sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Em nome do Pai, do filho e do Espírito Santo.

As vezes me pergunto: Por que escrevo?
Por que insisto na palavra? No papel?

Escrever é meu templo.
Aqui faço minhas orações e encontro com Deus.
Na beleza das linhas rezo meu Espírito Santo.
Admito minhas saudades e descubro o amor.
Expulso meus demônios.
Perdoo meus pecados.
Confesso minhas falhas.
Faço as pazes com o desengano.
Realizo milagres.
Recebo redenção.

Na escrita dignifico minha humanidade.
Viro benção.
Sou divina a cada ponto final.

Amém!

Quereres.

- Meu irmão, o quê que você quer? Perguntou-me ele.

Eu quero ter coragem de ir sempre que me for necessário partir. Quero não ter medo de perder o rumo. Quero não precisar do seguro e largar mão do estável. Quero ter coragem para saltar no incerto e criar do nada algo novo. Meu irmão, eu quero acreditar que posso desistir pra recomeçar. Confiar que posso. Quero cortar o caminho.

- Como é que é?

Sei lá! Tô só viajando.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Sobre psicologia e poesia…

Sou psicóloga e admito, meus clientes são poesias. Suas dores e confusões são belos poemas. Existe uma beleza no expressar do sofrimento e na força e coragem que cada um demonstra quando se debruça sobre seus destroços. A minha escuta tem função de abraço. Sem julgar. Sem desejar inibir.

Eu sou psicóloga e adoro poesia. Escuto-a sempre que vejo meus clientes fugir habilidosamente de suas verdades. É encantador os caminhos que decidimos percorrer para evitar de enfrentar nossos medos. Geralmente, esses caminhos acabam nos levando para lugares estranhos, distantes demais do nosso “marco zero” e para retornar precisamos enfrentar diversos desafios. Não é fácil, mas existe beleza nas nossas armadilhas.

Manoel de Barros anunciava “ Tem gente que nasce poesia.” E eu acho que todos nós nascemos assim. Porém, alguns se perdem no meio do percurso. Sou psicóloga e admito, as vezes, talvez sempre, a minha função é colaborar pra que cada sujeito reencontre a beleza poética nos seus dias. Que cada um possa ser o que puder ser a cada momento de seu existir. Se for dor, seja imensidão. Se for lágrima, seja tempestade no verão. Mas se for riso, seja sol. Se for alegria, seja calmaria de mar. Se for felicidade, seja vento no fim de tarde.

A vida precisa de poesia. E poesia simples. Poesia rasa. Da rotina. Do novo em cada repetição. Sou psicóloga e em alguns momentos também gosto de dizer que sou poeta.



Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista Relacional
@psicoterapiafalemais

sábado, 24 de setembro de 2016

O equílibrio está no movimento.

É no inesperado que a terapia acontece. É na surpresa que as coisas são reveladas e desvendadas. É quando não se espera algo que a novidade poderá aparecer. De repente surge a dúvida no lugar onde só havia certeza. Quando o cliente chega até nós sem esperar nada, sem saber o que falar, sem saber o que pensar, faz-se nesse momento um terreno fértil onde qualquer coisa pode se cultivar e germinar. Não há resistências montadas. Não há defesas bem estabelecidas. Simplesmente estamos ali. Apenas estamos.

Lembro uma vez conversando com uma amiga que estava em processo terapêutico e dizia, que naquele dia, não tinha nada pra levar pro psicólogo. Estava tudo tão bem, tão tranquilo, tão em paz, que não havia "conteúdo" para a sessão, e que estava até pensando em não ir. Sugeri que ela não deixasse de ir e que falasse de como tudo estava bem. Que contasse o quanto as coisas, naquele momento, estavam boas e tranquilas. Terapia também é espaço pra se falar da felicidade. Ela assim o fez. No outro dia chegou pra mim e disse: Minha irmã, ontem foi uma das sessões mais fodas na minha vida. Tu não tem ideia. Sim, é no momento que não esperamos nada que coisas novas podem acontecer.

