segunda-feira, 26 de agosto de 2013

quarta-feira, 21 de agosto de 2013


Minha alma as vezes parece ser um gigante preso no corpo de anão.
Ela se transborda.
E não cabe dentro de mim.

Minha alma as vezes parece ser um anão preso no corpo de gigante.
Ela se perde.
E sobram espaços dentro de mim.


#Poemetos

Sinto algo germinar em mim.
Sinto palavras na boca do estômago.
São pássaros nas pontas dos lábios.
Minha obra de arte tem livre arbítrio.
Ela escolhe o que será.
De mim ela só tem as mãos
E um pedaço da alma.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

O ordinário.

Gosto do simples. Daquilo que facilmente passa despercebido. Aqueles instantes silenciosos. As demonstrações sem excessos. A troca de olhar entre uma mãe e seu filho que acaba de descer do ônibus e segue caminho para escola, enquanto que ela vai para o trabalho. Ou então aquela outra mãe que vai em pé e segura a mão da filha durante o percurso. A cara de espanto de uma criança quando vê algo que a surpreendeu e recebe do pai um sorriso. Duas crianças que dançam ao som de música nenhuma no meio da calçada. Três amigos dividindo um só guarda-chuva. Um gato brincando com uma barata. Aquela garota que chorava no banco do ônibus por debaixo dos óculos. A mãe que arruma o cabelo da filha com carinho. A despedida diária do pai que desce paradas antes dos filhos. O menino de rua que devolve o dinheiro que ganhou de esmola para ajudar o benfeitor que errou nas contas da caridade. A paciência do pai diante da irritação de sua filha. A coragem do meu sobrinho de insistir em apertar o botão da televisão e se assustar com a mudança dos canais. Ver um amigo gargalhar pela primeira vez. Andar pela chuva sem ter medo de se molhar. A garotinha que brinca de não pisar nas linhas da calçada. O movimento das ondas. O vento em frente ao mar. Coisas simples. Coisas grandiosas.

Foto: Jonas Araújo. (https://www.facebook.com/jonasaraujofotografia?ref=ts&fref=ts)




Faxina do cotidiano.


Fiz uma faxina no meu quarto e enquanto organizava tudo comecei a pensar na vida. Tinha po
eira por todo canto. Estava uma bagunça. Quando olhava para tudo aquilo me sentia desorganizada também. Então, decide limpar tudo. Iniciei tirando as coisas do lugar. Joguei muita coisa fora. Tinha tanto entulho. Coisas que acumulei. Vi que muita coisa não servia mais. Brincos sem pares. Papéis rasgados. Rabiscos sem sentido. Papel velho. Caixa de remédio. Objetos ultrapassados. Coloquei tudo em uma sacola e sacudi no lixo.

Quantas coisas acumulamos ao longa da vida? A maioria é inútil. Serve apenas para ocupar lugar e não possibilitar que outras coisas surjam. A novidade fica afastada por não ter mais espaço de tanta porcaria entulhada. Para quê acumulamos tanta coisa desnecessária na vida? A existência se torna pesada. Fechada. Congestionada.




Quando organizava a bagunça do meu quarto encontrei algumas coisas que não lembrava mais. Estavam largadas e escondidas pelos cantos do cômodo. Roupas caídas atrás da cama. Um colar antigo. O perfume. Documentos espalhados entre papéis emprestáveis. Coisas que juntava desde a infância mas nem recordava. Alguns juntei e despejei no lixo. Não me serviam mais. Estavam apenas ocupando lugar. Acumulando entulho. Outros guardei. Eles eram úteis.

Quantas coisas importantes esquecemos ao longo da vida? Algumas ainda são úteis para o presente, outras nem tanto. Tanta coisa boa soterrada pela quantidade enorme de inutilidade que juntamos no viver. Saber notar aquilo que ainda pode te servir no presente e o que não. Abrir mão do que não precisamos mais apesar de ter sido bom em outro momento. Quantas coisas perdemos no meio da desorganização que fazemos da vida?

Tive uma surpresa ao perceber a quantidade de moeda que tinha espalhada pelo quarto. Parecia até ser uma caça ao tesouro. No meio daquela poeira e bagunça encontrei algo valioso. Quantas coisas maravilhosas podemos encontrar na confusão da existência? Saber recolher tesouros a partir do caos é fundamental para o crescimento.

Não foi fácil limpar tudo. Durante o trabalho espirrei bastante e senti falta de ar. Era muita poeira. Porém, sabia que era necessário. Precisava limpar tudo, pois não aguentava mais tanta bagunça. Quantas vezes precisamos ao longo da vida ser fortes para ultrapassar ou alcançar algo? É preciso esforço para existir. É difícil, mas quem foi que disse que deveria ser fácil?

Hoje arrumei meu quarto e um pouco de mim.













segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Tu te renovas todo o dia na angústia: Game of Thrones e o sofrimento humano.

