Mostrando postagens com marcador psicologia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador psicologia. Mostrar todas as postagens

sábado, 15 de junho de 2019

O lugar do trabalho pessoal para o psicólogo.

Na faculdade de psicologia se fala bastante sobre a necessidade do psicólogo fazer terapia, pois assim, ele não irá confundir ou misturar seus conteúdos com os dos clientes. Fala-se da importância do processo pessoal para o psicólogo, pois acredita-se que irá minimizar os riscos de projeções na relação com o paciente. Saímos de lá com essa lei, porém nem sei se temos tanto conhecimento dos seus fundamentos.

Ultimamente penso bastante sobre isso e quero ir um pouco mais além e aprofundar nessa questão. O que noto cada vez mais na medida que me trabalho pessoalmente (Faço terapia individual em Gestalt-terapia e também em grupo com Análise Corporal da Relação, além de participar de variados workshop, oficinas e agora grupo de Constelação familiar sistêmica) e que exerço o trabalho na clínica, é o quanto minha sensibilidade e percepção ficam mais aflorada para a escuta do outro. Quando vou desvelando meus conteúdos nos espaços terapêuticos que participo fico mais disponível para perceber e (re)conhecer os entraves, bloqueios, impedimentos e potencialidades do meu cliente. Tudo que pertence ao humano é legítimo e faz parte de uma possibilidade de ser. Nada que pertence ao outro nos é estranho propriamente, todo conteúdo humano é de alguma forma compartilhado e experienciado. Engana-se aquele que afirma que há neutralidade e distanciamento do desenrolar das histórias que nossos clientes nos trazem. Na escuta dos meus clientes também há uma escuta de mim, e preciso estar atenta e consciente disso. A história dele em algum fenômeno se encontra com a minha. E quanto mais consciente estou dos meus conteúdos, mas sensível e inocente fico com seu discurso. Trago a palavra inocente, pois considero que o inocente é aquele que se deixa surpreender e após a surpresa se reconhece. Quando trabalho minhas faltas e desejos, estou também contribuindo com o trabalho do meu cliente. De alguma forma os conteúdos entre nós que nos conectam vão se desenrolando através do meu movimento pessoal e a coisa se amplia. Ás vezes, há temas que só poderão ser alcançados na terapia com o paciente quando eles já tiverem sido abarcados na minha terapia. Em resumo, meu trabalho pessoal não serve para me proteger ou me blindar dos "problemas" do cliente, e nem vice-versa, e sim para me abrir e me disponibilizar mais livremente e autenticamente naquela relação.

Hoje, compreendo a importância para nós, psicólogos, do trabalho pessoal como ferramenta de intervenção profissional. Estou formada a seis anos e nesse tempo nem sempre estive em trabalho pessoal. Porém, atualmente, não consigo desatrelar uma coisa da outra. Claro que todo processo tem seu tempo e todos os ciclos têm seu começo e seu fim, mas hoje reconheço o quanto é essencial debruçar-me sobre mim mesma para enfim ir ao encontro do outro e colaborar com o debruçar dele sobre si mesmo. Acho delicado quando vejo profissionais que trabalham, especialmente na clínica, e nunca se propuseram a um espaço de escuta terapêutica. Penso: "o que impede esse sujeito de se submeter a uma proposta que ele, geralmente, defende tanto que o outro vivencie?" Caso você trabalhe com psicologia e nunca fez psicoterapia observe o que te impede. O que você evita? 

Pessoal que trabalha com psicologia e em especial psicologia clínica, façam psicoterapia, e se possível, outras práticas terapêuticas que vocês se identifiquem também. Será fundamental para sua vida profissional. Seus clientes irão ganhar muito com isso.

domingo, 28 de abril de 2019

Vamos pensar no encaminhamento para o psiquiatra?

É comum falarmos sobre as barreiras, preconceitos e resistências enfrentadas pelos clientes no momento em que eles decidem procurar por psicoterapia. O processo psicoterápico ainda é visto como sinônimo de loucura, fraqueza, desorganização e motivo de vergonha. Geralmente o cliente vem escondido dos amigos e dos familiares. Aos poucos essa primeira impressão vai se diluindo. O cliente já consegue admitir que faz psicoterapia para as outras pessoas sem culpa e vergonha. Sente-se mais livre e auto confiante. 

E então, chega o momento de encaminhar o cliente para a psiquiatria. Cada caso tem sua particularidade e dependendo da demanda do sujeito esse encaminhamento precisa ser realizado com muita cautela e respeito. Pois, com a psiquiatria, também existem barreiras, preconceitos e resistências. Corre o risco do cliente desistir da psicoterapia por temer a indicação para a psiquiatria. Não é todo caso que precisa ser encaminhando, porém em alguns, é essencial que seja.

Juntamente com um cliente que possui grande medo da medicação psiquiátrica, construímos um sentido para a indicação do profissional. O nível de angústia estava altíssimo. A angústia estava insuportável e destrutiva. Nesse momento havia apenas dor e uma dor que não permitia transformação. "Estou afundando. Cada vez mais indo pro fundo. Sinto que não terei mais força pra pegar impulso e subir. Estou cansado. Exausto. E começo a pensar que seja melhor afundar." Havia risco contra sua própria segurança. Aqui, era essencial o apoio psiquiátrico. Existe o medo da internação. Existe o medo do mal profissional. Existe o medo do excesso de medicação. Há escuta de todos os temores e inseguranças, porém, "meu bem, não podemos vacilar. Nesse momento agora você precisa sim, de uma intervenção psiquiátrica. O impulso suicida está forte. E com a morte não há segunda chances. Estamos aqui com você e vamos cuidar disso tudo."


"Qual o sentido da medicação? Vai me ajudar como?"


"A medicação, de uma forma bem aplicada, vai lhe ajudar a não afundar. Imagine que ela será uma boia. A psicoterapia durante um tempo te ajudou a nadar (e as vezes, a psicoterapia ensina o cliente a nadar e a ter coragem de entrar no mar), contudo, nesse momento, você não está mais conseguindo. A medicação servirá como uma boia. Ela não irá lhe tirar da água, mas te ajudará a não afundar. Assim poderemos continuar navegando com menos dificuldades. Até que, você sinta-se forte o suficiente, para continuar sem o suporte da boia. E quem sabe, um dia, não precisará mais que eu lhe acompanhe." 