Lembrem-se sempre disso: quando nos entregamos a situação sem marcá-la com nossas expectativas é que algo realmente surpreendente poderá acontecer. Temos a tendência de planejar, projetar e imaginar as circunstâncias antes delas se delinearem, pois com isso esperamos estar mais preparados para possíveis frustrações. Geralmente nos planejamos para evitar o desprazer. Para ficamos mais seguros. Isso acontece principalmente quando já passamos por situações de tensões e sofrimento. Queremos evitar a repetição. Acabamos nos impedindo um pouco (ou muito) nesse processo. Quero dizer que ao evitarmos o desprazer e a decepção estamos evitando na mesma proporção o prazer e a conciliação. Não dá pra passar na vida sem vivê-la integralmente e a vida é tudo, prazer e desprazer. Nossas seguranças são ilusórias. Estamos passando. Às vezes tentamos ficar, tentamos manter, tentamos estagnar, mas não dá. Não dá! Estamos passando por mais que não nos percebamos nesse processo. "O tempo só anda de ida", já dizia o poeta Manoel de Barros. 


Claro que também precisamos estar cientes dos nossos limites e poder respeitá-los. Não precisamos estar sempre disponíveis a tudo e a todos. Podemos rejeitar, é claro. Na verdade, devemos rejeitar aquilo que não nos fará bem. O não existe para ser dito e ouvido. Porém não podemos nos engessar nessa atitude. Não podemos criar barreiras a mais do que as que realmente existem. Podemos rejeitar, mas também podemos experimentar, podemos aceitar e receber. No instante que reconhecermos nossos limites e respeitá-los sem superestimá-los faremos uso da  nossa liberdade de escolha e nos tornaremos mais responsáveis por nossas ações.

A vida acontece no inesperado, na surpresa. A terapia é espaço para revelações e descobertas. A terapia é espaço para encararmos as diversas verdades e aceitarmos as variadas mentiras que insistimos carregar na nossa história para podermos aliviar nossos sentimentos. Apenas conhecendo a versão singular de cada um sobre sua própria vida é que poderemos seguir o caminho mais apropriado para nós.


Desejo a todos muitas surpresas e que a vida seja uma eterna instabilidade. 

Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista Relacional
@psicoterapiafalemais

sábado, 16 de julho de 2016

A vida é movimento. Precisamos aprender a caminhar.




Faz um bom tempo que não escrevo. Precisei parar. Necessitava de um tempo. Em alguns momentos na vida o que só podemos fazer é esperar. Permitir o movimento e aproveitar para nos visitar. Mergulhei em mim. Ressurgi.


Aprendi nesse tempo algo valioso. A vida é repleta de recomeços e essa lição foi adquirida observando e participando dos processos dos meus clientes na clínica. Vi que na nossa história o recomeço é algo inevitável. Estamos o tempo todo nos inovando. A vida sempre nos surpreende. É fundamental saber e acreditar no potencial de transformação que o passar dos dias possui. Tentamos de alguma forma gerar e garantir segurança com nossos planos, nossas poupanças, nossos empregos, nossas alianças e etc., porém, a vida nos pede recomeço. Ela exige que a gente se renove. Somos levados a mudar.

Mudança. Palavra confusa. Atraente e assustadora. Incerta. Misteriosa. Sedutora. Mudança. Palavra emocionante que instiga e mobiliza. É um salto no novo e o novo não tem roteiro. Temos dificuldade em não possuir roteiro. Em não saber qual papel encenar.

Mudança, recomeço e novo. Que conjunto de palavra mais perigoso. Às vezes decidimos evita-las, mas infelizmente não passamos pela existência sem visitá-las e revisitá-las. E daí surge a esperança que alimenta, fortalece, mas também maltrata. Tem situações na nossa existência que não queremos mais o risco do tentar. De fomentar em nossos corações aquela esperança e o temor de cair novamente. Não é fácil esse balançar da vida. Parece brincadeira. Parece sacanagem. Tem momentos que penso que a vida é tão simples que a gente, por ser humano e complexo, não consegue captar bem essa simplicidade. Complicamos tudo. Nascemos. Fomos jogados. E agora que estamos aqui precisamos fazer valer a pena. Recomeço, novo e mudança. Manoel de Barros tem completa razão quando diz que "o tempo só anda de ida." e não dá pra parar e nem voltar. Seguir em frente é o único caminho. A  gente precisa caminhar. Precisamos aprender o passo e compasso. Na verdade, precisamos aprender a dançar. Recomeço ...

