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segunda-feira, 22 de abril de 2019

Havia uma torção no caminho.

Não está sendo fácil esse último mês. Cada um sabe as batalhas que trava em si e as vezes, consigo mesmo. Aqui dentro está uma bagunça. Pra completar a confusão de dentro, faz duas semanas que torci o pé (ou fraturei, estamos na investigação). Sinto-me desafiada e testada nesse tempo. Participo de um tipo de análise (terapia) diferente. Chama-se Análise Corporal da relação e, basicamente, é uma modalidade terapêutica corporal realizada em grupo e que ocorre durante quatro noites de dois em dois meses. A ACR (Análise Corporal da Relação) tem como base teórica e prática a Psicomotricidade Relacional. Através do brincar e decodificações simbólicas vamos (re)descobrindo nosso corpo e (re)construindo nossa história. É um processo intenso e profundo. Precisaria de vários textos pra comentar sobre esse trabalho. Enfim, através da ACR (re)visito minha infância, minha adolescência, meus afetos, minhas faltas, meus desejos e a adultez. Nesse processo estou (re)encontrando minhas figuras paterna e materna. 

Em Psicomotricidade Relacional trabalhamos com 5 verbos fundamentais na comunicação e relação humana: DAR - RECEBER - PEDIR - PEGAR - REJEITAR. A forma como manejamos esses 5 verbos em nossas vidas relacionais fala sobre equilíbrio e saúde mental. Não há verbo melhor que o outro. Todos são essenciais. No encontro de fevereiro na ACR percebi algo sútil. Notei que tenho dificuldade em pedir. Observei que em alguns momentos perco oportunidades, pois tenho medo de pedir e que, as vezes, não consigo deixar claro para o outro o meu desejo, pois não peço. Porém, outras coisas aconteceram durante a ACR e esse conteúdo ficou no fundo, enquanto as outras demandas viraram figuras. Ok! 

Muita gente não sabe, pois eu estava sem paciência de explicar e falar sobre o assunto, mas torci o pé no encontro da ACR nesse mês agora, abril. Torci logo no começo do encontro, na segunda-feira. Com a torção me deparei com muitos conteúdos: Fragilidade, vulnerabilidade, medo, solidão, independência, cuidado e adivinhem, o verbo PEDIR. Nossa, como estou nesse momento da minha vida precisando encarar a necessidade e importância de pedir e além do mais, RECEBER. Está sendo uma verdadeira batalha. Não peço para não ser rejeitada. Não peço com medo de ofender o outro. Não peço, pois temo minha fragilidade. Não peço, pois receio me decepcionar.

Somos seres de relação. É a relação que garante no início da vida a sobrevivência. Um bebê não existe só. Ao passar dos anos as relações contribuem para um desenvolvimento saudável ou não. São as relações que nos permitem crescer. O inferno são os outros, como disse Sartre. Eu acrescento que o paraíso também são os outros. Cada relação tem em si um pedaço do inferno e do paraíso. Pedir e receber faz parte do encontro e colaboram com a boa manutenção da existência. Negar pedir e receber é isolar-se e afastar o outro. É evitação de sofrimento que te empurra para outra dor. Abrir espaço para o outro é permitir pedir e receber o outro com o que ele pode dar. É difícil. Estou aprendendo. 

Com a torção estou aprendendo a parar, respirar, focar no meu movimento, ter paciência e esperar o processo de cura do meu corpo, acreditar na minha força, desafiar minhas habilidades, receber ajudar, pedir ajuda, cuidar de mim, ter outra perspectiva sobre as coisas e notar condições de acessibilidade nos ambientes. Ainda não sei quanto tempo vou precisar ficar de repouso. Um repouso que me obriga a parar quando eu quero movimento. Essa torção atravessou meus planos. Ela veio sem pedir permissão. Essa torção é intrusa na minha ilusão de controle. Só me basta aprender com ela. Esperar. Perseverar. E espero, de coração, que na próxima ACR esteja mais atenta por onde piso. Na verdade, espero que agora, eu fique mais atenta aonde piso e como piso nos caminhos que trilho pela vida.

Feliz aniversário!


sábado, 9 de março de 2019

Crescer implica em afastar-se do corpo do outro. O crescimento traz consigo a capacidade de manter-se a distância. Na medida que cresce, o indivíduo, amplia suas possibilidades de existir longe do corpo do outro. No momento do nascimento a criança anuncia: "Parto!". E assim, segue em constante partida. Na pele permanece a memória do estar junto e, a cada passo adiante no crescimento, carrega a falta primária do toque. O que seria de nós se não houvesse o abraço?

