sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Ressignificando os sentimentos: (Re)leitura sobre A INVEJA.

Comecei a pensar sobre a inveja, sentimento tão renegado e que causa grande desconforto no indivíduo e na sociedade. Sentir inveja é compreendido como ato de fraqueza e vergonha. Acredito que nossos sentimentos são fundamentais para a compreensão de nós mesmos e para nos orientarmos ao longo da vida. Assim, fiquei me questionando sobre o significado da inveja na condição humana, pois como já disse várias vezes, todo sentimento é legítimo e deve ser respeitado e vivenciado. 

Então, de repente, algo me veio a cabeça: a inveja aponta para o desejo. Ao sentirmos inveja fica claro para nós algo que desejamos. O querer é despertado e a partir daí a falta se faz presente, pois onde há desejo, há falta. Através do desejo manifestado pelo surgimento da inveja constatamos o quanto somos incompletos. Percebemos que existe em nós uma insatisfação, um incomodo que implora para ser encerrado. Desse aspecto surge o caráter negativo do sentimento de inveja, já que notar-se a si mesmo como um indivíduo incompleto e faltoso não é nada fácil para o ser humano. 


Contudo, a inveja além de causar um desconforto para quem a sente, também perturba o outro. Será que a  inveja do outro aponta para minhas faltas e insatisfações? Será que ao ver o desejo do outro sou tocado também no meu desejo, e com isso, impulsionado à busca, ao movimento? Fico pensando se há algo mais perturbador para o homem do que se perceber incompleto, faltoso e insatisfeito com o que possui? Nossa sociedade busca incessantemente por um estado de felicidade incondicional. Estamos à procura da satisfação ininterrupta. O homem contemporâneo não quer ser frustrado, não quer vivenciar a falta e nega as suas imperfeições e as do outro. Renegar essa condição existencial de incompletude humana é afastar-se do que há de mais precioso para o sujeito, o desejo.
 
 
O invejoso transpira insatisfação, falta e frustração, mas também inspira vontade, desejo e até mesmo sonhos. Não existe problema nenhum em sentir inveja, o que há de problemático é o modo como as pessoas reagem a esse sentimento. É preciso descriminalizá-la. A inveja é humilde, pois coloca o homem diante de suas falhas e de suas carências. E não há nada de errado com isso. É preciso distinguir sentimentos de ações frente a esses sentimentos. Nós reagimos infantilmente quando nos encaramos invejosos, pois não sabemos lidar com a falta. Nossa cultura não nos prepara para lidarmos com a frustração diante de um desejo não satisfeito e agimos como crianças inconsequentes.




Precisamos a aprender a aceitar e respeitar nossos sentimentos, questioná-los e vivê-los para compreender o que eles querem nos mostrar. Nosso ser tem uma tendência natural a tentar se manter saudável e equilibrado, nós prejudicamos esse processo quando não damos a devida atenção e o negligenciamos. O sentimento é genuíno e ocorre fora do nosso controle, ou seja, é uma manifestação espontânea e imensamente verdadeira. Então, proponho olharmos com mais respeito e consideração para a inveja e outros afetos rejeitados pela moral e cultura, pois como diz Alice Miller (2011), "Se, um dia, aprendemos a viver com os sentimentos e a não os combater, já não vemos as manifestações de nosso corpo como uma ameaça, mas como uma referência a nossa história" (p.109).

Bibliografia:
- MILLER, Alice. A revolta do corpo. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014



Não há nada em mim que não tenha virado palavra.
O que não escrevo se insere no discurso em forma de lágrima.









Foto: Cayo César.

domingo, 7 de dezembro de 2014

(Má)rinheiro.



Fiz do teu riso o meu farol.
Navegar nos mares das tuas emoções é exaustivo.
São águas instáveis e que jamais conseguirei domá-las.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014



Meu medo não é de nunca conseguir realizar meus sonhos, pelo contrário.

Temo que ao realizá-los possa da satisfação advir o vazio e que daí me questione: E AGORA?.