"Entendi, mas tô com medo."


"Eu sei. Você não está só."

Psicoterapia é sutileza. Psicoterapia é poesia. 

sábado, 9 de março de 2019

Psicoterapia é um processo de humanização e sensibilização.

É comum que o cliente chegue ao consultório com vergonha dos seus sentimentos. Fala de si como fracassado por sentir tristeza, medo, raiva, inveja, insegurança, receio, ansiedade e etc. Acredita que mantendo-se distante de seus sentimentos será mais forte.

Começo a pensar que a psicoterapia é um processo de humanização e sensibilização. Humanizar e sensibilizar o cliente significa contribuir que o mesmo olhe pra si como humano, e isso implica que ele sente uma variedade imensa de emoções. É ajudá-lo a se confrontar com suas faltas e perceber que a inveja tem uma função esclarecedora sobre seus desejos e sonhos. Compreender que a raiva e o orgulho refletem autocuidado em algumas situações e previnem novas decepções. A ansiedade e o medo lhe deixam em alerta. Que o futuro assusta e faz parte do caminhar receios e inseguranças.

Ser humano é ser sentir. O que noto hoje é que parece que estamos com medo de sentir e a cada afeto julgado negativo que floresce nos inundamos com a culpa e haja autodepreciamento. Perdemos de vista o que aquele sentimento tem para nos comunicar e remoemos a sensação de inadequação. O cliente chega confuso, perdido e desorientado, pois negligencia suas emoções. Nossos afetos são norteadores. Eles nos sinalizam os efeitos que as situações vividas geram em nós. São nossas emoções que nos revelam sobre o casamento, o namoro, o trabalho, a graduação, a família, os amigos e tudo o mais em nossa história.

Nossa cultura objetifica e mecaniza o sujeito. Não somos máquinas. Somos feitos de carne. Pulsamos! A psicoterapia é um processo desafiador, pois nos coloca diante de nossa humanidade. Todo sentimento é legítimo, genuíno e digno. Aceite-o. Aprenda sobre si estando atento ao que te provoca. Não há nada de errado na tristeza, no nojo, na raiva, na inveja, no orgulho, na avareza, na ambição e etc. O que há para ser avaliado não é o sentimento, mas a forma como cada um decide se comportar diante deles. A emoção é pura. Sinta! 

Andreza Crispim 
Psicologia Clínica CRP 02/17314 
Psicomotricidade Relacional

Quando chegar é só bater na porta que lhe recebo.

No meu consultório não há campainha, ou seja, o cliente precisa bater na porta quando chega. No início pensava em providenciar uma, mas hoje, é algo que adoro e não tenho intenção de mudar. Percebi que cada cliente tem uma batida diferente e nesse bater já escuto muito do que ele tem a me dizer. Tem aquele que bate tão devagar que preciso estar atenta para ouvi-lo chegar. É uma batida singela, delicada e tímida. Já tem aquele que quando bate levo um susto, pois é forte, firme e brusca. Há aquela que bate e já vai tentando abrir a porta, por mais que saiba que deixo a mesma fechada com chave. Tem os que brincam com a batida e lançam uma música (às vezes chegam sem brincadeiras). Há os que chegam tão cedo que nem batem na porta, esperam na frente para quando o cliente anterior sair.

Adoro esperar o próximo toque. No bater da porta já me sinto em relação com a pessoa que chega. Há quem dê apenas uma batida, há quem dê mais de uma. Tem quem bata com a mão aberta, outros com a mão fechada e aqueles que só tocam as pontas dos dedos (Sim! Dá pra notar as diferenças). Existe o toque ansioso que anuncia urgência. Há o inseguro que pede cautela. A Psicomotricidade relacional me ensinou que o corpo tem discurso próprio e a linguagem corporal é a forma de comunicação mais primitiva do ser humano. O gesto se transforma em palavra. A motricidade é a primeira manifestação de vida que temos. É através dela que inicialmente procuramos entrar em relação e nos comunicar com o mundo. O corpo reflete a vida psíquica do sujeito.

Abrir a porta depois do toque e estar ali, cara a cara, e receber o impacto da chegada. Adoro receber cada um na porta e notar qual o impacto que essa pessoa causa em mim? Psicologia, e em especial, psicologia clínica diz respeito aos detalhes. Estamos o tempo todo dando indícios de nós mesmos em cada gesto e atitude. Por mais que estejamos perdidos ou até negligenciando nosso eu, não conseguimos escapar de nossa essência e de nossa verdade. Ela escorre e transborda no olhar, na roupa, no arrumar do cabelo, no toque, no tom da voz, no bater da porta, no cheiro, na forma de andar e etc. Não escapamos nunca de quem somos. 

Somos, indiscutivelmente, seres que se constituem em relação. Vitor da Fonseca anuncia "A sociedade é para o homem uma necessidade orgânica". Desde a nossa concepção que estamos em relação e ela será a base da nossa subjetividade e vida psíquica. A presença humana ressoa diante de outra pessoa humana. Cada sujeito que chega até nós causa um efeito interno. Não há como sair ileso de um encontro entre seres humanos. Sempre seremos tocados. Em psicoterapia, busco ficar atenta em como aquela presença humana ressoa dentro de mim. De que maneira esse cliente me impacta? Como me sinto diante desse indivíduo? É assim que posso trocar autenticamente com ele. Somente quando me conecto com minha humanidade é que posso alcançar e compreender a humanidade do outro. É difícil não se perder e aprender a filtrar, mas gosto de acreditar na honestidade dos afetos. Psicoterapia não é uma relação linear. Gosto de pensar que estamos em diálogo. Construímos juntos o processo. Participo ativamente, afinal de contas, estou ali, presente. Assim, como o cliente que está diante de mim, sou um sujeito humano com necessidades e desejos. Cuidar da minha subjetividade é zelar pelo processo terapêutico de quem me procura. Fico curiosa pensando: Como será que é minha batida na porta? Infelizmente, no consultório da minha psicóloga tem campainha. Mas como disse anteriormente, não escapamos nunca de quem somos e estamos o tempo todos mostrando para o mundo nosso eu. Ela, volta e meia, brinca comigo e diz: "Eu escuto você chegar já quando vem subindo as escadas e suas respiração forte na porta."Às vezes, chego sem alarde. E é nesse encontro entre duas subjetividades diferentes que se constitui o processo terapêutico.  