Sim, crescer implica em afastar-se do corpo do outro.

Quando chegar é só bater na porta que lhe recebo.

No meu consultório não há campainha, ou seja, o cliente precisa bater na porta quando chega. No início pensava em providenciar uma, mas hoje, é algo que adoro e não tenho intenção de mudar. Percebi que cada cliente tem uma batida diferente e nesse bater já escuto muito do que ele tem a me dizer. Tem aquele que bate tão devagar que preciso estar atenta para ouvi-lo chegar. É uma batida singela, delicada e tímida. Já tem aquele que quando bate levo um susto, pois é forte, firme e brusca. Há aquela que bate e já vai tentando abrir a porta, por mais que saiba que deixo a mesma fechada com chave. Tem os que brincam com a batida e lançam uma música (às vezes chegam sem brincadeiras). Há os que chegam tão cedo que nem batem na porta, esperam na frente para quando o cliente anterior sair.

Adoro esperar o próximo toque. No bater da porta já me sinto em relação com a pessoa que chega. Há quem dê apenas uma batida, há quem dê mais de uma. Tem quem bata com a mão aberta, outros com a mão fechada e aqueles que só tocam as pontas dos dedos (Sim! Dá pra notar as diferenças). Existe o toque ansioso que anuncia urgência. Há o inseguro que pede cautela. A Psicomotricidade relacional me ensinou que o corpo tem discurso próprio e a linguagem corporal é a forma de comunicação mais primitiva do ser humano. O gesto se transforma em palavra. A motricidade é a primeira manifestação de vida que temos. É através dela que inicialmente procuramos entrar em relação e nos comunicar com o mundo. O corpo reflete a vida psíquica do sujeito.

Abrir a porta depois do toque e estar ali, cara a cara, e receber o impacto da chegada. Adoro receber cada um na porta e notar qual o impacto que essa pessoa causa em mim? Psicologia, e em especial, psicologia clínica diz respeito aos detalhes. Estamos o tempo todo dando indícios de nós mesmos em cada gesto e atitude. Por mais que estejamos perdidos ou até negligenciando nosso eu, não conseguimos escapar de nossa essência e de nossa verdade. Ela escorre e transborda no olhar, na roupa, no arrumar do cabelo, no toque, no tom da voz, no bater da porta, no cheiro, na forma de andar e etc. Não escapamos nunca de quem somos. 

Somos, indiscutivelmente, seres que se constituem em relação. Vitor da Fonseca anuncia "A sociedade é para o homem uma necessidade orgânica". Desde a nossa concepção que estamos em relação e ela será a base da nossa subjetividade e vida psíquica. A presença humana ressoa diante de outra pessoa humana. Cada sujeito que chega até nós causa um efeito interno. Não há como sair ileso de um encontro entre seres humanos. Sempre seremos tocados. Em psicoterapia, busco ficar atenta em como aquela presença humana ressoa dentro de mim. De que maneira esse cliente me impacta? Como me sinto diante desse indivíduo? É assim que posso trocar autenticamente com ele. Somente quando me conecto com minha humanidade é que posso alcançar e compreender a humanidade do outro. É difícil não se perder e aprender a filtrar, mas gosto de acreditar na honestidade dos afetos. Psicoterapia não é uma relação linear. Gosto de pensar que estamos em diálogo. Construímos juntos o processo. Participo ativamente, afinal de contas, estou ali, presente. Assim, como o cliente que está diante de mim, sou um sujeito humano com necessidades e desejos. Cuidar da minha subjetividade é zelar pelo processo terapêutico de quem me procura. Fico curiosa pensando: Como será que é minha batida na porta? Infelizmente, no consultório da minha psicóloga tem campainha. Mas como disse anteriormente, não escapamos nunca de quem somos e estamos o tempo todos mostrando para o mundo nosso eu. Ela, volta e meia, brinca comigo e diz: "Eu escuto você chegar já quando vem subindo as escadas e suas respiração forte na porta."Às vezes, chego sem alarde. E é nesse encontro entre duas subjetividades diferentes que se constitui o processo terapêutico.  

Andreza Crispim
Psicologia Clínica CRP 02/17314
Psicomotricidade Relacional


quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

A vida é um pega-pego de olhos vendados.

Lembram-se da cabra cega? É um jogo de pega-pego onde o pega está com os olhos vendados. Os outros ficam de olhos abertos e perambulam ao redor do "cabra cega" desafiando-o. Lembro-me que existia algumas regras: O "cabra cega" não poderia ficar parado. Quanto mais ele se movimentava era melhor pro jogo. E os outros precisavam se aproximar do pega. Quanto mais eles se arriscavam no contato com o "cabra cega" aumentava a tensão do jogo. 