Foto: Vladimir Kush

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Ser e fazer


Poeminha retirado de experiência clínica (Parte 2): 
 
Passou a vida toda tendo que fazer.
Fazer o bem.
Fazer o certo.
Fazer o melhor.
Fazer acontecer.
Durante seus anos fez de tudo e o possível. Sempre fez muito bem. Era ótima e empenhada nos seus afazeres.
De repente, a vida lhe prega uma peça e ela não podia fazer tanto assim. Era tudo o que sabia. Depois de muito tempo precisou aprender a Ser. Só que agora não sabe como Ser. Essa parte foi esquecida, negligenciada.
Ser? O que é isso? Como fazer ser? Não entende.
Seu ser ingênuo se angustia, incomoda-se.
Olha no espelho e estranha esse ser que responde do outro lado: Quem é ?Quem sou? Ser? Como faz?
Arrumou o que fazer. Finalmente algo que conhece, controla, domina. É boa nisso. Não tem mais tempo para se preocupar em Ser. Está fazendo o que sabe melhor. Olhar no espelho é perda de tempo. Está bom assim. Está melhor assim. Calmaria interna, a vida se aprumou. É assim que se fez na vida e é assim que é.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

"Não é pela via da razão que caminha a linguagem da terapia. (...) A linguagem da terapia é poética." (POMPEIA, 2004, p.157-158).

Poeminha retirado de experiência clínica: 

Lança mão do falatório para encobrir suas mágoas.
No meio de tantas palavras esconde seus segredos.
Arremessa frases como uma lança afiada.
Cobre-se de parágrafos como um escudo impermeável.
Para silenciar, usa vogais conjugadas com consoantes.
Se quiser alcançá-la terá que atravessar um vale obscuro de gramática.
Muitos já se afogaram em seus mares de letrinhas

No seu esconderijo alfabetizado observa a vida correr lá fora.
Sente-se segura
Quando a dor lhe encontra por detrás de suas construções intelectuais,
fica muda. A emoção lhe cala.
Como resposta vomita tudo aquilo que aprisiona com medo de ser.

Houve um momento em que pôde descansar de seu serviço de se anular.
Foi quando distraída manteve-se em silêncio.
E pareceu que, finalmente, algo lhe fazia sentido.



* POMPEIA, João Augusto. Na presença do sentido: Uma aproximação fenomenológica a questões existências básicas. São Paulo: EDUC; Paulus, 2004.

domingo, 10 de agosto de 2014



Meus sonhos irão me cobrir e me fazer desaparecer.
Meus sonhos me esconderão dos infortúnios.
Ah, queridos sonhos, saiam da frente.
Deixem-me enxergar a vida crua.








Foto: Jonas Araújo. (https://www.facebook.com/jonasaraujofotografia/timeline)

Sobre a psicoterapia e o lugar do psicoterapeuta.



Quando alguém procura uma psicoterapia vai em busca de ajuda, de uma resposta para suas dúvidas e tormentos. Ela acredita que aquele profissional poderá responder às suas confusões e encerrar seu sofrimento.  O cliente chega com todas as perguntas e espera sair com algumas respostas. O psicólogo quando recebe um cliente espera ser útil para este e o melhor que ele pode fazer é não ajudá-lo. Como assim? 

Quando penso em ajudar alguém estabeleço uma meta, possuo um conceito do que seria o melhor para este sujeito, procuro fazer algo para melhorar a sua vida. O ato de ajudar me coloca como ativo e o ajudado como passivo. Quando penso em ajudar alguém me vejo praticando uma ação que acredito que aquele não é capaz de fazê-la no momento.  Tal posicionamento por parte de um psicoterapeuta não trará os benefícios propostos de uma psicoterapia. E o que uma psicoterapia pode proporcionar?


A psicoterapia é um espaço de (re)descoberta. Gosto de pensar também que esse é um espaço de aprendizagem. E o que se (re)descobre e se aprende? A si próprio. “O que é essencial não é que o terapeuta aprenda algo sobre o paciente e então lhe ensine, mas que o terapeuta ensine o paciente como aprender sobre si mesmo.” (STEVENS, Barry. 1978, p.39). Perls costumava dizer que aprender é descobrir que algo é possível, e para mim essa frase culmina exatamente no tipo de aprendizagem que se apreende da psicoterapia. O cliente descobre que/como é possível lidar com os infortúnios da vida. Ele descobre elementos novos sobre si e os utiliza de modo que sua vida se torne mais satisfatória. O psicoterapeuta fornece ferramentas para que o consulente construa seus próprios instrumentos de crescimento.