A psicoterapia é a confrontação com essa realidade. É se debruçar sobre as diversas possibilidades de viver cada palavra dessa. Psicoterapia é mudança, recomeço e novidade, e consequentemente, aceitação do fluxo, do movimento, de si, dos outros e das circunstâncias incertas e inquietantes da vida. Psicoterapia não é fácil. É preciso coragem. 




 


Fotos: Thyeri Bione e Jonas Araújo.


Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista Relacional
@psicoterapiafalemais

afetos.

Eu sinto tristezas inconfessáveis.
Invejas reprováveis.
Orgulhos desaprovados.
Vaidades egoístas.
Raivas desmedidas.
Nojos deploráveis.
Angústias impensáveis.
Amores profundos.
Carinhos clandestinos.
Alegrias singelas.
Eu sinto.
Meu Deus! Que coragem eu tenho.
A minha força está em admitir meus afetos.
Sem temê-los. Sem negá-los.
Apenas estão aqui.
Apenas são.

Eu sou.

domingo, 5 de junho de 2016

minha arte secou.
sem sentido.
perdida.
afastada de si.

minha arte secou.
as lágrimas agora rolam.
sem poema.
só tristeza
escondida no sorriso de todo santo profano dia.

domingo, 29 de maio de 2016


gosto de brincar com palavras
apenas escrevo
não penso
quando vejo
faz rima
faz beleza
vira poesia
e eu poeta.


em cada linha que escrevo existe uma lágrima que não foi derramada.
Já deixei de chorar rios.







Foto: Cayo César

quinta-feira, 10 de março de 2016

A vida só quer uma coisa da gente: coragem.

"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem." (Guimarães Rosa).

A primeira fez que vi essa citação fiquei chocada com a força, simplicidade e veracidade das palavras. É tão simples que dá medo. É isso, a vida só quer da gente coragem. Pense bem, quantos sonhos foram deixados para trás por termos medo de arriscar? Quantos nãos foram calados por temermos as consequências? E haja desencontro e insatisfação. "Viver é um risco e eu tenho medo do perigo", já dizia Leoni. 


O tempo fica encarregado de nos mostrar o quanto a vida não nos pede autorização para romper nossa rotina e transformar nossos planos. Seguíamos ali, seguros, tranquilos e de repente "O correr da vida embrulha tudo". Ficamos confusos e perdidos. Precisamos reconstruir. Precisamos recriar. Como continuar frente a essa bagunça? Como prosseguir se nossos planos foram desorganizados? O que fazer agora? Hajam dúvidas. Haja medo. Será preciso coragem para sonhar novamente. Para acreditar novamente. Para seguir com novas perspectivas.

E ficamos assustados, pois percebemos que não estamos seguros. As coisas não são assim tão certas e seguem um caminho centrado. Nossa ilusão acabou, porém, parece que a vida pede que nos iludamos novamente pra continuar. Ela pede que a gente acredite quando perdemos a fé. Ela exige coragem quando estamos arrasados. A gente vai precisar a aprender a suportar e ultrapassar as dificuldades, pois "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.".

Por mais que não pareça estamos sempre em contato com coisas novas. A vida é um repleto encontro com a novidade. Não há como fugir disso. Notamos que chega um momento na nossa história que não dá mais pra repetir. Ela exige inovação. Diante do novo não temos respostas imediatas e pré-moldadas. Será preciso tempo, paciência e aceitação com as possibilidades de erros e decepções. Chega um instante na nossa caminhada que precisamos mudar o passo, o ritmo, pois não dá pra continuar da mesma forma. "O que ela quer da gente é coragem."