Uma experiência no consultório fez-me lembrar dessa brincadeira. Propus um experimento para um cliente onde ele ficava de olhos fechados e pensava sobre seus objetivos e sonhos. Na medida que ele visualizava algo caminhava (de olhos fechados) para chegar até aquele objetivo. Quando pensava na possibilidade de esbarrar em algo tinha medo. Então, caminhava com cautela e receio. Esbarrou em alguns móveis e alguns, ele até imaginava que ira aparecer em seu caminho. Notou que podia reorganizar sua rota e que esses esbarrões não impedia sua caminhada. Alguns móveis ele nem imaginava e não sabia em quê estava batendo, mas mesmo assim, continuou caminhando. Às vezes nem tinha mais um objetivo bem traçado e ainda assim caminhava. Não sabia para onde estava indo e ainda assim caminhava. Aos poucos foi ganhando confiança e começou a andar mais relaxado, mesmo não sabendo para onde estava indo e o que poderia encontrar. 

Na nossa vida seguimos adiante sem visualizar o amanhã. Caminhamos pela vida como o cabra cega, desejando, almejando, idealizando, porém não temos a visão do porvir. Temos apenas que confiar e ter coragem para ir. É angustiante não ter a plena certeza e segurança do que virá. Ficamos receosos e apreensivos. Queremos prever. Às vezes achamos melhor esperar do que ir buscar, mas lembrem-se do cabra cega. É muito chato quando o pega fica apenas de prontidão esperando. A graça está na busca. Em quando ele sai como um zumbi com braços estirados e sedentos atrás do nada. É nesse momento que ele amplia suas chances. A sua busca é um convite para as outros irem interagir com ele. A sua espera diminui o ritmo do jogo e desmotiva. Saí o grito de reivindicação: "Ah! não pode. Fulano tá roubando. Tem que vir atrás." Sim, na vida não podemos parar e esperar. A vida exige busca, caminhada, movimento. Na vida caminhamos e de repente, esbarramos em algo que não havíamos pensado. Em alguns momentos precisamos mudar o percurso, ficamos confusos, as vezes nos machucamos, cuidamos disso e seguimos. Sempre seguimos. Quanto maior a insegurança, maior é a tentativa de controle, já dizia Frederich Perls. As nossas brincadeiras na infância contribuirão para os nossos processos enquanto adultos. Aquele brincar nos ajudará a estruturar e fortalecer as bases da nossa personalidade frente a desafios e adversidades futuras. Nunca pensei que a vida, no final das contas, seria uma grande brincadeira de Cabra cega. E cá estou eu (estamos nós) seguindo com os olhos vendados e algumas coisas consigo agarrar, outras deslizam sobre meus dedos, outras nem percebo, alguns esbarrões, tropeções, pancadas, quedas e ainda estou aqui, indo, visualizando internamente o meu caminho, os meus sonhos, porém, sem ter a plena certeza de que as coisas se darão como meu desejo constrói. Enfim, sigo.

Andreza Crispim
Psicologia Clínica CRP 02/17314
Psicomotricidade Relacional
@psicoterapiafalemais
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domingo, 16 de setembro de 2018

Psicomotricidade Relacional e a coragem de ser.

De 13 a 15 de setembro aconteceu o III Congresso Internacional de Psicomotricidade Relacional em Curitiba. Nesses três dias mergulhei intensamente em um universo de afeto. Vivi experiências indizíveis, indescritíveis e que escapam de uma lógica racional. Definitivamente estou imersa em emoções. Como estou tocada. Toque! Esse é o ponto de partida e o ponto de chegada. A Psicomotricidade Relacional chegou para mim no ano de 2014 e ela surge como um caminho a seguir. Ela aparece, em mim, como um objetivo. Na verdade, ela cresce como uma missão. Hoje, ela me dá sentido, direção e suporte. A Psicomotricidade Relacional despertou o meu desejo de me fazer vida.