Andreza Crispim
Psicologia Clínica CRP 02/17314
Psicomotricidade Relacional


quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

A vida é um pega-pego de olhos vendados.

Lembram-se da cabra cega? É um jogo de pega-pego onde o pega está com os olhos vendados. Os outros ficam de olhos abertos e perambulam ao redor do "cabra cega" desafiando-o. Lembro-me que existia algumas regras: O "cabra cega" não poderia ficar parado. Quanto mais ele se movimentava era melhor pro jogo. E os outros precisavam se aproximar do pega. Quanto mais eles se arriscavam no contato com o "cabra cega" aumentava a tensão do jogo. 

Uma experiência no consultório fez-me lembrar dessa brincadeira. Propus um experimento para um cliente onde ele ficava de olhos fechados e pensava sobre seus objetivos e sonhos. Na medida que ele visualizava algo caminhava (de olhos fechados) para chegar até aquele objetivo. Quando pensava na possibilidade de esbarrar em algo tinha medo. Então, caminhava com cautela e receio. Esbarrou em alguns móveis e alguns, ele até imaginava que ira aparecer em seu caminho. Notou que podia reorganizar sua rota e que esses esbarrões não impedia sua caminhada. Alguns móveis ele nem imaginava e não sabia em quê estava batendo, mas mesmo assim, continuou caminhando. Às vezes nem tinha mais um objetivo bem traçado e ainda assim caminhava. Não sabia para onde estava indo e ainda assim caminhava. Aos poucos foi ganhando confiança e começou a andar mais relaxado, mesmo não sabendo para onde estava indo e o que poderia encontrar. 

Na nossa vida seguimos adiante sem visualizar o amanhã. Caminhamos pela vida como o cabra cega, desejando, almejando, idealizando, porém não temos a visão do porvir. Temos apenas que confiar e ter coragem para ir. É angustiante não ter a plena certeza e segurança do que virá. Ficamos receosos e apreensivos. Queremos prever. Às vezes achamos melhor esperar do que ir buscar, mas lembrem-se do cabra cega. É muito chato quando o pega fica apenas de prontidão esperando. A graça está na busca. Em quando ele sai como um zumbi com braços estirados e sedentos atrás do nada. É nesse momento que ele amplia suas chances. A sua busca é um convite para as outros irem interagir com ele. A sua espera diminui o ritmo do jogo e desmotiva. Saí o grito de reivindicação: "Ah! não pode. Fulano tá roubando. Tem que vir atrás." Sim, na vida não podemos parar e esperar. A vida exige busca, caminhada, movimento. Na vida caminhamos e de repente, esbarramos em algo que não havíamos pensado. Em alguns momentos precisamos mudar o percurso, ficamos confusos, as vezes nos machucamos, cuidamos disso e seguimos. Sempre seguimos. Quanto maior a insegurança, maior é a tentativa de controle, já dizia Frederich Perls. As nossas brincadeiras na infância contribuirão para os nossos processos enquanto adultos. Aquele brincar nos ajudará a estruturar e fortalecer as bases da nossa personalidade frente a desafios e adversidades futuras. Nunca pensei que a vida, no final das contas, seria uma grande brincadeira de Cabra cega. E cá estou eu (estamos nós) seguindo com os olhos vendados e algumas coisas consigo agarrar, outras deslizam sobre meus dedos, outras nem percebo, alguns esbarrões, tropeções, pancadas, quedas e ainda estou aqui, indo, visualizando internamente o meu caminho, os meus sonhos, porém, sem ter a plena certeza de que as coisas se darão como meu desejo constrói. Enfim, sigo.

Andreza Crispim
Psicologia Clínica CRP 02/17314
Psicomotricidade Relacional
@psicoterapiafalemais
/

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Psicoterapia é espaço para falar os silêncios. De expor, o que geralmente, decidimos calar, evitar, guardar, esconder e dissimular.

A psicoterapia é espaço de calar o discurso comun que usamos no nosso cotidiano para administrar os afetos e as relações. Descobrir outras maneiras de expressar nossas emoções e perceber o que fica encoberto pelo receio de sofrer.  

Psicoterapia é lugar de enfrentamento. Encarar a nós mesmos. E acolher, sim acolher, sobretudo acolher, nossos infortúnios, nossas fragilidades e vulnerabilidades.

Sobre política, fronteira de contato e identidade. Sobre o direito de existir.


Somos indivíduos únicos e singulares. Somos a soma de nossas experiências de vida e a maneira como percebemos e lidamos com esses eventos. Quando falamos de subjetividades não falamos em igualdades, falamos em semelhanças, e na semelhança incluímos, inevitavelmente, a diferença. Então, é a diversidade de nossas personalidades que nos define. É, graças as diferenças, que construímos nossas particularidades. Sem a diferenciação não haveria a identificação. Pois, na igualdade não há identidade.

A diferença é o que constitui o ser como único, e sendo único, ele procura aspectos no mundo aos quais se identifique. Ele procura por semelhanças, e as semelhanças une os sujeitos, atraem as pessoas. Como seres únicos, evitamos as diferenças, a diversidade nos assusta e tendemos a evitá-la, rejeitá-la. Dentro de nossa fronteira de contato, buscamos manter aquilo que consideramos como ponto de identificação e expulsamos os pontos de distinção. “Assim, dentro da fronteira do ego existe geralmente coesão, amor, cooperação; fora da fronteira existe suspeita, estranheza e não-familiaridade.” (PERLS, Frederick S., 1997, p.23).

Quando o sujeito sente sua identidade ameaçada pelas diferenças, ele pode escolher (de forma básica e geral) por dois caminhos, o primeiro é avaliar, refletir e questionar para integrar/assimilar novas possibilidades de ser. O segundo é evitar, expulsar, rejeitar ou até mesmo destruir aquilo que lhe ameaça. A primeira provoca uma ampliação do ser e a identidade se modifica, pois adquire novas características. É um processo difícil e necessita esforço e períodos de adaptação que perturba a “tranquilidade” do Eu. O segundo, cria um estado de tensão e desperta a sensação de perseguição, paranoia e o enrijecimento da identidade para proteger-se do que considera ser uma violência.

