quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O que aprendi na escola? - Sobre o trabalho da psicologia escolar e educação.

A escola é ambiente de aprendizagem e crescimento. Todos os dias crianças e adolescentes se dirigem a escola e passam grande parte do tempo nesses locais aprendendo e se desenvolvendo. Ok, isso todo mundo sabe e ninguém nega. Porém, mais do que aprender os conteúdos das matérias, mais do que saber sobre português, matemática, história e tantas outras disciplinas, os alunos vivem e experimentam a vida nesses ambientes. Hoje, trabalhando como psicóloga escolar percebo, mas do que na época que fui estudante, a relevância de se ampliar a reflexão sobre o papel da educação escolar na vida dos jovens. 


Trabalho com adolescentes do 6º ano do ensino fundamental anos finais até a 3º série do ensino médio. Convivo com eles diariamente. Divido experiências. Compartilho sentimentos. Diferentemente da clínica que apenas vejo o cliente um dia na semana por 45 minutos, passo a manhã inteira com esses jovens conversando sobre variados temas. Somos mais próximos. Temos uma vinculação completamente diferente daquela realizada no ambiente do setting terapêutico. As vezes realizo escutas na escada, no banquinho da entrada, no chão da quadra, em frente ao banheiro, no meio da sala de aula e tantos outros cantinhos onde possa haver a necessidade de simplesmente falar sobre algo que não seja equação ou conjugação verbal. Tem vezes que apenas um olhar ou um cafuné na cabeça parece legitimar uma presença, fortalecer um ego. Em alguns momentos (na verdade vários) recebo abraços, risos e comprimentos, e esses energizam meu dia e o deles também. 

Atualmente vivemos numa época onde a performance, a competitividade e a cobrança por uma eficiência impecável perpassam nossas relações e o modo como encaramos nossas atividades e personalidades. Os adolescentes exigem de si (são exigidos) graus de excelências massacrantes. É doloroso as vezes ver a rotina de estudos que se submetem (são submetidas) crianças/adolescentes de onze anos. Esses jovens são alunos com notas maravilhosas e também frágeis emocionalmente, inseguros, ansiosos, excessivamente exigentes, agressivos e não percebem limites. São meninos e meninas que possuem boletins com notas impecáveis, mas que não podem ouvir um não ou que não sabem aceitar que seu colega não queria fazer algo que lhe foi solicitado. Porém, a vida não é nada simples e muito menos a escola.


Uma adolescente que tira apenas notas acima de 8 recebe seu primeiro 6. A professora passa na minha sala pedindo pra que eu vá falar com ela, pois a adolescente está chorando muito depois que recebeu a prova. Imagino de imediato "Já sei. Foi baixa" e pergunto isso a profissional; ela me diz, "Nada, foi um 6". Eu lhe digo " Ah, mas isso basta." E vou procurar a jovem. Quando a vejo ela está muito mal, a levo para a sala e ela chora, ela treme e tem a prova completamente amassada nas mãos. Pergunto-lhe o que houve e a jovem desamassa a prova e diz que tirou uma nota baixa e não consegue se conformar com isso. O mais tocante em tudo isso é que a dor e a vergonha são tão grandes que ela não consegue olhar para a nota e me mostra a prova com a parte do papel que contém o seis ainda amassada, sem possibilidade de ser vista. Nesse momento vejo o quanto a situação é delicada e fruto de imenso sofrimento.

Permito que ela chore sua decepção, que ela lamente a quebra de sua auto/hetero idealização e reafirmo para ela o quanto a vida não se trata de justiça e por mais que a gente se esforce, as vezes, as coisas não acontece como imaginávamos e não há nada que possamos fazer a não ser continuar e saber que os erros e frustrações fazem parte do percurso. Em nenhum momento pensei em lhe dizer " É apenas um 6. Veja não é tão ruim assim. Você supera fácil". Geralmente, temos o costume de menosprezar o sofrimento alheio quando ele não faz sentido para nós. Admito que tirei muitos 6 (e até menor que isso) na minha época escolar, mas ali não se tratava de mim e nem do modo como eu percebia a situação. Essa era a vivência dela e doía de uma modo visceral. Era angustiante ver o quanto ela se lamentava e como isso arrasou sua auto confiança. Vai ser preciso tempo, vai ser preciso coragem e paciência para que ela ultrapasse esse baque. Existem coisas na nossa vida que não podemos mudar, só podemos ultrapassar. E esse tipo de aprendizagem fundamental para a vida em sociedade, para a existência humana, a escola pode e deve proporcionar. A educação escolar não está de modo algum longe dessas questões.


Depois conversei um pouco com a professora sobre a situação e notei que ela ficou um pouco preocupada e ai eu lhe disse, "Não fique preocupada. Ainda bem que ela recebeu essa nota baixa. Que bom que a escola pôde proporcionar a ela esse tipo de aprendizagem. Isso é importantíssimo. Eles precisam aprender que na vida não se pode viver sem passar por situações de frustração. Agora vamos cuidar do sentido que ela/eles vão dar para isso". Na escola aprendemos sobre a vida, pois a vida não se divide e nem espera que saíamos pelo portão do colégio pra começar a se fazer presente e soberana. O que precisamos é saber como utilizar esse conhecimento de modo a fortalecer os jovens e não massacrá-los e fragilizá-los mais ainda. Essa foi uma importante lição para a pequena e para mim também.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

As pessoas costumam dar asas a sua imaginação.
Eu? Eu prefiro dar asas aos meus afetos.
Gosto de pensar que minhas emoções flutuam libertas.
Não há nada que as prende.
Não há nada que as dome.
Meus sentimentos são passarinhos
que passam sem pestanejar por corpos e seres.
Meu desejo não tem freios e que assim seja.
Que ele jamais seja reprimido a um só coração.
É bom demais amar para ser comprimido e espremido a anseios alheios.
Quanto mais solto, mas vontade de permanecer.
Eu gosto de pensar que meus afetos têm asas
e que não estão em gaiolas.
Eu gosto de amar.

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...