era o meu lugar, onde eu ensaiava meu ser e lidava com as minhas emoções sem a presença ativa dos meus pais. Era assustador e também era libertador. Claro que a escola dialoga com os pais sobre a vivência das crianças e adolescentes dentro de suas paredes, mas é IMPOSSÍVEL ter o controle total. Então, a escola é aquele lugar onde a criança/adolescente precisará tomar atitudes sem ter o suporte direto dos pais (Pense em um bagulho louco...).

Como já disse, eu fazia (ou não fazia) as minhas tarefas sozinha. Ao chegar na aula precisava lidar com variadas situações. Quando cometia erros na lição enfrentava a vergonha, a decepção e a frustração. Às vezes, precisava manejar a inveja, pois havia colegas em sala que acertavam tudo ou mais do que eu. O sentimento de fracasso e ineficiência me invadia. Respirava fundo. Não eram sentimentos bons, fáceis porém, fundamentais de serem compreendidos e manejados. Na próxima vez ficava mais atenta à tarefa e tentava acertar mais, ou desistia e recorria a outras estratégias de "efetivação das lições de casa". Enfim, era necessário aprender a conviver com aqueles sentimentos.

Havia momentos que a tarefa estava impecável. Acertava TUDO. Ai, que delícia! O sentimento de sucesso, de competência e eficácia invadiam meu ser. Era incrível. Também era fundamental aprender a manejar essa gostosura de cenário emocional. É perigoso se perder na arrogância e desejar manter esse padrão alto é estressante, inconsistente e fragilizador, pois, logo em seguida a escola me ensinava que haveria o erro. O erro era inevitável. E lá estava novamente lidando com minhas frustrações (Droga!). O sucesso e o fracasso eram meus. Só meu. Eu assumia cada escolha e cada desdobramento.

Será que hoje com a participação ativa dos pais as crianças e os adolescentes estão tendo a oportunidade de se responsabilizarem por esse universo emocional? Será que essa presença dos pais está reforçando a dependência ou estruturando a base para uma autonomia posterior? Até que ponto os(as) filhos(as) não utilizam as tarefas escolares como oportunidade para se relacionarem com seus pais, pois percebem que nesse cenário há mais facilidade? Até que ponto as crianças e os adolescentes utilizam a participação dos pais nos deveres escolares  como forma de evitarem assumir suas escolhas e sentimentos? Você, como pai e mãe, percebe que usa a hora da tarefa como forma para se aproximar de seu filho(a)? Você descreve seu filho como autônomo ou dependente e qual a sua contribuição para a manutenção dessa característica?

São tantos os desdobramentos possíveis. Não há resposta certa ou errada. Cada realidade, cada relação desenvolve seu próprio universo. Penso que vale a pena refletir.
Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista Relacional
@psicoterapiafalemais

quarta-feira, 28 de março de 2018

Sobre terapia, pressa e esperança.

Escolher procurar por um psicólogo não é fácil. Iniciar uma terapia exige um processo anterior de aceitação e superação de idéias pré-concebidas. Existem diversos preconceitos com o trabalho do psicólogo, em especial, a psicoterapia/terapia. Buscar esse serviço indica a ultrapassagem dessa primeira barreira: o julgamento alheio que envolve o fazer clínico em psicologia. Quem nunca achou estranho quando alguém fala que vai à terapia? Pensamos logo em "Loucura, sofrimento e fragilidade". Nem sempre nessa ordem e nem sempre o pacote todo. Porém, esses conteúdos perpassam o nosso imaginário ao falarmos de psicoterapia.

Ok! Geralmente, devido a isso, quando o sujeito decide procurar por terapia ele está no seu limite. Ele vive o insuportável. Encontra-se transbordado, sufocado e exausto. O cliente chega com o sentimento de emergência e quer urgência, pois não aguenta mais. Ele tem pressa e nesse ponto encontramos um impasse. Na sua grande maioria as dificuldades vividas no processo terapêutico se dão pela necessidade de urgência que os clientes chegam ao consultório. A angústia está intensa e pede pressa.

Contudo, para a psicoterapia é preciso paciência. Aqui, não há pressa. Terapia exige tempo e não tem certezas. Ela maltrata os ansiosos por não ter respostas prontas e garantias. Chegar ao consultório pedindo por pressa é constatar uma limitação e se deparar com a frustração. Não é nada simples. O terapeuta que entrar na pressa do cliente perde a potencialidade da terapia e o processo empobrece. Eu cuido bastante da minha ansiedade pra que ela não atrapalhe a temporalidade do processo terapêutico. E admito, às vezes, ela me confunde. 