“Só aquilo que é capaz de perturbar meu Eu corporal é que me provoca.” (LAPIERRE, André e AUCOUTURIER, Bernard, 1985. p.20). Ou seja “(…) nós só amamos e odiamos a nós mesmos” (PERLS, Frederick S., 1977, p.26). Tememos algumas diferenças, pois a percebemos como possibilidades de Ser. Somos afetados pelas diferenças apenas quando elas repercutem de alguma forma em nossa identidade. Assim, rejeitamos ideias fascistas, pois consideramos que elas ferirão algo que amamos. Aceitamos ideias fascistas, pois sentimo-nos ameaçados por outras posições políticas/ideológicas e acreditamos, que aquelas, protegerão valores preciosos para nós. Tememos que, aquilo que consideramos diferente e perigoso, afete nossa vida, nossa família, amigos e desestabilize a base onde constituímos nossa personalidade.

Alguns, para defender aquilo que consideram precioso, lançam mão e sentem-se legitimados a serem violentos. Perde-se de vista a empatia, pois o outro se torna só diferença, e se não há nada nele que seja semelhante a mim, não questiono feri-lo. “Cada um tem do outro uma ideia falsa. (…) Já o sentimento hereditário de ser alguém superior, com pretensões superiores, torna a pessoa fria e deixa a consciência tranquila: nada percebemos de injusto, quando a diferença entre nós e outro ser é muito grande, e matamos um mosquito, por exemplo, sem qualquer remorso.” (NIETZSCHE, Friedrich. 2012, p.62-63). Não percebemos que num mesmo ponto, existem semelhanças e diferenças. Ninguém é de todo diferente e ninguém é de todo semelhante. O que odiamos no outro é apenas alguns aspectos e não ele todo. Assim, como o que amamos no outro não é sua totalidade. Em todos nós existem diferenças que nos afastam e semelhanças que nos unem. Desejar extinguir as diferenças é assassinar o direito universal de construção de identidade. Extinguir as diferenças é exterminar possibilidades de crescimento e de Ser. Repito: “Quando falamos de subjetividades não falamos em igualdades, falamos em semelhanças, e na semelhança incluímos, inevitavelmente, a diferença. Então, é a diversidade de nossas personalidades que nos define. É, graças as diferenças, que construímos nossas particularidades. Sem a diferenciação não haveria a identificação. Pois, na igualdade não há identidade.”.

E, cada lado, luta pelo direito de existir e manter sua identidade.

Andreza Crispim
Psicologia Clínica CRP 02/17314
Psicomotricidade Relacional
@psicoterapiafalemais

Referências bibliográficas:

LAPIERRE, Andre e AUCOUTURIER, Bernad. Os contrastes e a descoberta das noções fundamentais. 2° ed. São Paulo, Editora Manole, 1985.

NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres. São Paulo: Companhia das letras, 2005.

PERLS, Frederick Solomon. Gestalt-terapia explicada. 2. ed. São Paulo, Summus, 1977.


domingo, 16 de setembro de 2018

Psicomotricidade Relacional e a coragem de ser.

De 13 a 15 de setembro aconteceu o III Congresso Internacional de Psicomotricidade Relacional em Curitiba. Nesses três dias mergulhei intensamente em um universo de afeto. Vivi experiências indizíveis, indescritíveis e que escapam de uma lógica racional. Definitivamente estou imersa em emoções. Como estou tocada. Toque! Esse é o ponto de partida e o ponto de chegada. A Psicomotricidade Relacional chegou para mim no ano de 2014 e ela surge como um caminho a seguir. Ela aparece, em mim, como um objetivo. Na verdade, ela cresce como uma missão. Hoje, ela me dá sentido, direção e suporte. A Psicomotricidade Relacional despertou o meu desejo de me fazer vida.

Falar de Psicomotricidade Relacional é falar de amor. Amor puro. Amor originário. Amor que é base. Amor que constrói. Amor que nutre. Falar de Psicomotricidade Relacional é falar do Ser. Da coragem irremediável de Ser em um mundo que, pouco a pouco, vai nos sufocando, aniquilando, rejeitando e negligenciando. Ser em um mundo que está adoecido na precaridade do respeito ao próximo é campo de angústia e perda. Encarei tantas fragilidades minhas, mas principalmente, percebi tantas potencialidades. Psicomotricidade Relacional é encarar o outro na sua autenticidade e abraçá-lo nessa sua particular configuração. Psicomotricidade Relacional é perdão, é resgate de vínculo, é passagem, é fluidez, é, simplesmente, amar. Como é difícil amar e ao mesmo tempo, como é básico amar. Amar a si próprio é tão difícil. Perdoar a si mesmo é tão complexo. Cometi erros. Falhei. Ultrapassei limites. Desculpe a todos. E principalmente, desculpe a mim mesma por ter me julgado, me traído e me punido por esses erros. Por que pretendo ser perfeita? Por que volto-me para a dificuldade e puno-me pelo o que encaro como falha ao invés de valorizar e reconhecer minhas potências? Por que insisto na dor mesmo quando percebo que existe tanto carinho e amor?

No Congresso de Psicomotricidade Relacional pude nascer. Fui o primeiro bebê. Quem viveu esse momento sabe do que falo. E como eu precisava nascer. Eu tinha de estar ali. E eu tinha de ser a primeira. A vivência em Psicomotricidade Relacional é visceral. Encontrei a minha mãe. Escolhi a minha mãe. Pude ser dela, entregar-me a ela, e por um segundo, confiar nela, apesar de todo o medo que isso revela em mim. Encontrei o meu pai e o meu papai. Encontrei e reafirmei o meu irmão. Tudo isso no campo do simbólico. Não falo aqui das figuras reais. Falo aqui de um afeto. E é somente o afeto que poderá curar as rupturas no terreno real.

Em Psicomotricidade Relacional não fingimos sentimentos. Em Psicomotricidade Relacional nos atiramos e nos disponibilizamos para encontrar o outro na nossa verdade. O que cura é presença humana. O que toca é a verdade do amor. Não é uma técnica a ser aprendida. É uma técnica a ser vivida, a ser integrada e assimilada. É uma técnica que vai convocar o Ser e não o fazer. 

Sou pura imensidão. Estou extasiada. Estou encantada. Estou estarrecida. E tenho medo de tudo isso, assim como desejo e almejo, tudo isso. Existe um percurso longo. Começo a ter mais paciência e menos pressa. Vou errar muito nesse caminho. Estou aprendendo a ser. Estou aprendendo a me amar com todo o meu ser. Estou aprendendo a aceitar o meu ser. 