Ah, o quanto precisamos de coragem. Ela é o ponto de partida para tudo. Através dela tomamos decisões, aceitamos as consequências e reorganizamos nossos dias. Experimentamos novas formas de viver que sejam mais satisfatórias, encaramos as falhas, ultrapassamos as vitórias e assumimos nossos desejos. Coragem não para enfrentar a vida, pois não estamos numa batalha com ela, mas coragem para caminharmos ao lado dela de mãos dadas, passando por tudo o que vier no caminho e continuando apesar dos obstáculos.

sexta-feira, 4 de março de 2016

O Quarto de Jack.

Quem não assistiu se prepare, pois lerá algumas informações que podem prejudicar a surpresa sobre o filme.


O Quarto de Jack é um filme de extrema sensibilidade. Acompanhamos a situação de cativeiro de Joy, a mãe de Jack, que foi sequestrada aos 17 anos e vive nessa situação a 7 anos. Quanto a Jack, que possui 5 anos, não há sofrimento por viver isolado em um quarto de 10m², muito pelo contrário. O que assistimos é uma criança saudável que acredita que o mundo se resume a aquele quarto e mesmo com dificuldades tem uma vida feliz, alegre e repleta de sonhos.

Acredito que esse é o ponto mais complexo do filme. Jack, não vive em sofrimento por suas condições de vida. Com amor e dedicação, Joy conseguiu criar uma atmosfera de saúde no meio do caos e da dor. A criança é preservada. Mesmo nesse ambiente recluso o garoto tem uma criatividade imensa que o ajuda na leitura de mundo e a transformar seu universo. É possível constituir uma relação saudável dentro de um ambiente de imenso sofrimento. 

É fundamental salientar que o mundo de Jack se resume ao quarto. Tudo que ele se relacionou na vida foi com os instrumentos que existem no quarto. Mas, Joy sabe que o mundo é muito maior e começa a ter medo pela segurança do filho e assim, arquiteta um plano para a fuga. 


Fora do quarto as coisas tomam novas dimensões. Jack precisa se adaptar a tudo e todos. Joy, também. Para Jack a saída do quarto foi abertura para um mundo de possibilidades, novidades e desafios, as vezes assustava e ele questionava não poder voltar pra casa, sim casa. Já para Joy a saída do quarto foi encarar um mundo de perdas e lutos. Perceber o quanto as coisas mudaram e se questionar sobre a vida que perdeu, a história que foi interrompida. Haja dor. Pois, o cativeiro não era e nunca foi sua casa e sua casa, não era mais a mesma e nem ela.
 


O que aprendi com esse filme foi o quanto o ser humano se constitui de fato em relação, e mais do que o clima do ambiente, são as relações que transformam e nutrem nosso ser. O amor, o respeito e a compreensão são fundamental na formação de uma subjetividade. Não venha mais me falar de ambientes tóxicos, o que existe são relações tóxicas, como por exemplo, a repórter sem noção que entrevista Joy - que ódio daquela mulher DOENTE.

Para fechar um pequeno diálogo:
- Eu não sou uma boa mãe.
- Mas você é a mãe.












em meus olhos atirei lágrimas
chorei palavras entaladas
fui mágoa
virei cachoeira
renasci em pôr do sol
sou entardecer

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O tempo na psicoterapia.

Ultimamente venho pensando sobre tempo, mas não é um tempo qualquer, é um tempo que se desdobra e repercute na psicoterapia. Com os meus clientes venho aprendendo a ter paciência e respeito. Estou aprendendo a esperar e a aguardar as coisas acontecerem no momento que lhes for possível, e não na oportunidade que percebo. Espera, paciência, respeito, compreensão ... Venho aprendendo muita coisa com meus clientes. 


Cada sujeito tem seu tempo. Ouvimos muito isso na faculdade, em casa, nos livros, na vida e entendemos perfeitamente, mas sentir esse tempo, sentir essas nuances é algo bem diferente e difícil. Cada sujeito tem seu tempo e responde a ele de modo particular. No processo terapêutico ter essa afirmação em vista é fundamental, pois seremos seduzidos a querer "acelerar" ou "encurtar" o caminho a ser percorrido pelo cliente. Precisaremos ter paciência e saber esperar. Uma paciência questionadora e responsável. Uma espera ativa e atenta. 

