terça-feira, 17 de setembro de 2013

Queria poder desenhar com as palavras
o que os artistas
                                    fazem com o
pincel.

                       Não sou boa com tinta
Sou melhor com alfabeto.


Queria ser solta como um pássaro
                             descrito na asa
                                                    do papel.

Que bom seria voar
com a caneta
                      no céu.

domingo, 15 de setembro de 2013

Descobrindo-se na/com Gestalt-terapia.

Eu jamais imaginaria as experiências que tive do dia 12 a 15 de setembro no Congresso Nacional de Gestalt-terapia (GT). Já fui para vários congressos e nunca senti nada parecido e nem presenciei coisas semelhantes ao que vivenciei no Mar Hotel em Recife. Foi tão forte que tive que escrever sobre, pois precisava organizar essa multidão de sentimentos e a escrita sempre foi para mim organizadora. Que assim seja...

Surgiu a oportunidade de ir ao Congresso como monitora. Era uma semana antes do evento quando me falaram sobre essa possibilidade e logo fui atrás dos responsáveis para me inscrever. Passado o tempo chegou o dia de nos reunirmos para receber treinamento e nesse momento já senti algo diferente. Senti muita responsabilidade e afetividade. Ficaríamos responsáveis pelas filmagens das apresentações e que todo material seria armazenado e isso contaria para a história da Gestalt-terapia. Imagina só como fiquei? Além disso, todos os representantes nos trataram muito bem e o clima era de descontração e cordialidade. Lembro que tinha um senhor engraçado que tirava muitas brincadeiras com a gente. Descobri depois que era Sergio Buarque. Fiquei embasbacada.

 Chega o dia de abertura do evento. Chegamos mais cedo ao local. Recebemos os últimos toques para a filmagem e tudo certo. É hora de assistir a palestra de Walter Ribeiro, mas quem é ele mesmo? Sim, eu ainda não o conhecia e muito menos sabia de sua importância para a GT no Brasil. Antes da apresentação me adiantaram sobre a sua relevância no cenário da abordagem gestáltica e pude ver o quanto eu estava negligenciando os estudos na teoria. Quando o vi fiquei impressionada e encantada, lembro que pensei "como seus cabelos são brancos". A palestra foi incrível. Sua fala suave e doce com conteúdo forte me emocionou algumas vezes. Ri muito com meus amigos com suas brincadeiras e o seu jeito de fazer a palestra. Os sons que ele fazia ao longo do texto que estava lendo eram muito engraçados. Havia tanta espontaneidade que fiquei fascinada. Soube que no outro dia teria um minicurso ministrado por ele e disse: com certeza eu vou.


Depois da apresentação tive muita vontade de cumprimentá-lo, mas minha timidez não permitiu que eu avançasse. No entanto, meus amigos também foram tocados por sua presença e eles sempre foram mais corajosos que eu e eu mais corajosa com eles. Falamos com ele, tiramos foto e abraçamos. Foi incrível! Saímos então para o Coquetel e lá fiquei muito impressionada. O clima que se instalou naquele ambiente era incrível. As pessoas dançando, cantando, conversando e tomando cerveja. Sim, cerveja em um congresso, nunca tinha visto algo assim. Eu e meus amigos ficamos todos bobos com aquela cena e aproveitamos bastante. Era engraçado que de repente alguém chegava e falava conosco e depois descobríamos a importância e relevância dele para a teoria da Gestalt. Um amigo meu comentou, eles são gente, não são deuses.