Quero agradecer a André Lapierre e a Anne Lapierre pela sensibilidade e coragem de ter revelado para nós esse método de vida. Sou grata a Leopoldo Vieira por sua dedicação e luta pela manutenção dessa proposta. Graça Cunha pela oportunidade e confiança no meu trabalho e por sua legitimação do meu lugar como psicomotricista relacional. Jussara por sua delicadeza em me apoiar e me guiar na minha formação pessoal (você nunca desistiu de mim). Patrícia Távora por sua presença feminina que convoca a minha feminilidade. Esquilo por seu olhar, sua espera e seu reconhecimento na minha formação pessoal.  Ao G15 que encarou e dividiu esse processo comigo. Helena e Simone por serem lindas e ensinarem para mim como ser melhor. Aline por sua coragem em estar mergulhando no seu universo particular. Vitor Garcia (Vitor gracinha, vovô!) que transbordou encantamento, amor, carinho, simplicidade, onde a sua presença humana me convida a ser mais responsável com a minha humanidade. Diogo de Miranda (aqui as palavras não conseguem abarcar) apenas por estar junto comigo sonhando e cuidando. Todas as pessoas que toquei e pude tocar nesse congresso (vocês contribuíram imensamente com a descoberta da beleza do meu ser). E, especialmente, a Ibrahim Danyagil e Ceça Gomes (Meus inestimáveis analistas corporais)  por todo amor que emanam e despertam sobre mim. A grandiosidade desse trabalho não cabe em palavras, afinal de contas, somos corpo. A Psicomotricidade Relacional está em todo o meu corpo e transborda. Perdoem-me se as vezes não consigo conter. Estou aprendendo e é necessário muita coragem para aprender a ser. Obrigada! Imensamente Grata. 

O Ícone: Desenvolvimento humano é meu templo, minha casa, meu tapete. Esse lugar é benção. Esse lugar é origem. Como essa casa estrutura meu ser.

Segue algumas fotos que talvez demonstrem o que tento descrever aqui. Proponho que percebam o olhar, o toque, o corpo, a verdade.

















Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista relacional
@psicoterapiafalemais

sábado, 25 de agosto de 2018

Sentido

Há em mim um sentido que nem sempre a palavra alcança.

Há sentindo em ser quem sinto que sou.

Nos meus limites, no meu não, no meu sim e até mesmo, no meu talvez.

Há um sentir nos meus desejos, nos meus quereres, nos meus sonhos e no quanto, eu me arrisco ao me permitir sentir e ser.

Que sempre possa haver a possibilidade de construir sentido aonde meu corpo se fizer vibrar, e aonde não, que eu possa apenas estar naquilo que não me agrida.
Confiar, inovar, desafiar.

Ser cuidado. Ser cuidada. Ser sozinha. Ser encontro.Sentir é um privilégio.E nós, somos privilegiadas por abrirmos o coração, o riso e o choro.

Eu vibro em ressonância a energia que emana de nós. Nós? Não, laços! Que seja laço. Que tenha abraço. Que tenha colo. Que venha o apoio.

Afirmar, com segurança, meu ser e o quanto eu sou SENTIDO.

Ser mulher é privilégio.

O feminino é útero, é casa, é acolhimento, é nutrição, é força, é sedução e poder.

Jamais esqueçamos do potencial de prazer que existe em nós!

quarta-feira, 2 de maio de 2018

No meu tempo de escola...

Quando eu era pequena minha mãe trabalhava de segunda à sexta das 9h até as 18h. Para chegar ao serviço no horário ela tinha que sair de casa por volta das 7h40 e só chegava em casa por volta das 19h30. No sábado ela ainda trabalhava meio expediente. Sua folga era aos domingos que íamos à praia SAGRADAMENTE para que ela aproveitasse seu dia. Era uma rotina cansativa que não cessava quando ela chegava em casa, pois ainda havia os afazeres domésticos para cuidar, dois filhos para criar e um marido para zelar.

Dito isso quero confessar que minha mãe nunca me ajudou nas tarefas escolares. Ela não sentava comigo à mesa e me ensinava a lição. Minha mãe não corrigia minhas atividades e nem revisava os meus exercícios. Na verdade, as vezes ele nem cobrava sobre a realização dos mesmos. Sei que na minha época escolar a maioria dos meus amigos e amigas não tinham os pais como colaboradores da hora de fazer "as obrigações" escolares. Alguns os pais até cobravam, procuravam saber na escola sobre o desempenho do filho(a) e em casa ficavam atentos às atividades das crias, porém não sentavam junto para fazer com eles os deveres.

Hoje, como psicóloga, observo um movimento diferente por parte de muitos pais. É bastante comum ver a presença e participação ativa dos pais quanto ao suporte dado na realização das atividades escolares de seus filhos. Eles respondem juntos, revisam e até corrigem com o(a) filho(a) antes do dia de aula. As tarefas escolares, em algumas casas, deixaram de ser atividades da criança/adolescente, para virar um evento em família.

Na minha infância a escola era o meu espaço, era a minha responsabilidade e lá eu vivia uma diversidade imensa de sentimentos. No colégio comecei a construir uma vida independente dos meus pais. Ali, era o meu lugar, onde eu ensaiava meu ser e lidava com as minhas emoções sem a presença ativa dos meus pais. Era assustador e também era libertador. Claro que a escola dialoga com os pais sobre a vivência das crianças e adolescentes dentro de suas paredes, mas é IMPOSSÍVEL ter o controle total. Então, a escola é aquele lugar onde a criança/adolescente precisará tomar atitudes sem ter o suporte direto dos pais (Pense em um bagulho louco...).

Como já disse, eu fazia (ou não fazia) as minhas tarefas sozinha. Ao chegar na aula precisava lidar com variadas situações. Quando cometia erros na lição enfrentava a vergonha, a decepção e a frustração. Às vezes, precisava manejar a inveja, pois havia colegas em sala que acertavam tudo ou mais do que eu. O sentimento de fracasso e ineficiência me invadia. Respirava fundo. Não eram sentimentos bons, fáceis porém, fundamentais de serem compreendidos e manejados. Na próxima vez ficava mais atenta à tarefa e tentava acertar mais, ou desistia e recorria a outras estratégias de "efetivação das lições de casa". Enfim, era necessário aprender a conviver com aqueles sentimentos.

