quinta-feira, 12 de julho de 2018

À casa da minha infância...

Desde pequena (bem pequena mesmo) morei em um apartamento num bairro pobre. Para mim, ele nem era grande, nem era pequeno, simplesmente, acomodava a mim e a minha família. Às vezes, ele parecia enorme e demarcava distâncias absurdas entre nós. Às vezes, ele parecia minúsculo e me sufocava. Vivi nele até meus 26 anos. Sinceramente, não sei quando comecei a morar nele. Acredito que foi por volta dos meus 3 ou 4 anos. O prédio era simples e ficava numa quadra (eu amava aquela quadra). Construí muitas amizades por lá. Antes de morarmos no bloco G, vivíamos no F (Foi a minha primeira mudança). Eu lembro que no auge da minha força ajudei meu irmão a carregar um colchão para a nossa nova casa, o bloco G. Foi nele que comecei a me perceber gente. Passei a infância, a adolescência e iniciei a vida adulta. Saí aos 26 anos. Sem olhar pra trás. Sem saudades e sem remorsos. Apenas mudei. Não sinto falta da minha casa (MINHA casa ...).

Porém, acontece um fenômeno engraçado. Sempre que sonho com casa retorno para a casa da minha infância, meu primeiro lar. Não é a casa da adultez que habito. Quando sonho é a casa da minha infância que me faz morada. Acho isso incrível! Independente do conteúdo do sonho, quando tem casa é pra lá que eu vou. Por exemplo, essa noite sonhei que estava em Serra Talhada, na casa do meu irmão, eu estava lá em Serra, só que o cenário era a querida Quadra 49 e o bloco G. Era a casa da minha infância. Aquela que foi base para as minhas descobertas. Nela vivi tantos sentimentos e aprendi sobre espaço quando me vi crescer e o apartamento diminuir (ao ponto de precisar me mudar). São 2 anos fora de lá. Às vezes, me parece 20 anos.

Diariamente não me faz falta e nem me aquece o coração pensar naquelas paredes laranjas (Isso é lá cor de se pintar casa, gente?) ou até de sentar na janela da sala e ficar pensando em nada e quase tudo. Não me abate e nem me invade as recordações daquelas escadas e os papos jogados fora por lá. Aqueles dois banquinhos debaixo do prédio já acolheram tantos abraços, risadas e lágrimas. As implicâncias do síndico com nós, crianças sedentas para brincar e correr por aquelas garagens. Aquele "quadrado" onde aprendi a namorar. A caixa d'água foi a primeira montanha que escalei. Ser a porta voz de mainha e gritar aos quatro ventos pelo meu irmão que, de repente, aparecia por detrás do prédio J ou vindo da direção do bloco D, era sentir-me poderosa e aliviada, pois eu tinha conseguido encontrá-lo (Ele vinha PUTO!). Não me faz estremecer o coração lembrar dos assovios convidativos dos amigos (que eu ouvia a quilômetros de distância) e de brincar no pequeno (quase minúsculo) terraço de casa, pois estava de castigo e não podia descer. Aprendi a modular minha força e a ser ágil, pois a bola não podia cair na pista. Beber e esconder as bebidas no nossos cantinhos secretos.

Ai! Eu não sinto falta de nada disso. Está tudo muito bem guardado em mim e não me falta, simplesmente me preenche. Não é falta. É presença. Quando falo é um gosto doce que sinto. Durante o dia, vivendo, correndo, caminhando, cuidando da vida, nem me recordo. Só que, quando chega a noite, e sonho com casa, é pra lá que eu vou. É lá que habito. É lá que sou lar. A casa da minha infância é a base dos meus sonhos.

Desassossego

Minha vida segue em linhas que não compreendo.
Não compreendo a mim nas linhas que a vida traça.
Aprendi que não se pode vacilar
e a vida me mostra que não há como permanecer sã a todo custo.
O custo que a estabilidade me cobra é muito alto.
Fui ensinada a temer
e temo o que ainda não é.
Nem só de tolices vive o homem.
Sou mistura de tudo o que foi, do que está e do que será, além do que jamais ficou.
Meus sonhos me inundam e mostram a falta por detrás da esperança.
Caminho para a busca.
A busca de cessar a procura.
A procura de nunca ser fim.











O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...