Muitas pessoas acreditam que não precisam (re)descobrir a si mesmas. E algumas estão corretas, outras nem tanto. Durante nossa vida somos impulsionados a acreditar que a melhor maneira de sobreviver nesse mundo é nos anularmos e fazemos isso para nos proteger do sofrimento. Contudo, pagamos um preço muito caro e este é que chega um momento na vida em que sentimos certo vazio e uma incapacidade para lidar com as dificuldades. Não sabemos do que somos capazes, se somos capazes e quais os recursos que possuímos. Não confiamos em nós mesmos, em nossa potencialidade para realizar algo, na possibilidade de transformação interior e exterior. Estamos incertos quanto ao que pensamos, sentimos e fazemos. Ás vezes parece que a nossa história não é construída por nós. Existem milhares de dúvidas a respeito do que estamos construindo para nossas vidas.



Enquanto a esse processo de aprendizagem da descoberta, a psicoterapia, informo que “As descobertas são solitárias. Sempre foram. Sempre serão.” (CANEPPELE, Ismael, 2010, p.68). A riqueza de uma descoberta advinda de um processo pessoal de busca é muito mais válida do que aquelas percebidas pelo olhar do outro. O grande barato é não revelar a verdade, mas possibilitar que o outro a perceba através dos seus próprios recursos e no seu devido tempo. É encantador observar o espanto que o cliente tem quando se depara com algo que não estava percebendo em si mesmo.  O psicoterapeuta não mostra nada ao cliente, esse é que mostra as suas verdades e dúvidas, o profissional só irá apontar tais informações, e ao olhar mais uma vez para seu discurso o cliente poderá descobrir novas questões que não estava atentado. 

“Nossa visão do terapeuta é que ele é semelhante àquilo que o químico chama de catalisador, um ingrediente que precipita uma reação, que de outra maneira poderia não ocorrer. Ele não determina a forma da reação, que depende das propriedades reativas intrínsecas das sustâncias presentes, e tampouco participa de qualquer composto que venha a ser formado com sua ajuda. O que ele faz é simplesmente dar início a um processo, e há alguns processos que, uma vez iniciados, são automantenedores e autocatalíticos.” (STEVENS, Barry. 1978, p.38). 

 

Rainer Maria Rilke, poeta alemão de grande relevância, escreveu um conjunto de cartas entre os anos de 1903 e 1908, endereçadas ao jovem Franz Xaver Kappus com o intuito de lhe falar sobre o ofício de escritor. O jovem lhe requisitava respostas sobre suas produções e queria conselhos do grande poeta que admirava. As respostas de Rilke para as inquietações de Kappus podem ser utilizadas na reflexão sobre o posicionamento do psicoterapeuta diante das requisições dos seus clientes.



“O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar – ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. (...) Se depois dessa volta para dentro, desse ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar a quem for se são bons.”(p.26-27). Sobre o processo de crescimento pessoal Rilke continua, “Nada a poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa.” (p.28).

Aos psicoterapeutas aconselho algo, que sejam pacientes. A paciência é fundamental para a nossa profissão. Cada sujeito tem seu ritmo e sua forma de se desenvolver. No pouco tempo que tenho de profissão venho aprendendo a ser paciente e também tenho tentado ter paciência com meu processo de aprendizado. Como diria Rilke (2001),

“Não busque por enquanto respostas que não lhe podem ser dadas, por que não as poderia viver. Pois trata-se precisamente de viver tudo. Viva por enquanto as perguntas. Talvez depois, aos poucos, sem que o perceba, num dia longínquo, consiga viver a resposta. Quiça carregue em si a possibilidade de criar e moldar- como uma maneira de ser particularmente feliz e pura. Eduque-se para isto, mas aceite o que vier com toda confiança.” (p.42-43)




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

STEVENS, Barry. Não apresse o rio: ele corre sozinho. São Paulo: Summus, 1978.

CANEPPELE, Ismael. Os famosos e os duendes da morte. São Paulo: Iluminuras, 2010.

RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta e A canção de amor e morte do porta-estandarte Cristovão Rilke. São Paulo: Globo, 2001.
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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Aplicar ou não aplicar, eis a questão: Sobre o uso de técnicas na psicologia.

