domingo, 29 de dezembro de 2013

Só rir. (Sorrir)

Observando meu sobrinho, Vinícius, de um ano e meio, notei que ele adora rir do nada. Sim, do nada. O nada o faz gargalhar alto. Às vezes fiquei procurando algo que tivesse arrancado o riso da sua alma, mas nada estava lá. Era lindo de se assistir. Pensei que como era bom rir do nada.

Depois vi que meu sobrinho também gostava de rir do simples. Um barulho de câmera fotográfica foi motivo suficiente para soltar risadas ao vento. Houve também o riso pelos sopros que focalizei na sua barriga e axila, além do meu olhar de reclamação cúmplice e jocoso. Meu sobrinho adorou rir das coisas mais banais que podiam ocorrer num dia comum.


Como é bom poder rir simplesmente por que é bom se rir. Rir sem precisar explicar o motivo do riso e que esse motivo seja respeitável. Rir por rir. Meu sobrinho me ajudou a (re)ver que na vida não é preciso grandes acontecimentos para despertar a vontade de sorrir e se renovar a cada risada. A vida faz graça quando estamos disponíveis a se agraciar. O riso está em si, e não nas coisas. Não importa o que for quem faz algo ser engraçado ou não, somos nós. Meu sobrinho não precisa do aval de ninguém para gargalhar, não há nada que lhe diga o que é engraçado ou não, ele rir por que rir e como é bom sentir e participar dessa experiência.

domingo, 15 de dezembro de 2013

"Há homens que vivem como se viver fosse a coisa mais natural do mundo.": A neurose e as implicações de ser um Ser vivo.

Muitos teóricos da psicologia falam do neurótico como aquele sujeito que se encontra aprisionado ao passado. Relatam as consequências desse aprisionamento e expõem em seus argumentos o quanto a existência fica empobrecida e estagnada nesses casos. A saúde para as abordagens psicológicas, e destaco aqui a Gestalt-terapia, significa fluidez nas atitudes e maturidade para enfrentar as frustrações ao longo da vida ao invés de negá-las. O homem saudável é aquele que se apropria de sua história com consciência de sua liberdade e responsabilidade pelas consequências de suas escolhas. Não se engessa em modelos predeterminados para seguir sua vida, renova-se à medida que as experiências do cotidiano lhe requisitem algo de inovador. Guia-se pelos seus desejos e respeita os limites da realização dos mesmos, pois não há como viver em comunidade sem que parte de suas vontades sejam refreadas e ponderadas. O neurótico ao se fixar em experiências passadas e ao buscar traçar sua vida pautado em deveres externos e não em desejos pessoais transforma sua existência numa sucessiva fuga de ser dono e autor de sua própria história. 


Por diversos motivos que não irei descrever aqui um homem se torna neurótico. Preciso ressaltar que essa foi a melhor maneira que ele encontrou para sobreviver no mundo e nas relações que encontrou ao longo de seus dias. A necessidade de sobrevivência, para Perls, age como força propulsora para todos os seres vivos, assim a psicologia não pretende julgar o modo de vida do sujeito, mas procura compreender as redes de sentido que permeiam a forma como cada um se coloca diante de si, do outro e do mundo. Pensando nisso questiono o significado que possa ter viver no passado, manter-se cativo a experiências ultrapassadas, remoer sentimentos falidos, relembrar situações incorrigíveis, perder a capacidade de lidar com as situações no presente. Esse último ponto é a chave, dentro da Gestalt-terapia, para uma existência saudável. A vida acontece no aqui e agora, no presente, no hoje, e isso significa que necessitamos estar conscientes do que fazemos, do que sentimos e pensamos no hoje. Passado e futuro existem enquanto houver presente, pois se não há presente não há vida. O presente comporta tudo e nele que a história de cada um pode ser escrita e reinventada. 

(Foto: https://www.facebook.com/jonasaraujofotografia)

No livro, Bom dia, Angústia!, Comte-Sponville ressalta no capítulo O gosto de viver as delícias da vida e o quanto vale a pena vivê-la e, para isso faz questão de destacar os desgostos que encontramos no percurso e como o sofrimento é parte inseparável da existência. Não há como viver sem passar por situações que causem decepções e frustrações. Viver implica sofrer. Ao pensar nisso questiono o quanto é mais seguro para os sujeitos neuróticos se esconderem no passado, pois o presente significa vida e vida está intimamente ligada com a possibilidade iminente de frustrar-se. Permanecer sofrendo por questões passadas protege o indivíduo de implicar-se no agora e lidar com as consequências de suas ações no hoje, e não de modo imaginário do que poderia ter sido feito. Dedicar-se ao presente significa arriscar-se a escolher entre as diversas possibilidades e colher os frutos dessas escolhas, que nem sempre são satisfatórios. No presente a vida corre, no passado ela descansa imune. Não há riscos no passado. O passado é aquilo que ele é, está parado. O presente é movimento e movimento significa possibilidade de quedas. No passado a vida está morta, é lembrança, no presente é acontecimento em contínuo processo de acontecer.