Havia momentos que a tarefa estava impecável. Acertava TUDO. Ai, que delícia! O sentimento de sucesso, de competência e eficácia invadiam meu ser. Era incrível. Também era fundamental aprender a manejar essa gostosura de cenário emocional. É perigoso se perder na arrogância e desejar manter esse padrão alto é estressante, inconsistente e fragilizador, pois, logo em seguida a escola me ensinava que haveria o erro. O erro era inevitável. E lá estava novamente lidando com minhas frustrações (Droga!). O sucesso e o fracasso eram meus. Só meu. Eu assumia cada escolha e cada desdobramento.

Será que hoje com a participação ativa dos pais as crianças e os adolescentes estão tendo a oportunidade de se responsabilizarem por esse universo emocional? Será que essa presença dos pais está reforçando a dependência ou estruturando a base para uma autonomia posterior? Até que ponto os(as) filhos(as) não utilizam as tarefas escolares como oportunidade para se relacionarem com seus pais, pois percebem que nesse cenário há mais facilidade? Até que ponto as crianças e os adolescentes utilizam a participação dos pais nos deveres escolares  como forma de evitarem assumir suas escolhas e sentimentos? Você, como pai e mãe, percebe que usa a hora da tarefa como forma para se aproximar de seu filho(a)? Você descreve seu filho como autônomo ou dependente e qual a sua contribuição para a manutenção dessa característica?

São tantos os desdobramentos possíveis. Não há resposta certa ou errada. Cada realidade, cada relação desenvolve seu próprio universo. Penso que vale a pena refletir.
Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista Relacional
@psicoterapiafalemais

quarta-feira, 28 de março de 2018

Sobre terapia, pressa e esperança.

Escolher procurar por um psicólogo não é fácil. Iniciar uma terapia exige um processo anterior de aceitação e superação de idéias pré-concebidas. Existem diversos preconceitos com o trabalho do psicólogo, em especial, a psicoterapia/terapia. Buscar esse serviço indica a ultrapassagem dessa primeira barreira: o julgamento alheio que envolve o fazer clínico em psicologia. Quem nunca achou estranho quando alguém fala que vai à terapia? Pensamos logo em "Loucura, sofrimento e fragilidade". Nem sempre nessa ordem e nem sempre o pacote todo. Porém, esses conteúdos perpassam o nosso imaginário ao falarmos de psicoterapia.

Ok! Geralmente, devido a isso, quando o sujeito decide procurar por terapia ele está no seu limite. Ele vive o insuportável. Encontra-se transbordado, sufocado e exausto. O cliente chega com o sentimento de emergência e quer urgência, pois não aguenta mais. Ele tem pressa e nesse ponto encontramos um impasse. Na sua grande maioria as dificuldades vividas no processo terapêutico se dão pela necessidade de urgência que os clientes chegam ao consultório. A angústia está intensa e pede pressa.

Contudo, para a psicoterapia é preciso paciência. Aqui, não há pressa. Terapia exige tempo e não tem certezas. Ela maltrata os ansiosos por não ter respostas prontas e garantias. Chegar ao consultório pedindo por pressa é constatar uma limitação e se deparar com a frustração. Não é nada simples. O terapeuta que entrar na pressa do cliente perde a potencialidade da terapia e o processo empobrece. Eu cuido bastante da minha ansiedade pra que ela não atrapalhe a temporalidade do processo terapêutico. E admito, às vezes, ela me confunde. 

Psicoterapia pede tempo e espera. Eu diria esperança até. Esperança no movimento, esperança na dor e esperança na capacidade do cliente de enfrentamento. Às vezes eu penso: "Se essa pessoa aguentou até aqui, então ela tem uma força gigantesca e vai suportar o processo de espera da terapia.". Caso contrário, irá procurar por soluções mágicas, velozes, prontas, práticas, sem sofrimento e desistirá da terapia, pois não trabalhamos com esses modelos. Terapia não anestesia. Terapia revira, procura, remexe, reabre, e trata, não para se alcançar um estado de "cura" , e sim para se aprender o "o quê" e "o como" estamos nos "adoecendo". Passamos a tomar consciência dos nossos processos de bloqueios e impedimentos para, enfim, agirmos sobre eles e isso muda a forma como encaramos a nossa vida.

Adiantando um pouco as coisas, recomendo que busque terapia antes da urgência. Que você possa ir quando ainda puder tolerar. Que a procura surja quando as coisas não estiverem insuportáveis. Que a terapia possa vir no momento que ainda há serenidade. Garanto, que isso será algo que facilitará um pouco mais o trabalho. Vai por mim... Ou não. Na verdade, você que sabe. 


Foto: Thyeri Bione


Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista relacional
@psicoterapiafalemais



terça-feira, 7 de novembro de 2017

Carta para meu/minha cliente.

Caro(a) cliente,

Quero admitir que nossa relação nem sempre será fácil. Iniciamos com muitas expectativas e a principal delas se resumi aos sentimentos de acolhimento, cuidado e confiança. Esse tripé constituí a nossa relação e é o que se espera que se baseie um processo psicoterapêutico. Sim, esse tripé é fundamental. 

Nosso início é delicado. Você não me conhece. Eu também não faço idéia de quem és, porém, você está aqui diante de mim compartilhando sua história com a esperança de que isso seja transformador. E acredito que será. Após um tempo percebemos que nosso relacionamento está mais leve. Sem tantos receios e desconfianças. Ambos estamos mais confortáveis aqui. Há entre nós acolhimento, cuidado e confiança.

E é exatamente por acreditar nesse tripé que construímos e que estamos, constantemente, fortalecendo que lhe reafirmo: nossa relação nem sempre será fácil. Eu direi coisas que vão lhe machucar. E confesso, às vezes, vai doer em mim também. Porém, tais coisas serão essenciais, acredito eu, para o trabalho que VOCÊ se propôs da autodescoberta e do desvelamento da sua verdade interna. Eu não pretendo lhe poupar.