Um dos pontos mais debatidos na psicologia atualmente é a tecnização dos profissionais da área. Discute-se o quanto a utilização de recursos técnicos pode ser favorável ou desfavorável ao processo. Já refleti, em outro momento, aqui no blog sobre esse assunto (Link - http://andrezacrispim.blogspot.com.br/2012/08/fora-de-visao-enxergar-alem-do-que-os.html), agora, quero pensá-lo através da poesia de Manoel de Barros e da teoria da Gestalt-terapia.

Para começar quero utilizar a seguinte frase de Manoel: "Tudo que não invento é falso". A Gestalt-terapia prioriza no encontro terapêutico a relação que surge entre psicoterapeuta e cliente, mas muito mais do quê isso, ela discute a essencialidade do humano voltar-se para o aqui e agora, afirmando que não há outra possibilidade de existência fora desse espaço e tempo. O homem deve deixar guiar-se por aquilo que a situação lhe desperta, minimizando preconceitos enrijecidos e descontextualizados. Deixar-se guiar pela situação é permitir a espontaneidade de sua própria ação e de seu modo de perceber as coisas e a si mesmo. É procurar estabelecer um acordo entre suas necessidades internas e as exigências externas. O sujeito precisa inventar a sua própria atitude para que ela seja criação genuína de seu ser e não apenas reproduzir conceitos ditos como mais coerentes que não emanaram de uma inquietação singular. A invenção não exige que seja algo nunca visto, mas que seja produto criativo do próprio indivíduo para si mesmo. "Tudo que não invento é falso", pois não surgiu de um movimento pessoal para a tentativa de compreender ou lidar com algo. 

"Todo conhecimento teórico em psicoterapia só tem sentido se usado a serviço do cliente." (Pinto, Ênio Brito, p. 70). O psicoterapeuta precisa estar em pleno contato com a expressão e modo de ser singular de seu cliente para utilizar ferramentas que sejam úteis a esse. Para isso, criará dentro do contexto relacional e situacional do encontro terapêutico meios de intervenções que estejam interligados aos preceitos teóricos e à particularidade do cliente. A técnica não pode ser utilizada com algo inflexível e enxertado na relação, pois dessa forma o terapeuta perde de vista o que há de mais importante, que é a unicidade do ser e o modo como percebe o sujeito. Lembro das aulas sobre técnicas e dinâmicas de grupo que os professores sempre repetiam e nos pediam para lê-las e tentar dar um novo tom a elas, que jamais as usássemos como estavam no livro puramente. Para que a técnica corresse bem era necessário dá um toque pessoal que fosse condizente com as nossas condições de manejo e a situação a ser empregada. Os professores nos pediam para sermos inventores, para sermos criativos. 

"Invento para me conhecer", outra poesia de Manoel que recorro para falar do quanto para nós psicólogos é importante reconhecer o seu modo particular de intervir e trabalhar. Para sermos bons profissionais não precisamos ser Freud ou Jung, muito menos Perls ou Rogers, basta ser apenas nós mesmos. Eu sei que isso não é fácil, mas é o que é. Assim, "Um processo terapêutico começa pela possibilidade de que o terapeuta interaja com seu cliente e valorize a pessoa singular que ele é, com sua história singular, com seu momento singular, com suas dores singulares." (Pinto, Ênio Brito, p. 70) e que se reconheça da mesma forma. 

Ressalto aqui que é fundamental o estudo e o conhecimento sobre as teorias psicológicas e as técnicas que compõe nossa ciência. Recordo que li em algum lugar (não lembro onde) que o estudo teórico surgia para ficarmos mais inocentes na escuta do cliente. Isso quer dizer que quanto mais eu domino a teoria, mais amplio o meu campo de compreensão. Torno-me mais suscetível à experiência do próximo. No entanto, esse conhecimento não pode estar no foco da relação. Ele precisa transformar-se em tecido, órgão, sangue. Não pode ser mero acúmulo, na verdade é necessário que todo conhecimento seja transformado em nada, para que se crie espaço de criação e novidade. Como diria o poeta, "Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare.". Também nas palavras dele,

"O que não sei fazer desmancho em frases.

Eu fiz o nada aparecer.

(Represente que o homem é um poço escuro.
Aqui de cima não se vê nada.
Mas, quando se chega ao fundo do poço já se pode ver o nada.)

