terça-feira, 17 de maio de 2011

Prisão sem grades

Chegou a hora. A luz atravessou a parede e tudo ficou escuro. Todos correm para os seus lugares. Um breve aquecimento para não haver erros. O cenário é verificado, está perfeito, nada pode estar fora do seu devido lugar. Esqueça tudo que você estava fazendo, é preciso se apagar e deixar surgir aquele que te faz ficar firme. Uma fina camada entre você e o mundo se estende, mas ao contrário do que parece essa cortina não é de lã, e sim de ferro. Assim, você assisti a tudo de um lugar que ninguém possa te ver ou atingir. Você está protegido dentro de si mesmo. Olhando a tudo como a um espetáculo do qual não faz parte. Contudo, o tempo vai passando e aquele lugar que te protegia começa a sufocar. E por mais que se tente sair, que se tente voltar pro palco o muro que inicialmente foi construído com o intuito de te defender, aprisiona-te em ti, e então, você é forçado a ver um estranho vivendo sua vida, enquanto estais perdido dentro de tuas vísceras corroendo-se internamente sem ninguém notar.

domingo, 1 de maio de 2011

A chapeuzinho também é o lobo mau.

Estou lendo o livro 3096 dias de Natasha Kampusch e admito que fico impressionada com sua história e com o seu poder de reflexão.

Temos a tendência em separar o bem do mal acreditando que assim estaremos a salvo de surpresas desagradáveis. Estamos errados. A vida nos mostra que não é possível fazer essa distinção quando se trata do ser humano. Há em nós a chapeuzinho vermelho e o lobo mau convivendo em harmonia. O grande problema não é ter essas duas faces, e sim, ter que escolher entre uma delas para poder viver em sociedade. O mundo nos força a escolher somente uma. E é ai que as coisas ficam complicadas, pois nunca conseguiremos destruir o lado indesejado. Ele sempre existirá e nos influenciará ao longo de nossa vida. Querer enxergar o indivíduo por apenas um ângulo é não contemplá-lo em toda sua possibilidade.

Muitas vezes dissociamos o bem do mal na tentativa de nos protegermos, mas acabamos nos fragilizando. Já que é impossível enquadrar alguém em um papel e garantir que ele o exercerá sem falhas. Iremos nos surpreender e se não aceitarmos a ambivalência humana nossos relacionamentos ficarão empobrecidos e consequentemente, nossas vidas.

Além do mais, é de suma importância que saibamos enxergar em nós esse jogo de forças opostas que garantem o equilíbrio da mente. Viver esses dois lados é experimentar o que é ser humano. Abafar um deles pode implicar, mais tarde, em um transbordamento de sentimentos reprimidos que não se consegue controlar. Talvez, seja essa a causa de grandes tragédias.

Percebe-se que nossa sociedade tem a tendência de separar o mal do bem. Para os indivíduos marginalizados é colocado o papel de serem o espelho mal e quanto aos sujeitos bem sucedidos fica a qualidade de refletores do bem. O ideal cultural do ocidente nos impele a atingir um nível de consumo que fica difícil distinguir, em algumas circunstâncias, o que é homem e o que é mercadoria. Pintar o mundo em preto e branco fica mais fácil do quê aceitar que na verdade ele é preenchido por tons de cinza. É bom sustentar a ilusão de controle e normalidade.

Para garantir essa separação são construídos conjuntos habitacionais cada vez maiores, completos e seguros, os vidros dos carros não precisam ser mais abertos para a circulação do ar, se você quiser nem precisa ser mais visto dentro do automóvel, também são montados complexos comerciais diferenciados para aqueles que possuem melhor condição financeira, diversas áreas de lazer com público selecionado e etc. Cada vez mais separamos de nosso cotidiano o mal, o desagradável, a pobreza, a miséria. Isso não faz parte do nosso dia-a-dia a não ser em um programa de televisão que os use como parte de um show ajudando a aumentar cada vez mais as fronteiras.

A grande questão é que jamais poderemos apagar o lado podre da vida, por que ele é fundamental na manutenção da sociedade. Ele dá sentido ao lado belo da existência. Temos que aprender que o mal não está fora de nós, ele vem de dentro. E sempre tem dois lados de uma mesma moeda. Compreender que o homem não é fundamentalmente bom, e nem, inexplicavelmente mau, faz parte da mais difícil lição da humanidade. Fazer essa dicotomia tira do sujeito a liberdade de ser infinito, de acordo, com as possibilidades que lhe são apresentadas.

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...