sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sociedade do espetáculo e da ostentação.

“O sucesso tornou-se um meio ‘naturalizado’ ou ‘socializado’ de construção de identidade pessoal. A diluição do sujeito na moral do consumo e do mercado faz do sucesso uma das poucas condições de posse da admiração do outro. (...) A angústia do anonimato causa inveja do sucesso e avidez pela publicidade por que o sucesso é praticamente o único modelo de individualização deixado aos indivíduos. Modelo que reafirma a importância da posse de objetos de consumo como espelho identificatório. Eu sou aquilo que possuo, e quanto mais possuo, em qualidade e quantidade, mais sou bem-sucedido.” (COSTA, Jurandir Freire. 1994, p.47)


Nos tornamos artigos de vitrine.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O mundo é um moinho.

(...)

Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó.

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés.

(Cartola)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Espelho, espelho meu, quem sou eu?

Sinal vermelho e meu namorado pára o carro. Estamos apenas eu, no banco do passageiro, e ele, dirigindo. Vem dois homens em nossa direção com duas garrafas pet cheias de água e um limpador de vidros. Um deles começa a limpar o vidro do carro em que estavámos e nesse momento meu namorado pedi para que eu feche o vidro imediatamente, pedi-me repetidamente isso, e eu nego, disse que não faria. Ele, então, falou com muita convicção que eu só aprenderia a lição quando fosse assaltada. Fiquei me questionando depois que tipo de lição era essa e que eu deveria aprender? Será que se vinhesse em nossa direção dois homens brancos, vestidos de terno e gravata ele me pediria com tanta força para que eu fechasse o vidro com urgência?

Lembro-me da aula sobre a função especular do rosto da mãe para Winnicott e posso dizer que não é só o rosto da mãe que tem função de espelho. Nós somos os espelhos da sociedade. Nós que ofertamos ao outro uma imagem de si. Fico pensando como devem se sentir esses indivíduos marginalizados que se vêem no rosto das outras pessoas como sujeitos desprovidos de qualquer direito, sujeitos perigosos, sujeitos que evocam nojo e desprezo, sujeitos que não são reconhecidos na sua humanidade.

Impressiona-me quando ouço algumas pessoas falarem que aquele moleque de rua que rouba a bolsa de uma senhora e sai correndo é um animal, um indivíduo que não merece ser chamado de criança e nas entrelinhas de sua revolta deixa sobressair um olhar que expressa o sentimento que seria melhor para todos que esse tipo de gente fosse exterminada. Fico imaginando se alguma vez na vida, esse moleque, teve alguém que lhe ofereceu uma auto-imagem diferente, uma imagem que lhe possibilitasse se perceber de modo divergente àquele que ele já está habituado e identificado.

Essa questão é muito delicada e ao mesmo tempo não entendo como que muitos de nós não conseguem enxergar a importância do nosso olhar, do nosso feedback para a construção do eu no outro. Não falo só das mães, dos pais, dos familiares em si, mas, de todos nós. É gratificante ter alguém para dá o rertorno do que somos, que significa nossas ações, que dá contorno aos nossos sentimentos, que nos faz olhar para nós mesmo apartir do seu olhar.

Não digo aqui que o indvíduo não possa se encontrar em si mesmo, mas falo que o outro tem um papel fundamental no que diz respeito a percepção que tenho sobre mim mesmo e o mais importante, a noção do significado que tenho para o mundo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Teatro. E a vida se transformou em um teatro.
O que você vai querer ser no espetáculo da sua vida?
Que pena que não são permitidos os ensaios,
seria tão mais fácil.
Não sei o que sou nesse espetáculo.
Perdida entre papéis que nada dizem sobre mim,
que não me resumem e muito menos me definem.
Nem sei nomear os meus problemas
e se sei, não quero saber, fujo de algo mais consciente.
Em mim vejo o avesso de mim mesma,
e já entendo com mais propriedade a frase: Penso, aonde não sou, portanto, sou, aonde não penso.
Deve ser isso o que acontece, estou perdida em mim mesma.
Em um lugar onde meus pensamentos não podem chegar,
ou simplesmente não querem chegar.
O que pensei que era, provei a mim mesma que não é bem assim.
Ilusão. Tudo fingimento. Tudo faz parte de um papel, que não me resume, que não me define.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Engraçado, mas hoje percebi que a previsibilidade do meu dia-a-dia é o que dá um contorno diferente a minha vida.

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...