quarta-feira, 5 de julho de 2017

Sobre o nascer. Sobre partir.

Ao ato do nascimento dão o nome de parto, pois desde o momento em que nascemos somos partida. Partimos do ventre de nossa mãe e a partir dali estamos em constantes despedidas. Sempre em frente. Sempre adiante. Somos parto e não há como evitar. Para nascermos temos que partir.

O ato de nascer se configura com a nossa saída de um ambiente confortável e seguro para um novo espaço repleto de desafios. Vejo agora que nascer, viver e crescer se faz com constantes despedidas dos nossos pais. É um novo parto/nascimento quando saímos de seu teto, quando casamos e vamos formar a própria família, quando trabalhamos e vamos pagar nossas próprias dividas, quando temos nossos próprios filhos e vamos nos descobrir pais e mães. A cada fase de nossa vida há um novo reencontro com essas figuras. A medida que a criança cresce ela vai descobrindo novos pais. Hoje, enquanto mulher adulta, independente financeiramente e que não habita o lar materno, tenho a oportunidade de descobrir uma nova mãe para mim. E essa nova descoberta se deu graças ao meu parto e consequentemente ao meu nascimento como mulher e não mais como adolescente.

Nascer é partir. Viver é partir. É comum usarmos a expressão diante da morte: Ele(a) descansou. Talvez, nesse instante, a gente reconheça que a vida é constante movimento e, em certa medida, cansativa, pois estamos sempre partindo. Na morte há o descanso. Há a chegada. Na vida existe a constante inquietação para seguirmos, para continuarmos, para partirmos. O ser humano não se contenta e não se conforma com a quietude de se estar onde se estar, pois constrói sua história em cima de partidas. Nós nascemos para partir e é nesse movimento de ida que a gente se fundamenta. Que possamos aceitar as nossas partidas em sentido para novos (re)nascimentos.

Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista relacional
@psicoterapiafalemais

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