Perder o nada é um empobrecimento."

Penso aqui em uma poesia de Manoel que pode demonstrar um pouco como o instrumental técnico pode desfavorecer o processo se for mal utilizado:

"O rio que fazia uma volta atrás da nossa casa era a imagem de um vidro mole. 
Passou um homem e disse: Essa volta que o rio faz se chama enseada. 
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás da casa.
Era uma enseada. 
Acho que o nome empobreceu a imagem." 

Nesse ponto reflito no cuidado que necessitamos ter para não empobrecer a experiência pessoal do cliente quando os engessamos em teorias e técnicas. Cada cliente percebe o rio que cobre a sua casa de uma forma e nós precisamos compreendê-los, independente da nossa forma de perceber esse rio. Eu, por exemplo, não tenho rio algum rodeando a minha casa, na verdade, moro em apartamento. 


Foto:  https://www.facebook.com/jonasaraujofotografia?fref=ts

- Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições (Manoel de Barros).

 * Ênio Brito Pinto. Psicoterapia de curta duração na abordagem gestáltica.
Manoel de Barros. Poesia Completa.


sábado, 5 de julho de 2014

Prece.


Que Deus perdoe as bondades
que faço todo dia sem querer o bem.










Foto: https://www.facebook.com/fotografiacayoce/timeline.

terça-feira, 1 de julho de 2014


Ah passarinho, se tu soubesse o bem que me faz teu canto
jamais pararia de cantar. 
Ao te ouvir, passarinho, sinto o peito aliviar.
O canto mudo que existe em mim, ao te escutar, começa a soprar
todas as melodias que calei por medo do desafino.

Sabe passarinho, tenho medo do bem que me faz.
Por ter medo dou um passo atrás.
Não me acostumei a cantorias.

Por te adorar, passarinho, fico de longe te ouvindo a espreita.
Não te aperreias, não vou te machucar, passarinho.
Fiz do meu coração floresta. 

Passageira.

Tenho uma saudade em mim que jamais pensei em ter. Sinto falta de abrir o peito sem receios, sem medo.Tudo está uma confusão. Eu estou uma confusão. Meu peito se mergulha e a cabeça não se aquieta nas ideias. Nunca senti tanta falta de falar o indizível e ser compreendida na minha incompreensão. Sinto falta de compartilhar. Palavras se acumulam na garganta. Estou cansada do silêncio, esse silêncio imposto pela ausência. Sinto todas as dores, e ao mesmo tempo, estou anestesiada. Assombro-me com a imensidão do por vir. Não sei se consigo realizar a mim mesma enquanto há tempo para ser. Estou caindo. Estou partindo. Cada tentativa parece ser minha última cartada. Não suportaria mais me perder. Existe tanto em mim, mas não enxergo meios de fazer. Fazer acontecer. Saber que a minha vida depende inteiramente de mim faz minhas pernas tremerem. Eu não sei fazer essas coisas do mundo. Não é simples para mim existir. Em mim carrego as dores do mundo e a indiferença daqueles que deixaram de se importar. Sou fina penumbra passeando pelos parques. Leve sopro solto no ar. Lágrima dissipada. Riso mudo. Que saudade eu tenho de me fazer poesia. Dividir vivências. Reconhecer-se na alma do outro. Sinto falta da disponibilidade para estar presente. Que falta me faz minha cobaia. Que falta eu sinto de quem eu era quando podia estar com ela. É a mim que falto. É por mim que clamo. É somente por mim que choro ao lembrar do nós. Ao partir, ela levou consigo tudo quem fui quando estávamos ainda. No dia que ela partiu dei adeus a um pedaço de mim. Não imaginei que ia ser tão grande.

- Sou um pedaço de sonho vagando por ai.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

domingo, 8 de junho de 2014

A vida está passando mais rápido do que suas pernas podem acompanhar.
O tempo escorre por entre suas mãos e nada lhe resta para segurar.
Calma, menina, tudo um dia acaba.
Não precisa se preocupar.
Esse medo de perder também vai passar.
Você vai passar.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Qualquer semelhança é mera coincidência.