Na sexta-feira começaram as apresentações dos trabalhos e tudo foi muito bom. Encontramos uma professora querida, Josélia Quintas, e conversamos bastante. Falamos do que estávamos vivendo naquele encontro e trocamos ideias. Pude comprar seu livro e foi tão bonito vê-la e interagir com ela longe dos corredores da faculdade. Nesse dia também teve o minicurso com Walter e foi muito bom. Ele nos propôs a perguntar o que quiséssemos e começaram as perguntas. Ao longo do minicurso tive muita vontade de perguntar algo, mas as minhas inibições eram mais fortes e me privei de falar. Gastei muita energia fazendo isso, infelizmente. Ele falou da criança e toda a sua potência e o quanto ela não está presa as pressões sociais para ser algo, ela simplesmente é. O quanto nós somos adestrados. Eu não tinha essa capacidade infantil. Acabada a apresentação fomos conversar com ele e foi ótimo. Fomos muito bem tratados. Tratados de modo horizontal. Com direito a, junta mais pra poder falar um negócio aqui baixinho. Sai de lá com uma sensação estranha, algo estava acontecendo comigo, mas ainda não sabia o que era. Só tinha certeza que estava sendo mágico.

No sábado fui me dando conta do que estava acontecendo. Participei de um workshop que o título era o seguinte, "Frustração e ressentimento: eu sou honesto comigo mesmo?" por Eliane de Oliveira Farah, indubitavelmente sairia tocada de alguma forma. Sai estranha da sala. Fui almoçar sentido um incomodo inominável. Voltei e fui fazer as filmagens. As apresentações foram muito boas e o mais extraordinário delas foi que consegui me colocar. Relatei os pensamentos suscitados com as comunicações e isso nunca havia ocorrido. Foi muito bom pra mim.

Sai da sala no intervalo e vi Walter Ribeiro. Fui falar com ele sozinha mesmo. Quis nem saber. Cheguei nele e falei das apresentações que tinha visto e que havia lembrado o seu minicurso. Além do mais comentei que mais cedo fui comprar seu livro e ele havia acabado. Ele olha pra mim e diz, foi mesmo, e tira do bolso um exemplar e me dá. Fiquei uns 20 segundos segurando o livro sem saber o que fazer. Pergunto-lhe o que era aquilo e ele diz que está me dando o livro. Meus olhos enchem de lágrimas e solto um C-A-R-A-L-H-O, Walter cai na risada. Ele ainda pega pra assinar. Eu estava sem acreditar naquilo tudo. Dei-lhe um abraço, agradeci e voltei pra sala para filmar estando em outro mundo.

A comunicação era sobre poesia. Poesia é meu fraco. Alberto Caeiro o autor discutido. Walter vai assistir a apresentação. O autor do trabalho era ainda um estudante, como eu, e notavelmente se emocionou com a presença de Walter na sala. Lindo o trabalho. Nessa apresentação também tive a coragem de falar sobre o que pensava e quando termino minha fala percebo que uma mulher estava chorando. Pensei "que legal, poesia emociona mesmo". Depois do trabalho essa mulher me abraça e diz que minha fala a emocionou muito e pedi obrigado, agradeço também e penso, mas o que foi que eu falei mesmo.

Volto pra casa remoendo esses dias e essas experiências. Noto o quanto esse congresso está sendo transformador para mim. Gestalt-terapia não é uma teoria, é um estilo de vida. É um modo de se perceber o mundo e as pessoas e de se posicionar diante da vida. Observo o quanto estava sendo contraditória com a teoria, pois não tinha na minha vida uma atitude gestáltica. O contato com Walter foi fundamental para me dar conta disso. Ele se mostrou tão humano diante de mim que pude através dessa relação perceber o que estava fazendo da minha vida e repensar minhas posturas. A percepção foi processual e toda configuração do congresso colaborou para isso. No sábado à noite eu estava radiante. 