Precisaremos estar atentos para percebemos em qual situação poderemos intervir e que tipo de intervenção será mais interessante para proporcionar o desdobramento do discurso do cliente e, gerar uma maior conscientização e apropriação de sua história. Necessitaremos do questionamento para notarmos os pontos de interrupção e fuga que possam estar dificultando a autodescoberta e, com cuidado e seriedade, trazer eles a tona e minimizar seus efeitos. A escuta do psicólogo nunca é passiva. Escutar não é passividade. Jamais será. Falar é de imensa responsabilidade, pois falamos em cima da história de um outro que num ato de confiança escolhe se revelar para nós. 


Venho aprendendo que uma intervenção, dentro de uma psicoterapia, nunca se perde de fato. Não desaparece. Não deixa de gerar um efeito. Talvez, por estarmos em outro tempo - cada sujeito tem seu tempo e responde a ele de modo particular - acreditamos que uma intervenção não tenha surtido efeito por não ter gerado o impacto que imaginávamos. Talvez, aquela intervenção surja como reveladora depois de um mês ou depois de um ano, quem sabe? De repente o/a cliente chega falando sobre alguma autopercepção que teve após assistir um filme, ler um livro, conversar com um amigo e traz suas conclusões e as descobertas e eu penso: "Gente, a gente falou sobre isso mais ou menos 4 sessões atrás e ele/ela não vê isso?". É incrível. Além de ficar claro que a vida reflexiva do cliente não se encerra no consultório, noto que, de certa forma, aquela sessão pode ter possibilitado uma maior disponibilidade para encarar esse assunto. Aquela sessão atrás que trabalhamos tal conteúdo, mas que não pareceu mobilizar afeto e energia pode ter sido "apenas" facilitadora de uma compreensão posterior e mais funcional, e isso é enriquecedor.

Ou então, acontece que de repente o cliente fala "Estava em casa e veio uma frase que tu me falou...", paro e penso: "Nossa, isso faz tanto tempo e só agora...". Sim, só agora que foi possível. Só agora que ele pôde digerir. Só agora que ele pôde mastigar. É preciso paciência, espera e compreensão.

 

Algumas vezes o cliente evoluirá e na outra semana poderá voltar a um entrave anterior que já tinha sido superado. O tempo é fluído e brincante. Nunca voltamos para o mesmo lugar por mais que tenha o mesmo endereço. Somos outro e muita coisa mudou também na paisagem, na temperatura, nas pessoas que frequentam o espaço, na organização dos móveis e etc. Entendem? O cliente nunca retrocede. Ele sempre caminha para frente, por mais que não possa aceitar e se dar conta disso. A vida é fluída e está em constante movimento. Temos todos nós, semanas boas e ruins, respostas maduras e imaturas. Precisamos aprender a esperar, sermos pacientes e a respeitar nosso tempo e o tempo alheio.







Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista Relacional
@psicoterapiafalemais

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Sobre autoconfiaça.


Aprendemos desde cedo de que não podemos fazer tudo. Aprendemos que temos limites e limitações. Aprendemos que o mundo não está a nossa disposição para a realização de nossos desejos. Essas lições são importantes. São necessárias para a vida em comunidade. Porém, pergunto-me, em qual momento paramos de acreditar em nós mesmos e na nossa capacidade? Tornamo-nos inseguros e assustados.

Passo a notar que muitas de nossas dificuldades se dão pelo fato de não confiarmos em nós mesmos. Temos medo de não conseguir. Tememos fracassar e assim preferimos nem tentar. Tá bom do jeito que tá, mesmo que não esteja tão bom assim. Não confiamos no nosso potencial. Somos descrentes das nossas habilidades. Não nos conhecemos mais (Nos conhecemos algum dia?). 