Falar de Psicomotricidade Relacional é falar de amor. Amor puro. Amor originário. Amor que é base. Amor que constrói. Amor que nutre. Falar de Psicomotricidade Relacional é falar do Ser. Da coragem irremediável de Ser em um mundo que, pouco a pouco, vai nos sufocando, aniquilando, rejeitando e negligenciando. Ser em um mundo que está adoecido na precaridade do respeito ao próximo é campo de angústia e perda. Encarei tantas fragilidades minhas, mas principalmente, percebi tantas potencialidades. Psicomotricidade Relacional é encarar o outro na sua autenticidade e abraçá-lo nessa sua particular configuração. Psicomotricidade Relacional é perdão, é resgate de vínculo, é passagem, é fluidez, é, simplesmente, amar. Como é difícil amar e ao mesmo tempo, como é básico amar. Amar a si próprio é tão difícil. Perdoar a si mesmo é tão complexo. Cometi erros. Falhei. Ultrapassei limites. Desculpe a todos. E principalmente, desculpe a mim mesma por ter me julgado, me traído e me punido por esses erros. Por que pretendo ser perfeita? Por que volto-me para a dificuldade e puno-me pelo o que encaro como falha ao invés de valorizar e reconhecer minhas potências? Por que insisto na dor mesmo quando percebo que existe tanto carinho e amor?

No Congresso de Psicomotricidade Relacional pude nascer. Fui o primeiro bebê. Quem viveu esse momento sabe do que falo. E como eu precisava nascer. Eu tinha de estar ali. E eu tinha de ser a primeira. A vivência em Psicomotricidade Relacional é visceral. Encontrei a minha mãe. Escolhi a minha mãe. Pude ser dela, entregar-me a ela, e por um segundo, confiar nela, apesar de todo o medo que isso revela em mim. Encontrei o meu pai e o meu papai. Encontrei e reafirmei o meu irmão. Tudo isso no campo do simbólico. Não falo aqui das figuras reais. Falo aqui de um afeto. E é somente o afeto que poderá curar as rupturas no terreno real.

Em Psicomotricidade Relacional não fingimos sentimentos. Em Psicomotricidade Relacional nos atiramos e nos disponibilizamos para encontrar o outro na nossa verdade. O que cura é presença humana. O que toca é a verdade do amor. Não é uma técnica a ser aprendida. É uma técnica a ser vivida, a ser integrada e assimilada. É uma técnica que vai convocar o Ser e não o fazer. 

Sou pura imensidão. Estou extasiada. Estou encantada. Estou estarrecida. E tenho medo de tudo isso, assim como desejo e almejo, tudo isso. Existe um percurso longo. Começo a ter mais paciência e menos pressa. Vou errar muito nesse caminho. Estou aprendendo a ser. Estou aprendendo a me amar com todo o meu ser. Estou aprendendo a aceitar o meu ser. 

Quero agradecer a André Lapierre e a Anne Lapierre pela sensibilidade e coragem de ter revelado para nós esse método de vida. Sou grata a Leopoldo Vieira por sua dedicação e luta pela manutenção dessa proposta. Graça Cunha pela oportunidade e confiança no meu trabalho e por sua legitimação do meu lugar como psicomotricista relacional. Jussara por sua delicadeza em me apoiar e me guiar na minha formação pessoal (você nunca desistiu de mim). Patrícia Távora por sua presença feminina que convoca a minha feminilidade. Esquilo por seu olhar, sua espera e seu reconhecimento na minha formação pessoal.  Ao G15 que encarou e dividiu esse processo comigo. Helena e Simone por serem lindas e ensinarem para mim como ser melhor. Aline por sua coragem em estar mergulhando no seu universo particular. Vitor Garcia (Vitor gracinha, vovô!) que transbordou encantamento, amor, carinho, simplicidade, onde a sua presença humana me convida a ser mais responsável com a minha humanidade. Diogo de Miranda (aqui as palavras não conseguem abarcar) apenas por estar junto comigo sonhando e cuidando. Todas as pessoas que toquei e pude tocar nesse congresso (vocês contribuíram imensamente com a descoberta da beleza do meu ser). E, especialmente, a Ibrahim Danyagil e Ceça Gomes (Meus inestimáveis analistas corporais)  por todo amor que emanam e despertam sobre mim. A grandiosidade desse trabalho não cabe em palavras, afinal de contas, somos corpo. A Psicomotricidade Relacional está em todo o meu corpo e transborda. Perdoem-me se as vezes não consigo conter. Estou aprendendo e é necessário muita coragem para aprender a ser. Obrigada! Imensamente Grata. 

O Ícone: Desenvolvimento humano é meu templo, minha casa, meu tapete. Esse lugar é benção. Esse lugar é origem. Como essa casa estrutura meu ser.

Segue algumas fotos que talvez demonstrem o que tento descrever aqui. Proponho que percebam o olhar, o toque, o corpo, a verdade.

















Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista relacional
@psicoterapiafalemais

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...