Quero deixar algo claro: eu NÃO trabalho PARA você. Eu trabalho COM você. Isso demarcará a nossa relação. Eu não lhe sirvo. Eu não lhe obedeço. Eu lhe ACOMPANHO no seu processo de autoconhecimento e minha função é facilitar e cuidar do processo e da forma como lida com ele. Então, em alguns momentos, serei dura com você. Não será gratuitamente, eu garanto! Procuro ser honesta quando você recorre a mentiras. E isso, geralmente, é um saco. Eu sei, mas me preocupo com a sua autenticidade.

Assim, quando você finge, revelo. Quando esconde, encontro. Quando foge, aponto. Quando você fala, escuto. Quando cala, eu falo. Quando escurece, acendo. Quando segura o choro, exponho. Quando sufoca a raiva, a ressalto. Quando debocha, fico séria. Quando evita, atraio. 

Irritante né? Eu sei. Dói. Eu sei. Não vou lhe pedir desculpas por isso. Faz-se necessário para crescer. Estou bem aqui para ser honesta com você e ajudá-lo(a) a ser consigo mesmo. Eu lhe respeito e tento a todo custo cuidar para que também se respeite. Eu lhe vejo como sujeito capaz, livre e potente. Não vou lhe subjugar. Não vou diminuí-lo(a). Olho para a saúde e considero que a verdade liberta, apesar de suas inconveniências. Acredite, considero seus limites. Procuro seguir seu ritmo, seu tempo, seu momento. Ficarei atenta para não extrapolar sua capacidade de perceber e lidar com as coisas, no entanto, haverá circunstâncias em que vou apertar esperando que se supere. E em algumas situações você vai. Nesse ponto reafirmamos nosso laço. 

Nossa relação é pautada no acolhimento, cuidado e confiança. Estou aqui com você. Sou presente. Disponível. Apoio. Confie. Você vai me odiar em alguns momentos. Só quero lhe dizer que entendo. Espero que isso lhe faça bem.


Atenciosamente,

Sua psicoterapeuta. 

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Sentimento bom é aquele que a gente coloca pro mundo.

Vou desabafar uma ideia com vocês: sentimento pra completar uma transformação ele precisa ser expresso. Sim, porque o sentimento chega propondo uma transformação. E isso é com todo sentimento, seja a alegria, a tristeza, a raiva, o nojo, o orgulho, a vaidade, a paixão, a compaixão ... nenhum sentimento chega pra manter as coisas como estão. Ele vem sugerindo algo sobre o que está sendo vivido e para que ele complete seu ciclo ele precisa de expressão.

Pensa nisso: quando você sente uma alegria e não conta pra ngm e nem a comemora, o que acontece? Parece que a alegre se emudece. Perde força. Fica sem graça, num é? E quando a gente divide ela com alguém ou sai saltitando e batendo palmas pra si mesmo o corpo ganha energia. Fortalece-se. O mundo brilha. Você acende e se torna mais vívido, mais ousado, mais atraente e interessante.

Isso também ocorre com a tristeza. Quando solitária ela se torna peso, amortece, enfraquece, sufoca, isola. Quando compartilhada vira cachoeira, dilui-se, pode atrair apoio, possibilitar carinhos, enxergar possibilidades...

Somente na relação com outros e na expressão de nós mesmos conseguimos encontrar sentido pras experiências de nossa vida. Nossos afetos precisam encontrar espaço pra eles poderem ser, aparecer, causar e realizar mudanças. Não é fácil. Porém, existe um mundo de possibilidades e você pode até se surpreender ao notar que existem pessoas que não irão lhe rejeitar com isso, na verdade, você poderá receber um acolhimento que jamais experimentaria se continuasse a viver escondendo, negando e sufocando a honestidade de suas emoções. 

Que cada um de nós possa ter alguém pra que com ele/ela sejamos fiéis e honestos com nós mesmos. 

Foto: Thyeri Bione

sábado, 27 de maio de 2017

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Pequena reflexão de meio dia

É importante deixar claro que o processo de assumir o próprio desejo, de tomar consciência dos próprios sentimentos e se apoderar de suas escolhas não acontecem sem certa dose sofrimento, ajustes, reajustes e conflitos.

Uma notícia: não dá pra se realizar na vida sem passar por situações de crise e conflitos. É inevitável, gente.

Ter coragem pra caminhar é imprescindível. Duas coisas: autoestima e auto-confiança. Como estão essas duas características na sua vida e como você percebe que elas interferem nas suas decisões e na sua rotina?

sábado, 15 de abril de 2017

Uma flor é uma flor. Uma flor não pode ser nada além de uma flor.

Quando nos preocupamos demais em como o outro poderá lidar ou reagir às nossas atitudes estamos tirando do outro o poder dele intervir e responder pela própria vida. Na verdade, quando eu me impeço de realizar alguma atitude com o discurso de não faço tal coisa para não chatear, magoar, estressar, importunar outra pessoa, quero dizer que tenho medo de não ser aceita, recebida e acolhida por esse outro. Eu, somente eu, sou responsável pelos meus impedimentos. A forma como o outro vai reagir não é minha responsabilidade, não é do meu controle. Eu só posso dar conta da minha vida.

Eu não preciso corresponder às expectativas alheias e os outros não precisam corresponder às minhas. Eu sou eu e você é você. Que possamos ser livres e nos respeitar nessa liberdade. Que possamos ser encontro. Que possamos ser. Eu posso lidar com minhas decepções e você pode lidar com as suas. Eu me liberto e o liberto também.

Foto: Mateus Melo.
instagram @imagemsonhada
_______________________________________
Siga o instagram @psicoterapiafalemais
e a página https://www.facebook.com/psicoterapiafalemais


domingo, 2 de abril de 2017

Sobre ansiedade ...

A ansiedade me aponta para o futuro e seus riscos. A ansiedade me aponta para o futuro e meus receios. A ansiedade revela meus desejos e meus medos. Temo a ansiedade quando ela tenta me impedir de tentar e , de repente, me percebo aprisionado nas diversas possibilidades de fracasso e não consigo enxergar que há também chances diversas de sucesso. Fico estressado quando a ansiedade me faz esquecer do quanto eu sou capaz de lidar com as adversidades. Futuro não é certeza. Futuro não está pronto. Eu posso construir. Na verdade estou em reforma o tempo todo. Fico triste quando não noto o quanto a vida segue em frente inevitavelmente e que eu posso, estou e vou caminhar sobre ela, pois não posso, não estou e não vou ficar parado. Eu ando e andei sobre minha vida. Fiz algumas escolhas que me levaram por caminhos tortuosos, as vezes por perder de vista o meu desejo ou porque simplesmente não dá pra saber exatamente onde nossas escolhas vão nos levar. A vida é desdobramento e uma grande dose de surpresa. Fico chateado quando tento de todas as maneiras prever e controlar as circunstâncias da minha existência. Gasto tanta energia fingindo ter o controle das incertezas do futuro. Acabo exausto e deito na cama assustado com as milhares de coisas que fantasiei, e que pior, acredito nelas como se fossem reais.