Grande parte das nossas dificuldades se dá pelo fato de não confiarmos em nós mesmos, acreditam? Quando não sabemos se vale a pena escutar aquela voz que nos impulsiona a mudar. Quando não aceitamos o desejo de ser melhor, pois temos MEDO de arriscar. Autoconfiança é algo fundamental para a realização dos nossos sonhos. Sem isso, ficamos, ilusoriamente, paralisados. Fingimos satisfação com coisas pequenas. Sem autoconfiança não há força de vontade. Sem autoconfiança não há esperança. Quando foi que aprendemos a desacreditar de nós mesmos?

É simples, muitos problemas e dificuldades que encaramos na vida se dão por falta de autoconfiança. Não é o mundo que nos diz que não podemos. Somos nós que não acreditamos na força de nossas pernas. Somos nós que fechamos os olhos. Somos nós que não ousamos tentar com medo de nos decepcionarmos. Precisamos aprender a confiar em nós mesmos.

Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista Relacional
@psicoterapiafalemais

sábado, 20 de fevereiro de 2016

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016















não me peça paciência
já estou com pressa
presa demais
sou pássaro sem esperança
meu voo não levanta mais
só me sobrou asas
sonhos e penas


domingo, 14 de fevereiro de 2016

aos poucos venho tentando esquecer o medo
aos poucos venho tentando encontrar o passo
compasso no abraço
venho tentando tentar mais
arriscar
apenas estou aqui
e aqui que tento querer estar
venho tentando
e isso tem de bastar.

Sobre ansiedade: O futuro não existe.


A ansiedade é o vácuo entre o agora e o depois, já dizia Perls. Padecemos do mistério e da imprevisibilidade que o futuro é. Não suportamos não saber. Não aguentamos a falta de controle. Fingimos estar certos das diversas possibilidades de acontecimentos. Assim, preenchemos nossos vazios com expectativas, com planos e estratégias. Tentamos tampar todas as possíveis falhas. Passamos a viver tensos.

Cada vez mais a ansiedade cresce e se problematiza, pois não sabemos lidar com o imprevisível. Precisamos saber de tudo. Não podemos falhar. Temos medo do sofrimento, do erro e da frustração. É disso que se trata a ansiedade, quanto menos autoconfiante, mais inseguro e, assim, maior a necessidade de controle.

Sinto dizer, mas a vida é um eterno correr risco. Não se iluda, viver é um risco. Será preciso coragem. Será preciso confiança. Será preciso disponibilidade e permissão. Faz parte da vida as decepções. Aceitando-as não as temeremos mais, e com isso, poderemos suportar a probabilidade de sucessos e fracassos. Ansiedade é ensaio. Porém, na grande maioria das vezes, precisamos do improviso. Precisamos aprender a improvisar.

Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista Relacional
@psicoterapiafalemais

sábado, 16 de janeiro de 2016

Eu não leio poesia.

Adoro poesia. Não, eu amo poesia. Gosto de escrever, alias, a escrita é vida pra mim. É por onde construo meus sentidos. Porém, pode espantar um pouco alguns, quando digo que não leio poesia. Na verdade, quase não conheço poetas. Minha leitura nesse segmento é bem pobre. É sério, praticamente não leio poemas, na verdade só li três livros (e nem foram inteiros) de poesia, As obras completas de Manoel de Barros, um pocket de Mario Quintana e aDeus de Miró da muribeca. Pronto, são esses meus livros lidos de poesia. Mas, reafirmo, eu amo poesia.

Sou apaixonada pelo o que a poesia representa. Na verdade, sou inundada e transbordo com o toque poético. Essa habilidade de enxergar o belo no ínfimo, de expressar o indizível, de brincar com os sentidos, de quebrar a rotina, de dar asas a pedra e pés para as nuvens me deixa estarrecida. Não preciso ler poesia para saber que a vida é poética ali, na poeira, na rasteira, na lágrima, no riso. A vida é poética na varanda da vizinha e no sofá vazio da sala. É poética no peito que dá leite e na mão que carrega a mamadeira. A vida é poética e não são nos livros que se encontram as poesias. Não sei como passei a gostar de poesia, já que não as li enquanto me fazia de grande.

