quarta-feira, 22 de julho de 2015

Sobre o "NÃO" e o papel que esse cumpre na infância.

Decidi pensar sobre o NÃO. Essa palavrinha que vem sendo alvo de muitas discussões no âmbito da educação e da psicologia infantil e social. Todos dizem que é necessário dizer NÃO para as crianças. Que precisamos fazê-las entender sobre os limites e o quando isso é fundamental para o seu desenvolvimento e para a construção de um convívio social mais agradável e saudável. Concordo com essas opiniões, mas quero complementar essa ideia inicial com o seguinte: É preciso respeitar também o não das crianças e saber ouvi-las nas suas negativas. 


Comentei a um tempo atrás sobre meu sobrinho de 3 anos que mora distante de mim e como são nossos reencontros. Geralmente ele só consegue entrar em relação comigo e interagir livremente no segundo dia. No início ele não conversa comigo e sempre impõe o não para a tentativa dos outros membros da família de nos colocar em contato. Procuro ter paciência e esperar que o estranhamento inicial ceda naturalmente e de modo leve. Para mim, ele não está apenas repetindo uma palavra que ouve com frequência, mas sim manifestando seu poder de afirmação de si e impondo um limite. Eu respeito inteiramente, mesmo querendo voar naquele bucho amarelo e beija-lo até secar os lábios. Mas, qual a relevância de tudo isso? As crianças geralmente ouvem muitos nãos. Quanto menores forem mais nãos escutam. E mais impressionante ainda que quando elas aprendem o não são inteiramente desrespeitadas.

Existe a famosa fase do "não" que as crianças por volta dos dois anos se inserem. Dizem não pra tudo e sem pensar duas vezes. Pensando assim, muitos pais negligenciam a importância que aceitar e respeitar o não na infância pode ter. Mas, qual o sentido do não mesmo? Quando negamos algo afirmamos nosso ser. O não é a afirmação de si. É poder. É configuração de um desejo que se afirma na negativa. Alguém que tem o poder de dizer não para as imposições externas é reconhecido como potente. A criança ao começar a dizer e CRIAR um sentido para o não vai dando forma ao seu ser. Vai ganhando reconhecimento como alguém que possui necessidades próprias em um ritmo próprio que difere dos pais. A criança diz que não quer comer e nega o alimento com todo o seu poder afirmativo de si e seu desejo. Ela também diz com todas as letras que não quer o abraço e muito menos o beijo, e que lindo é vê-la colocando esse limite sobre si, sobre seu corpo, sobre seu tempo. Os pais, na maioria das vezes, rompe essa potência afirmando que ela "não tem querer", ou então atravessando seu momento e fazendo-a abraçar e beijar sem ser de sua vontade. Digam-me, como uma criança pode aprender sobre o significado do não e a importância que esse tem para as relações sociais e formação de identidade se constantemente é desrespeitado quando pronuncia essa palavra? 

Acho engraçado que os pais exigem que a criança entenda e respeite o sentido dessa palavra quando é falada por eles, mas não entendem, e muitos nem se esforçam para isso, quando é a criança que a pronuncia. É como se eles dissessem: Você não tem direito ao não, somente nós. Ou pior ainda, essa palavra não tem valor de verdade, pode ser desrespeitada a qualquer momento. A criança compreenderá melhor os limites quando senti-los na relação com os outros e quando lhe for permitida sentir na sua vivência o que o não pode possibilitar. 

Em resumo, quero dizer que o não precisa sim ser colocado para a criança, mas não como imposição unilateral de respeito que parte do adulto para a criança, mas que seja uma possibilidade de relação. Não vamos deixar a criança fazer de tudo. Por exemplo, meu sobrinho enlouqueceu quando sua mãe quis guardar os iogurtes na geladeira, ele gritava: NÃO. É MEU. NÃO. Ela não podia deixá-los do lado de fora com ele levando a bandeja pra lá e pra cá, e nesse momento é preciso que a autoridade e consciência adulta tome conta da situação. Sem precisar de agressividade e grosseira. Sem precisar humilhar a criança e dizer que ela não tem moral pra nada, que ela não tem querer. Não é necessário. No entanto, quando meu sobrinho está brincando com a minha mãe e eu tento me aproximar e ele diz prontamente: Titia, não. Só eu e titia sol. Aqui ele pede privacidade. Quando ele me diz, não quero beijo, eu digo que tudo bem. E espero o momento que ele está aberto para isso. Se passarmos a olhar para as nossas crianças como iguais não precisaremos mais manipulá-las e muito menos invadi-las. Gosto de comparar o modo como tratamos as crianças com as relações adultas. É altamente desconfortável pensar que alguém venha beija-lo, abraça-lo ou force a alimentar-se quando você deixou bem claro que naquele momento não quer nada daquilo.
 
Se querem ver seus nãos respeitados, respeitem os nãos alheios.


Foto: Jonas Araújo - FOTOGRAFIA (https://www.facebook.com/jonasaraujofotografia?fref=ts)

quarta-feira, 15 de julho de 2015

As flores não murcharam. O amor sim.


Você se foi e levou suas roupas do armário.
Carregou do banheiro a escova de dentes.
Recolheu seus livros da estante.
Até retirou do computador suas fotos (nossas fotos).
Saiu e bateu a porta deixando claro que nada mais restava de você para mim.
Então, desconsolado, sento no chão da sala.
De repente enxergo o vaso e vejo as rosas.
Aquelas que você nos deu dizendo que representavam nosso amor.
Elas estão lá, vivas, floridas, fortes e coloridas.
Pego-me pensando: Ainda há esperança para nós (para mim)?
Já que as flores vivem. Já que as flores ficaram.
Ou ela deixou apenas aquilo que não mais lhe interessava, nosso amor.


Foto: Thyeri Bione.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Estou em desajuste com as minhas certezas.
Quero a esperança que se esconde nas dúvidas.


O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...