No meio desses arrastões me recordei de um texto de Bauman que fala sobre os arrastões de Londres, em 2011. Hoje vi que muita gente compartilhou esse texto no facebook e resolvi reler. Ok, o texto é ótimo e faz refletir sobre o ideal consumista em que vivemos hoje, mas ele não pode ser usado para falar dos acontecimentos no nosso estado, pois existem diferenças muito importantes em relação ao que aconteceu em Londres.


A primeira é a realidade econômica e social da cidade londrina que é completamente diferente da daqui. Acredito que Londres não pode ser comparada com Recife, Abreu e Lima e Olinda. Outra, que os arrastões ocorreram com a polícia em serviço, os cidadãos não esperaram ela entrar em greve. Os saqueadores, em Londres, não eram pobres e miseráveis, aqui a coisa não é bem assim, grande parte dos saqueadores eram pessoas simples, dos arredores empobrecidos das cidades. Lembro de um comentário em algum mural perdido do face em que a menina dizia que nunca tinha visto tanta gente estranha na Conde da Boa Vista pela manhã, parece que os miseráveis saíram dos bueiros e invadiram a cidade, não estavam mais invisíveis. 


Outra diferença interessante é que em Londres os alvos dos arrombadores eram lojas de eletrônicos e vestuários de marca. Por aqui também foram roubados muitas lojas de eletrodomésticos, mas a quantidade de mercados e supermercados arrombados é algo que vai além de um consumo estético. Há muitos vídeos e fotos que registram pessoas fugindo com carrinhos cheios de alimentos e famílias inteiras com sacolas repletas de comidas. Aqui, não houve revolta, aqui foram pessoas que perceberam uma oportunidade de conseguir bens de consumo que lhes eram negado de alguma forma. Esse ponto é crucial. 


"Estamos falando de pessoas humilhadas por aquilo que, na opinião delas, é um desfile de riquezas às quais não têm acesso. Todos nós fomos coagidos e seduzidos para ver o consumo como uma receita para uma boa vida e a principal solução para os problemas. O problema é que a receita está além do alcance de boa parte da população" (Pedaço da entrevista de Zigmunt Bauman). Concordo completamente com a afirmação de Bauman sobre os arrastões em Londres e acredito que por aqui essa questão também é sentida e fundamental para compreender os modos de relações sociais, mas não podemos cair no erro de justificar com isso ações transgressoras e que rompem com o mínimo de ordem social. É preciso ultrapassar o discurso vitimizante e anulador da capacidade de escolha do sujeito independente da realidade em que ele vive.


"A resposta robusta em termos de segurança vai controlar o incêndio agora, mas o campo minado persistirá, pronto para novos incêndios. Problemas sociais jamais serão controlados pelo toque de recolher. A única solução é uma mudança cultural e uma série de reformas sociais. Senão, a mistura fica volátil quando a polícia se desmobilizar do estado de emergência atual." (Pedaço da entrevista de Zigmunt Bauman). Enquanto Pernambucana também fico me questionando do que será feito. O exército nas ruas e a repressão policial serão medidas pontuais que não darão conta da questão de modo preventivo. Vi muita gente falando a respeito da educação, e acredito que essa seria uma ótima alternativa, pois é com educação e questionamento a cerca da história e dos discursos sociais que se consegue mudar ideais culturais, mas não será fácil e rápido, talvez minha geração não desfrute dessas mudanças.

Penso que o que vivemos no estado de Pernambuco tem mais ligação com a questão da violência social e da falta de uma consciência civil e moral, do que "(...) uma explosão de frustração acumulada" (Pedaço da entrevista de Zigmunt Bauman). No entanto, esse último ponto influencia diretamente o primeiro, pois "A prosperidade hoje em dia está sendo medida em termos de produção material e isso só tende a criar mais problemas em sociedades em que a desigualdade está em crescimento" (Pedaço da entrevista de Zigmunt Bauman).Para finalizar uso as palavras de alerta de Bauman, "Esses distúrbios eram uma explosão pronta para acontecer a qualquer momento. É como um campo minado: sabemos que alguns dos explosivos cumprirão sua natureza, só não se sabe como e quando. Num campo minado social, porém, a explosão se propaga, ainda mais com os avanços nas tecnologias de comunicação" 


Sobre a entrevista de Bauman - Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/foi-um-motim-de-consumidores-excluidos-diz-sociologo-zygmunt-bauman-2690805#ixzz31u8xczU2
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Sobre arrastões em Pernambuco -
1. http://www.jcnet.com.br/Nacional/2014/05/com-pm-em-greve-recife-sofre-com-saques-e-violencia.html
2. http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2014/05/vandalos-saqueiam-lojas-de-abreu-e-lima-pe-durante-greve-de-policiais.html

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Contrários.

