domingo, 30 de janeiro de 2011

Um tapa sem mão.

Lembrei-me de uma cena. Era 13:oo hrs e fui pegar o ônibus numa praça que é povoada por moradores de rua. Existem vários, crianças, adolescentes e adultos, todas as idades, e todos "cheiram cola". Pois bem, enquanto aguardava meu ônibus junto com outras pessoas, um deles se aproximou e começou a pedir "umas moedinhas" e ninguém deu. Contudo, havia uma senhora atrás de mim que estava contando as moedas para a passagem, e então, ela não pôde negar, pois foi "flagrada" com o dinheiro na mão e com medo deu, mas antes do "moleque" (que na verdade já era um homem formado) ir embora, ela falou com a amiga do lado: Poxa, minha passagem. E, simplesmente, o "trombadinha" voltou, perguntou a ela como ficaria sem a passagem e, após perceber a situação, devolveu o dinheiro a senhora e foi embora.

Posso dizer que fiquei impressionada. Eu nunca imaginei que um morador de rua "cheirador" de cola poderia ter tal atitude. Foi um tapa na cara. Percebi nesse momento que o preconceito cega e isso é tão óbvio que chega a ser ridículo. Disseram-me que o preconceito não é de todo sadismo, pode representar também um certo instinto de sobrevivência que tenta nos preservar. Fiquei remoendo isso na minha mente e posso dizer, depois de lembrar dessa cena, que esse instinto de sobrevivência é sádico.Sei que não saio por aí queimando mendigos, batendo em homossexuais, "esculhambando" negros e pisando em pobres, mas o preconceito que eu manifestei naquele dia (e em outros) foi também, pois, eu anulei a identidade daquele indivíduo. Eu neguei a ele o seu direito de ser quando o julguei por algo que ele não é. Eu, por medo (admito), não lhe olhei nos olhos, segurei minha bolsa com força e rezei pedindo para que ele não tivesse nenhuma manifestação criminosa. E ele, simplesmente, mostrou-me que é humano, que não é um estereótipo e que é sensível apesar de não ser alvo de sensibilidade.

Pois é, mesmo quando o preconceito é aparentemente inofensivo e explicável (o aumento da violência, por exemplo) ele é cruel, muito cruel, com quem sofre e com quem comete.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Aonde foi que nos perdemos?

Não há palavras. Só existem sentimentos confusos. Houve um instante, um detalhe, algo que passou despercebido e a partir de então tudo mudou. Deve ter sido algum gesto, uma palavra, um silêncio, um olhar, um sorriso, uma conversa, de fato não sei o que o fizemos para chegar a tal situação. O pior de tudo é que não há dor, não há lágrimas, não há nada. Esse vazio é o que pertuba. Estou em busca por algo que explique como chegamos aqui, nesse momento, tão frios e tão secos que não conseguimos chorar pelo final daquilo que havia de mais belo em nós.

É inexplicável. Em algum lugar do percurso desviamos de uma pedra e nossas pernas perderam o compasso. Estamos caminhando na mesma estrada mas nunca chegaremos no mesmo lugar. O seu olhar tornou-se um buraco negro que tudo suga para si, mas não se sabe o que há do outro lado. Todas as perguntas sem respostas. Todas as respostas sem sentido.

Olho para trás procurando algum vestígio que me diga o que houve para nós. O que foi que fizemos que nos trouxe até aqui ? Infelizmente, a estrada atrás de nós se deteriora a cada passo que damos e não há mais como voltar para averiguar as circunstâncias. O que me resta é tentar encontrar nas lembranças algo que fundamente o presente. Aonde foi que nos perdemos?

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...