Na verdade, acho que foi quando ia com meu padrasto buscar minha mãe no trabalho no centro da cidade e eu tinha o costume de olhar pela janela. Ficava observando as pessoas e minha brincadeira predileta era dar pensamentos a elas. Tentava captar suas expressões e seus sentimentos. Acho que passei a gostar de poesia quando minha amiga teve uma filhinha e pude colocá-la para dormir. Era pura magia fazer alguém adormecer nos meus braços. Penso que aprendi sobre poesia quando ficava brincando de espiã dentro de casa, observando minha família e seus hábitos. Deve ter sido assim. Tenho inveja dos poetas que escrevem e um dia sei que irei conseguir lê-los, mas por enquanto eu aproveito a poesia de andar de ônibus e escutar as histórias de pessoas que procuram se encontrar.



Vivemos para postar.




É comum ouvir na clínica o incômodo que os clientes sentem ao perceberem nas redes sociais o quanto as vidas dos “amigos” são repletas de emoções e felicidade, enquanto que as suas são “uma grande merda”. Para eles, notar essas diferenças traz insatisfação com o modo como andam organizando suas histórias e lhe impulsionam a buscar algo semelhante. Preocupam-se com a imagem que lançam para o mundo. Perturbam-se com os possíveis comentários que os outros possam fazer sobre quem são. 

Vivemos para postar. Nossa rotina, nosso dia, nossa vida virou artigo de divulgação. Aquele que aparece tem mais reconhecimento. É através da visibilidade que estamos conquistando respeito e afeto. Precisamos, atualmente, sermos bons divulgadores de nós mesmos. Construir uma imagem que seja comprada, ou melhor, curtida e compartilhada. Estamos mais preocupados na construção de um ideal publicitário do que na atualização de nosso verdadeiro potencial.
Cada vez mais nos afastamos de nós mesmo em busca de sermos alguém melhor (melhor pra quem?). Não podemos sofrer. Não podemos sentir tédio. Jamais podemos sentir inveja, orgulho ou raiva. Só é permitido a felicidade. A felicidade do espetáculo. Daqueles que curtem a vida. Que estão sempre sorridentes nas mídias sociais.
O homem que não assume a possibilidade inevitável de sofrer durante a vida se fragilizará e se manterá numa postura infantil diante das adversidades. O homem, hoje, parece sofrer por não conseguir escapar do sofrimento. Sofremos por não estarmos constantemente felizes e desfrutando dos diversos prazeres vendidos na contemporaneidade. Sofremos por estarmos jogados no mundo e não fazermos a menor ideia do que fazer com uma vida que não é aquela ofertada pelas redes sociais e publicidade.

Parece que no presente as pessoas estão construindo seus projetos de vida baseadas no grande espetáculo oferecido pelas mídias e, consequentemente, encontram a infelicidade por acreditarem que ser feliz é aquilo lá, que os outros sentem e não isso aqui que estou sentindo. Estamos dando à felicidade um status comercial que não se cumpre na realidade. Estamos matando a felicidade por não aceitá-la como ela é - comum e passageira.

E o que isso tem a ver com a queixa dos meus clientes? Ao se orientar por uma aparência, por um jogo de marketing, eles se distanciam de si cada vez mais, pois fogem de seus vazios, de suas tristezas, de suas invejas, de suas faltas e consequentemente da felicidade. Quanto mais eles se esforçam para serem felizes, mais tornam-se infelizes, pois suas tentativas só mostram o quanto se encontram imersos nesse jogo performático. Como reflete o poeta Rilke (2001) “Por que deseja excluir de sua vida toda e qualquer inquietação, dor e melancolia, quando não sabe como tais circunstâncias trabalham no seu aperfeiçoamento?” (p.70) e continua “Desejava algo melhor que transformar-se?” (id, p.70). 

Pense, o que de fato você deseja? E para quem você vive? O que você busca? 
 
Referência bibliográfica.
RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta e A canção de amor e morte do porta-estandarte Cristovão Rilke. São Paulo: Globo, 2001.




O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...