Sinto falta da saudade que você fazia.

 *

Não sentir mais a tua ausência é o que faz perceber que fosse embora.

*

As despedidas silenciosas que troquei com teu olhar a cada reencontro.

*

Medo de receber o não de quem nunca teve o meu sim.

*

Conversas trocadas no escuro para que tudo possa ficar mais claro.

*

Com ilusões experimento a realidade.

*

Compreendo-me suficiente quando me encaro de incompletudes.

*
Eu padeço do mistério da única certeza.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Ansiedade


O futuro me atravessa
Corta-me ao meio
metade aqui
metade acolá


Dedicado à Andreza Marinho.

Sou palavra muda
esquecida no fundo da garganta



É de palavra maldita
que escrevo as entrelinhas
para enlaçar as dores
e desatar as dúvidas.

É de palavra incerta
que descrevo as falhas
mostro as amarras
e  liberto o nós.

É de palavra que me faço
e desfaço a cada verso mal traçado.
 
Preciso fazer barulho,
mas o silêncio me fala.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

domingo, 27 de abril de 2014

Histórias de lágrimas mal faladas.



Um dia me disseram que chorar alivia nossas dores. Acreditei firmemente nessa afirmação durante minha vida. No entanto, um belo dia de tristeza chorei todas as lágrimas e minha dor não passava. Parecia que a cada lágrima chorada meu peito se apertava mais e mais lágrimas caíam do meu olhar. Foi então que pensei, "para onde minhas lágrimas estão levando a minha dor? Sinto-a escorrer pelo meu rosto, molhar minha carne, traçar caminhos pela minha pele, mas não sei para onde ela está indo." 

Passei dias e dias pensando sobre isso. Quando sentia o coração sufocar, derramava lágrimas e procurava prestar atenção no caminho que elas estavam traçando pra tentar entender o que se passava com a minha dor que não passava. Demorou um tempo. Não foi nada fácil. Precisei ficar sozinha em vários momentos. Tentei me aproximar cada vez mais de mim. Ás vezes sentia que estava por dentro de mim e não havia mais nada por fora, era apenas eu. A pele não era mais um envelope, era tudo, não havia mais nada além de mim.
 
Enquanto me atentava aos traçados de minhas lágrimas descobri coisas interessantes. Meu olho esquerdo chora mais que o direito. As lágrimas tendem a cair para o lado direito. Ao ficar deitada algumas lágrimas entram pelo ouvido. Outras gostam de fazer poça na minha garganta. Meus olhos ficam brilhantes quando estão chorando. Tenho o hábito de morder os lábios. Algumas lágrimas alcançam meu umbigo. Tem aquelas que caem sem nem tocar minha pele. São muitos os destinos que tomam as minhas lágrimas, mas ainda não entendia o porquê da dor não passar e sair junto com elas.

 

Em uma tarde de tempo confuso, choveu a manhã toda e depois fez sol bem forte de rachar asfalto. Fiquei pensando naquela água toda evaporando e foi então que veio o estalo, " Já sei o que acontece com minha dor." Notei que ao chorar tinha o hábito de respirar profundamente, inspirar fortemente a cada soluço, as lágrimas expulsam minha dor pelos olhos e eu a atraía novamente pelos pulmões. Respirava-a antes de se dissipar completamente no ar. Eu a recuperava a cada respiração. Depois disso, passei a chorar com mais calma, deixava o choro fluir calmamente, procurava não inspirar profundamente para não atrair de novo todo a dor que tinha expulsado. Passou a ter bons mais resultados. Contudo, há momentos em que o choro tampa a garganta e preciso respirar vorazmente, nessas horas penso que ainda não dá pra deixar tudo ir embora de vez. Algumas coisas levam mais tempo do que gostaríamos e não acontecem como esperamos. Nessas horas só nos resta ter paciência. A tão calma paciência dos pescadores.

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...