Chega então o domingo, último dia do congresso. Poucas pessoas foram. Começa o Super Debate, "O que nós temos feito, em todos esses anos, que estamos juntos, enquanto Gestalt-terapeutas?". Senta-se a mesa tanta gente importante dentro da abordagem gestáltica que era lindo ver aquilo. Todos cansados relatam sobre seus feitos e depois abre para o público. Penso, eu vou falar nesse microfone. Duas pessoas falam antes de mim e então levanto a mão e peço a palavra. Estava tão nervosa que o choro remoía a garganta. Comento sobre o que tinha sido o encontro pra mim e o que disse aqui falei lá. Eu, como uma estudante de psicologia, um feto na história da Gestalt, relatando a minha vivência e dizendo o que a GT estava fazendo comigo. Todos riem, aplaudem e Walter olha pra mim e diz, e se eu lhe disser que você foi uma das pessoas que mais me alimentou nesse congresso... ai, eu chorei. Meu amigo falou também como estava sendo e no impulso de vontade e naturalidade sobe na bancada e senta do lado deles, os fodões. E todos falam o que estavam sentido. Foi lindo. Foi emocionante. No final abraço Walter e agradeço. Ele toca meu rosto e me olha de forma tão profunda que seus olhos parecem refletir a minha alma. Um olhar terno que lhe reconecta consigo mesmo.


Com a fala de Walter vejo que quando há encontro as duas partes saem tocadas. O que experienciei nesse congresso é inexplicável. "As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou"*. Isso é Gestalt-terapia. Um convite contínuo a se renovar. Posso afirmar com minha experiência que esse congresso não foi uma exposição sobre a Gestalt-terapia, esse congresso foi gestáltico.


*Citação de um dos meus livros prediletos, Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A vida as vezes me parece tão incrível. Fantástica. Um presente. Repleta de sabores. A vida tem tantas cores que não dá para descrevê-las. Ela é tão mágica e suave. Tranquila, macia, adorável. Uma dádiva. Divina. 

Outras vezes a vida me parece tão sufocante. Maltrata e castiga minha pele cansada. Um carrasco sem piedade. Frustrante. Indiferente aos meus sentimentos. Cruel. Ela é amarga. Sem cor. Apagada, pesada, desgastante. Insuportável.

Talvez seja assim mesmo. A vida é tudo. Todas as partes convivendo em harmonia inexprimível. A vida é o pacote inteiro. 

Existe um ditado que diz, "um dia de cada vez". Que seja então, "uma vida de cada vez".

Hoje ela, para mim, está belíssima com um tom esverdeado de folha de árvore.


#Poemetos

Quero que a arte me envolva em seus braços
E me afogue.



Até desaguar.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Vida frágil.

Estou calmamente sentada na escada do ônibus, Rio Doce - Piedade, ouvindo música e de repente sinto uma movimentação atrás de mim. Primeiro pensamento: É um assalto. Olho mais um pouco e penso: Não, alguém tá tendo uma convulsão. Não, não era nada disso. Um rapaz levanta uma senhora do chão e a coloca na cadeira. Ela estava tonta. Penso então: Ah, ela deve ter passado mal e desmaiou. Normal em ônibus lotado.

Porém, percebo que a mulher está muito branca e tonta. Não parece um desmaiou qualquer. Então, em média durante 20-30 minutos, nós passageiros, vivemos em crescente preocupação. A mulher que desmaiou não conseguia falar e era difícil ficar acordada. Uma mulher tentava mantê-la desperta. Procura na sua bolsa por documentos e telefones de familiares. Consegue ligar para o pai dela. Acha-se a identidade da moça. Ela ganha um nome: Manuela.

E então, trânsito parado, ficamos sem saber o que fazer. Bombeiros, Samu, delegacia, hospital, o que fazer? Enquanto nos debatemos entre telefonemas e opiniões um nome ecoa pelo ônibus, Manuela. A mulher repete várias vezes: Manuela, não durma, não durma. Calma querida, estamos chegando. Manuela fala algo baixinho para a mulher: está uma confusão. Tudo confuso. Manuela apaga. Chegamos em frente ao hospital que seu pai havia indicado no telefonema. Manuela desce nos braços de dois rapazes. Completamente apagada e entra no hospital.

Depois disso, alguém diz: A gente não é nada na vida né? Risadas e descontração dentro do ônibus. Alguns minutos depois silêncio e a rotina de um coletivo às seis e meia da noite se restabelece. Segue viagem. Segue a vida.

Espero sinceramente que Manuela fique bem.

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...