"O caos não é um abismo. Caos é uma escada. Muitos que tentam escalar falham e nunca podem tentar outra vez. A queda quebra-os. Outros tem a oportunidade de subir, mas se recusam. Eles se agarram ao reino, ou aos deuses, ou ao amor. Ilusões. Apenas a escalada é real. A escalada é tudo que existe." 

 - Petyr Baelish (Mindinho), Game of Thrones.


Confesso que me arrepiei quando ouvi o personagem de Aidan Gillen pronunciar tais palavras. O diálogo entre ele - Mindinho - e Varys foi encantador e se encerra lindamente com o discurso acima. As cenas por detrás das palavras compõem um cenário inquietante e nos deixa pensativos. O caos e toda a sua desorganização nos é colocado como uma possibilidade de crescimento. O caos como escada e não como poço.

Ao pensar nessa frase reflito sobre o sofrimento humano. Quando nos sentimos triste parece que o caos se instalou em nossa vida. Tudo se desorganiza. O sofrimento nos desabriga da morada do ser. Sentimos um incômodo no próprio sentir. Frustrados. Decepcionados. Desiludidos. Ficamos bagunçados quando estamos em sofrimento. Confusos.

O caos é a primeira divindade a surgir no universo. Seu nome deriva do verbo grego χαίνω, que significa "separar, ser amplo". Caos parece ser uma força catabólica, que gera por meio da cisão, assim como os organismos mais primitivos estudados pela biologia. Enquanto Eros é uma força de junção e união. Caos significa algo como "corte", "rachadura", "cisão" ou ainda "separação". (Wikipédia).

Sim, parece que o sofrimento nos separa do mundo. Há uma rachadura na nossa história. Um corte é feito em alguma parte da vida. Seguíamos um curso e nos deparamos com uma encruzilhada sem saber qual caminho tomar. O sofrimento nos arrasa. Maltrata.

A grande questão é: não se pode existir sem sofrer. Não há ser humano no mundo e na história que não tenha sofrido. O sofrimento integra-se a existência humana. O homem sofre por ser humano. Não se pode atravessar a vida sem experimentar suas desilusões. Ser humano implica em sofrer. (Eugène Minkowski).

A vida está sempre sujeita a decepções. O amor, a arte, o trabalho, a política, a filosofia, todos decepcionam até que se aprende a adorá-los por sua natureza real e não por aquilo que se deseja deles. A vida não corresponde às expectativas e está sempre a desiludir. Não se pode escolher viver apenas os aspectos positivos da existência – prazer, alegria, felicidade - viver corresponde a estar em constante trabalho de luto. (Comte-Sponville).  

O caos não está dissociado da existência. Eles caminham juntos em comunhão. Um se entrelaça ao outro e são indissociáveis. Assim como o deus Caos cria a partir da cisão, o sofrimento transforma a partir do processo de desconstrução e reconstrução de sonhos. Por meio do sofrer coloca-se frente ao indivíduo o problema do sentido da vida. Possibilita ao homem o reconhecimento do aspecto humano de sua trajetória, ou seja, através do sofrimento tomamos contato com nós mesmos e com a existência. É a possibilidade de reencontro com o novo. É mudança. É o estabelecimento de um novo contrato com a vida. Repensar-se. Recriar a si mesmo.

Ter consciência de tal condição humana e aceitá-la não é tarefa fácil. Nem todos conseguem reconhecer no caos a possibilidade de crescimento, de subida a uma nova condição. Nem todos percebem o sofrimento como ferramenta de amadurecimento. Agarram-se às ilusões falidas. Vivem a fugir de si mesmo. Preferem permanecer na perturbação atual do que se arriscar na novidade. "O mais fácil nem sempre é o menos complicado" (Os famosos e os duendes da morte). Nos tempos atuais a felicidade é dada ao homem como direito, ou melhor, como dever. Tentar manter-se feliz incansavelmente é padecer dessa tarefa. Já estamos notando o quanto ser feliz interminavelmente é impossível. Estamos sofrendo por excesso de felicidade. Já diria uma antiga supervisora de estágio, "felicidade demais é desespero".

Alguns caem na tentativa de escalar e se quebram. E somente um minoria consegue recolher desses pedaços uma nova chance. Talvez a própria queda seja o que dê oportunidade de sucesso na subida. Algumas vezes precisamos quebrar para construir algo com mais saúde. Nem todos conseguem. É difícil, porém somente a escalada é real. Somente esse processo de renovação constante é real. A escalada é a única coisa que existe. A realidade é pegar ou largar, no caso do exemplo acima, é subir os degraus ou se manter no pé da escada.

Para concluir uso as palavras de 
Comte-Sponville, "Aquele que só amasse a felicidade não amaria a vida, e com isso se proibiria de ser feliz. O erro é querer selecionar, como nas prateleiras do real. A vida não é um supermercado, cujos clientes somos nós. O universo nada tem para nos vender, e nada diferente para oferecer senão ele próprio - nada diferente para oferecer senão tudo." 

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...