segunda-feira, 25 de junho de 2012

Olá! Boa noite.
Deem licença agora que vou recitar-me.
Falarei da alma
Discursarei sob o corpo
Comentarei das vestes que iludem os moços.
E o que cobre o rosto?
Relatarei também.
As máscaras, as marcas, as farsas
Revelarei sem desdém.

Com medo, com senso e sem consenso
Direi o que não ouso.
Na covardia que os versos escondem
Serei coragem oculta.

E não sou culta para fingir valores.
Por isso, meus amigos, com licença, pois hoje vou recitar-me.

domingo, 17 de junho de 2012

Teatralizando, mascarando e vivendo.



Dias atrás participei de uma oficina de máscaras em grupo de teatro amador do qual sou integrante. Tínhamos como finalidade produzirmos máscaras de gessos no rosto de um colega e vice-versa. A experiência desse momento me submeteu a diversas reflexões. Enquanto estava sentada e o meu parceiro de grupo colocava vagarosamente as folhas de gesso sobre meu rosto procurei ficar calma. Rapidamente minha boca foi silenciada e em seguida meus olhos foram fechados. Não podia sorrir, não podia chorar, nem fazer movimentos bruscos. Diante de tal situação busquei concentrar-me no que estava sendo feito e meus pensamentos alçaram voo. Fomos solicitados a pensar no conceito de persona e como um gatilho ativou minhas ideias e meus sentidos para tudo o que estava sendo vivenciado ali.

Recordei-me das aulas sobre a teoria junguiana e o conceito de persona. Lembrei-me também de Winnicott e o falso-self. Notei que quem estava a montar minha máscara não era eu, mas sim um outro. Ele moldava o gesso aos traços do meu rosto à sua vontade e aos limites da minha face. Ela seria o resultado do nosso encontro e o produto seria fruto de nós dois.

 Várias camadas foram colocadas sobre minha pele. A primeira foi fria e causou desconforto, mas logo me adaptei, pois era leve. As seguintes iam se destacando em relação ao peso, porém o frio não era tanto e estava mais acostumada com a sensação que elas proporcionavam. Ao longo do processo sentia-me mais afastada, mais interiorizada. Algo estranho estava se formando no meu rosto, destacava-se, distanciava-me. Já não estava mais a vista. Escondida sob uma montanha de gesso sentia-me a vontade, arrisquei até uma dancinha com os braços, claro que com cuidado para não machucá-la.

Com o passar do tempo tive que me concentrar na respiração. O peso era algo que chamava bastante atenção. Às vezes ficava ansiosa. Sentia-me presa. Voltava os pensamentos para a respiração e procurava confiar no meu colega. No entanto, ele cometeu uma falha: estava tampando meu nariz. Quando adicionou mais uma camada a essa região percebi que aquela pequena passagem de ar foi interrompida e comecei a sufocar. Passei a respirar com mais força, mas não havia ar. Os outros integrantes perceberam e após poucos segundos abriram um pequeno buraco e pude respirar novamente. Contudo, nesse meio tempo não fiquei nervosa. Respirava fundo para tentar abrir uma passagem pela lateral e esperar alguma solução. Pensava apenas em não arrancar a máscara naquele momento, pois a estragaria. Ela já pertencia a mim e eu a ela.

A fase final do processo foi particularmente interessante. Outro membro do grupo veio ao meu ouvido e sussurrou uma série de frases. Pedia que fizesse alguns movimentos com o rosto, que tocasse calmamente a máscara e sentisse que aquilo não era mais eu, era qualquer outra coisa criada a partir de mim. Foi aos poucos a soltando de minha pele e disse que da mesma forma que a construí poderia me desfazer dela, não pude me conter e as lágrimas rolaram.

Pensando em como se dão os relacionamentos na sociedade e o desenvolvimento da personalidade humana, essa experiência que descrevi é um reflexo desses pontos. O convívio social exige de nós alguns artifícios e estes nos ajudam a nos adaptarmos ao mundo e às suas regras, valores e crenças.

A máscara no teatro tem várias funções e entre elas está a de preservar o ator dos olhares do público podendo ele observá-lo livremente. Esse instrumento desrealiza a personagem, pois introduz um elemento estranho entre o ator e o espectador que interfere na identificação deste com aquele. Ela é usada frequentemente quando a encenação busca evitar uma transferência afetiva e distanciar o caráter e será apenas no conjunto da encenação que seu uso fará sentido.

        No cotidiano, assim como no teatro, nos valemos de máscaras que colaboram para a vida social e preservação do nosso eu. É completamente saudável e compreensivo o uso destas. Contudo, quando se trata do humano nada é tão simples quanto parece. Aquilo que um dia foi saudável e colaborativo pode se transformar em um empecilho para a vida social e pessoal. Caberá a cada um saber utilizar sua mascará de forma que não se venha perder por trás dela ou confundir-se. Ela pode e deve sair do rosto quando for conveniente. É fundamental saber retirá-la e fazer cenas com o rosto nu.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Palavra corpo.

Em cada pulo uma gota de suor caí ao chão.
Em cada salto uma gotícula se dissipa no ar.
Seu corpo cansa, dói, seu corpo ri.
A energia flui.

Os ossos são estralados.
Gemem.
Dançam.
Como nós, são desenrolados.

A respiração desce e sobe
Falta e sobra
Prende e solta.

No movimento parasse tudo.
O que há dentro escorre pelos braços, testa e busto.
No bater dos pés ouvisse o que estava mudo.

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...