Psicoterapia pede tempo e espera. Eu diria esperança até. Esperança no movimento, esperança na dor e esperança na capacidade do cliente de enfrentamento. Às vezes eu penso: "Se essa pessoa aguentou até aqui, então ela tem uma força gigantesca e vai suportar o processo de espera da terapia.". Caso contrário, irá procurar por soluções mágicas, velozes, prontas, práticas, sem sofrimento e desistirá da terapia, pois não trabalhamos com esses modelos. Terapia não anestesia. Terapia revira, procura, remexe, reabre, e trata, não para se alcançar um estado de "cura" , e sim para se aprender o "o quê" e "o como" estamos nos "adoecendo". Passamos a tomar consciência dos nossos processos de bloqueios e impedimentos para, enfim, agirmos sobre eles e isso muda a forma como encaramos a nossa vida.

Adiantando um pouco as coisas, recomendo que busque terapia antes da urgência. Que você possa ir quando ainda puder tolerar. Que a procura surja quando as coisas não estiverem insuportáveis. Que a terapia possa vir no momento que ainda há serenidade. Garanto, que isso será algo que facilitará um pouco mais o trabalho. Vai por mim... Ou não. Na verdade, você que sabe. 


Foto: Thyeri Bione


Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista relacional
@psicoterapiafalemais



sábado, 20 de janeiro de 2018

Não.
Eu não aceito me poupar.
Não quero ser poupada de nada.
Se for dor que seja dor então.
Não permito que anestesiem o meu sofrer.
Eu quero o todo.
Deixem-me com minhas intensidades.
Já basta.
Sou vastidão nessa estrada sem rumo.
A minha vida quero que seja vivida com tudo que ela tiver pra me oferecer.
Chega de experimentar aos poucos.
Meus dias passam com pressa.
A vida não perde tempo.
Então, não quero me perder nela.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Olá! Sou adulta.

Eu cresci. Eu envelheci. Sou adulta. As coisas não são mais como eram na infância e, muito menos, na adolescência. Eu não sou mais quem um dia fui e ao mesmo tempo me sinto em constante transformação. Sei que ainda há muita coisa pra descobrir e se revelar. Há tanta coisa pra aprender. Surgiu em mim um sentimento de gratidão. Gratidão por hoje está me sentindo cada vez mais MINHA. Cada vez mais mulher. Tenho poder. Sou possibilidade. Tenho capacidade de gerir minha vida (Quem diria?). Gratidão por estar aqui, viva, aos 27 anos. São 27 anos. Uau!

Acompanhado da gratidão veio o medo. O medo por hoje perceber que minhas pernas, e apenas as minhas pernas, são o meu apoio. Por tomar consciência que a minha história me pertence e sou eu que a (re)escrevo. Eu, só eu. Apesar de ter tantos entres e outros, sou eu que me faço e refaço todo dia e a todo instante. Sou minha. E, é importante, que eu cuide de mim. Desejo ser bem cuidada. Gosto de ser bem cuidada. Preciso me esforçar para promover o meu bem estar. Medo por encarar a passagem do tempo e ver que estou viva, aos 27 anos. Nossa, já são 27 anos!

E o que falar dos meus amigos e amigas? Gente, quem são meus amigos hoje? Caramba! Eu olho pra eles e penso "É sério isso? Como aquela criança se transformou nisso? Que incrível". Dá pra fazer outro texto sobre isso. Quem sabe um dia...?

É, eu cresci. Envelheci. Sinto, porém, que em mim existe algo de infantil e lúdico. E isso me fortalece e me encanta. Às vezes me dá a sensação de estar em casa. De estar em mim. Fico preocupada em perder essa ingenuidade que já noto mais madura e serena. Temo que ela se torne ridícula e seja mal julgada. Fico preocupada com o reconhecimento e aprovação dos outros adultos. Eu, que inicio nesse grupo quero ser bem recebida. Quero pertencer a essa classe. É louco, né? Gente, é muito louco.

Hoje, do alto da minha varanda me dei conta que eu cresci. E que o tempo tá passando. Que coisa boa é o tempo. Que coisa má é o tempo. 

Enfim, quero apenas anunciar que sim, sou adulta. Cheguei, galera!



P.S.: Alguns dirão, "Vixe, só 27 anos?". Para esses eu digo "Respeite os meus 27 anos. Sim, 27 anos. CASSETE, É 27 ANOS! Daqui a pouco serão 28. E que assim seja até não ser mais." 

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...