Ai, a ansiedade tira o meu sossego. Saio do centro. Se eu pudesse aceitar que o futuro ainda não existe e acreditar na minha capacidade de sobreviver aos infortúnios imprevisíveis, talvez assim, a ansiedade pudesse ser uma boa conselheira e não o meu carrasco.

Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista Relacional
@psicoterapiafalemais

A psicologia e seus instrumentos de trabalho.

Os instrumentos de trabalho dx psicólogx são as coisas que mais temos dificuldades em olhar. Elx trabalha com nossos medos, receios e inseguranças. Observa nossas tristezas, magoas e decepções. Utiliza nossas frustrações para entendermos as imperfeições e prosseguirmos adiante apesar de tudo. Escuta nossos silêncios, interrupções e impedimentos. Fica atentx para a falta, pois sabe que por detrás dela existe um desejo. Acolhe a indignação, a raiva e a culpa. Cumprimenta a vergonha e a pede para se expor. Aceita a fantasia e a mentira, mas deixa claro o papel de cada uma. Abraça a inveja e o orgulho. Dignifica o fracasso. É paciente com a ansiedade. Respeita a fraqueza. Compreende o inexplicável. Sabe que a vida é o todo. Acredita na poesia da rotina. E após dar espaço ao que rejeitamos ampliamos nossas potencialidades. Psicólogx trabalha com qualidade de vida. Uma vida inteira, integrada e autentica. Uma vida repleta de possibilidades.

Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista relacional
@psicoterapiafalemais

segunda-feira, 6 de março de 2017

O silêncio na terapia

As pessoas pensam que terapia se passa pelo o que elas falam. Ah, não. Não mesmo. Terapia se passa pelo o que elas calam. São os nossos silêncios, na maioria das vezes, que apontam a direção dos nossos afetos e dos nossos entraves. É quando calo que o sentimento surge e pondera. A palavra vem pra calar um afeto. Por isso, importante falar sobre aquilo que nos silencia. Por isso, ir a terapia é tão difícil, porque não vamos falar do que falamos por aí, vamos falar dos nossos silêncios. E isso, é assustador. Mas garanto que haverão muitas revelações e sairemos mais despertos.

Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista relacional
@psicoterapiafalemais

sábado, 24 de setembro de 2016

O equílibrio está no movimento.

É no inesperado que a terapia acontece. É na surpresa que as coisas são reveladas e desvendadas. É quando não se espera algo que a novidade poderá aparecer. De repente surge a dúvida no lugar onde só havia certeza. Quando o cliente chega até nós sem esperar nada, sem saber o que falar, sem saber o que pensar, faz-se nesse momento um terreno fértil onde qualquer coisa pode se cultivar e germinar. Não há resistências montadas. Não há defesas bem estabelecidas. Simplesmente estamos ali. Apenas estamos.

Lembro uma vez conversando com uma amiga que estava em processo terapêutico e dizia, que naquele dia, não tinha nada pra levar pro psicólogo. Estava tudo tão bem, tão tranquilo, tão em paz, que não havia "conteúdo" para a sessão, e que estava até pensando em não ir. Sugeri que ela não deixasse de ir e que falasse de como tudo estava bem. Que contasse o quanto as coisas, naquele momento, estavam boas e tranquilas. Terapia também é espaço pra se falar da felicidade. Ela assim o fez. No outro dia chegou pra mim e disse: Minha irmã, ontem foi uma das sessões mais fodas na minha vida. Tu não tem ideia. Sim, é no momento que não esperamos nada que coisas novas podem acontecer.

Lembrem-se sempre disso: quando nos entregamos a situação sem marcá-la com nossas expectativas é que algo realmente surpreendente poderá acontecer. Temos a tendência de planejar, projetar e imaginar as circunstâncias antes delas se delinearem, pois com isso esperamos estar mais preparados para possíveis frustrações. Geralmente nos planejamos para evitar o desprazer. Para ficamos mais seguros. Isso acontece principalmente quando já passamos por situações de tensões e sofrimento. Queremos evitar a repetição. Acabamos nos impedindo um pouco (ou muito) nesse processo. Quero dizer que ao evitarmos o desprazer e a decepção estamos evitando na mesma proporção o prazer e a conciliação. Não dá pra passar na vida sem vivê-la integralmente e a vida é tudo, prazer e desprazer. Nossas seguranças são ilusórias. Estamos passando. Às vezes tentamos ficar, tentamos manter, tentamos estagnar, mas não dá. Não dá! Estamos passando por mais que não nos percebamos nesse processo. "O tempo só anda de ida", já dizia o poeta Manoel de Barros. 


Claro que também precisamos estar cientes dos nossos limites e poder respeitá-los. Não precisamos estar sempre disponíveis a tudo e a todos. Podemos rejeitar, é claro. Na verdade, devemos rejeitar aquilo que não nos fará bem. O não existe para ser dito e ouvido. Porém não podemos nos engessar nessa atitude. Não podemos criar barreiras a mais do que as que realmente existem. Podemos rejeitar, mas também podemos experimentar, podemos aceitar e receber. No instante que reconhecermos nossos limites e respeitá-los sem superestimá-los faremos uso da  nossa liberdade de escolha e nos tornaremos mais responsáveis por nossas ações.

A vida acontece no inesperado, na surpresa. A terapia é espaço para revelações e descobertas. A terapia é espaço para encararmos as diversas verdades e aceitarmos as variadas mentiras que insistimos carregar na nossa história para podermos aliviar nossos sentimentos. Apenas conhecendo a versão singular de cada um sobre sua própria vida é que poderemos seguir o caminho mais apropriado para nós.


Desejo a todos muitas surpresas e que a vida seja uma eterna instabilidade. 

Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista Relacional
@psicoterapiafalemais

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...