O neurótico refugia-se no passado, pois teme a vida. E por que não temê-la? Dá medo mesmo se perceber passando, notar o quanto cabe a si mesmo seus sucessos e fracassos. As lembranças, por mais difíceis que sejam, são mais seguras, pois não permitem mudanças. Mudança significa risco. Não é fácil arriscar-se quando nosso tempo é incerto e a cada dia que vivemos é menos um para se viver.

O passado é a zona de segurança do sujeito humano, as experiências passadas fundamentam nosso ser, dão contorno ao nosso eu, o acúmulo de vivências compõe nossa identidade, somos tudo aquilo que conseguimos lembrar. O presente se coloca como fazer, como construção, como abertura. No presente me faço ser. E agora paro para pensar, do que falar do futuro? Esse tempo existencial é fundamental para o humano. O que mantêm o homem na caminhada do presente é a vontade de um futuro, no entanto, pensar em demasiado no que virá também é uma forma de fuga da vida enquanto acontecimento presente, pois nos coloca numa dimensão imensurável. O futuro nada mais é do que fantasia e fixar-se nele é perder de vista a realidade, contudo, não pretendo me estender nesse ponto agora.

Questiono nesse momento o que pode levar um homem a se torna neurótico, e ao lembrar as palavras de Perls que diz que todo ser humano é guiado pela necessidade de sobrevivência, penso que é a própria vida que neurotiza o sujeito. Quero dizer que talvez, alguns seres humanos se amedrontam de tal forma diante da imensidão da existência e de tudo o que ela significa que não suportam e, para sobreviver buscam fugir da própria vida. Sêneca afirma que alguns homens morrem sem nem mesmo terem conhecido a vida, e agora digo que talvez essa tenha sido a intenção de alguns. 

(Foto: https://www.facebook.com/fotografiacayoce)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Sempre aqui.

Na terça-feira, dia 9 de dezembro, minha amiga voltou da Irlanda depois de um ano por lá. Eu e outros amigos fomos a sua casa vê-la e acalentar a saudade. Chegamos, tocamos a campainha, seu pai abre a porta e ao entrarmos sinto algo estranho, mas não sei dizer o que é. Fico ansiosa para encontrá-la e então, vejo-a passando pelo corredor, tomei um susto, mas também senti algo diferente. Quando a vi não senti que ela esteve distante. Surgiu em mim um sentimento de familiaridade e serenidade. Dei-lhe um abraço bem forte, mas senti que ela nunca tinha ido embora, de alguma forma sempre esteve perto. Parecia que a tinha visto a pouco tempo atrás. Não havia desconforto ou estranhamento, pelo contrário, o que me perturbou nesse momento foi exatamente a familiaridade e a serenidade da situação. Não sei bem como descrever. 


Já tive essa sensação em outros momentos com outros grandes amigos. A distância desperta a saudade, mas quando os encontro sinto que não houve distanciamento. Parece que sempre estivemos próximos. Não há arroubos, não há gritaria, choro, ou grandes espetáculos de reencontro, existe apenas aquele sentimento de estar em casa. Acho muito engraçado essa situação. 

Não há como não pensar na frase do livro Os famosos e os duendes da morte que diz, "Estar perto não é físico.", cada vez mais vejo o quanto isso faz sentido. O ser humano ultrapassa o limite que lhe impõe sua pele. Com seus sentimentos, linguagem e capacidade cognitiva ele se lança além dos contornos do seu corpo e se faz presente a distâncias. A tecnologia possibilita o alastramento da comunicação, mas acredito que o próprio sentimento, sem a presença de comunicação, também mantêm o laço e oportuniza que o outro amado mesmo distante se faça presente. A linguagem gera segurança, abre espaço para que a o outro se renove e se recrie no dia a dia. A cada frase trocada cresce a sensação de consistência, de atualização contínua. Lembro que sempre que conversava com essa amiga enquanto viajava tinha a sensação de que ela estava caminhando junto comigo. Que nós estávamos percorrendo os dias e que podíamos compartilhar experiências. A linguagem solidifica a presença do outro no cotidiano, a medida que conversávamos ela se fazia presente. O sentimento cultiva a vontade, o desejo, a saudade, a presença nas lembranças, no imaginário. A capacidade cognitiva encontra maneiras de estabelecer contato e apaziguar a angústia pelo reencontro. 

Procurar descrever o que senti no momento que a vi é simplificar o que significou pra mim. De qualquer forma, seja bem-vinda Jéssica Grossini, e ao meus amigos que por algum motivo estejam longe, não fiquem preocupados, vocês estão em mim. 

domingo, 1 de dezembro de 2013

Meteorologia

Sinto tempestade se aproximando.
O peito aperta.
A cabeça confunde.
O corpo lateja.

Sinto tempestade se aproximando.
Abismos se abrem dentro de mim.
Minha alma recua assustada.

Sinto tempestade se aproximando.
O sol lá fora esconde
a obscuridade que se faz por dentro.

Temo sua força e o que fará dessa vez.

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...