domingo, 31 de março de 2013

Em mim carrego tudo que não pude levar ao lado.

"A saudade. Quando foi que tu passou a fazer parte de mim?" (Os famosos e os duendes da morte).

Saudade, tão doce amarga falta que amassa meu peito. Sentimento que é marcado pela ausência da presença. Presença forte que marcou meus dias. Que deixou marcas e que agora no invisível aos olhos faz-se perceber.

Quero falar de uma saudade específica. Uma saudade que jamais será satisfeita. Saudade daquilo que não mais virá. Que se foi. Nem falo só da morte. Existem outras formas de partir que não pela morte. Um afastamento que impedirá o contato. Contato esse que te fazia encontrar o novo na rotina das relações. Certas relações que te revelam o além daquilo que está sendo. 

Tal sentimento corrói. Maltrata. Esmaga o ser e este parece perdido. O mundo perde algumas de suas cores. Nos vemos tão diferentes de repente. Sabemos que sem, tudo será distinto. Teremos que reorganizar certos espaços de nossa vida. Nosso dia-a-dia será transformado. Somos inseridos em um novo contexto e temos que nos ajustar. O envolvimento perdido, dependendo do laço estabelecido, parece nos mudar de planeta. Reaprendemos a conviver com o cotidiano. O cotidiano sem a presença confortadora de outrora. Como diz a música de Chico Buarque, Pedaço de mim:

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Essa dor que surge no lugar do que não há mais. Essa dor que vem marcar a carência. A faticidade de sermos sempre nós conosco mesmo. De ter que nos carregarmos pelos trilhos da vida sem ter ninguém. Apesar de todos os encontros e reencontros que temos ao longo da existência, acabamos sempre só. Só conosco e as nossas desilusões.

Sim, esse é o amargor da saudade infinda. Contudo, há nesse sentimento algo de doce. Ao menos no meu paladar sinto que a saudade pode ser saboreada com afago. Pode mostrar que houve presença. Pode ser um acalanto nos momentos de abandono. Pode deixar vivo os instantes deliciosos que foram passados ao lado. Jens Peter Jacobsen, em Niels Lyhne, transmite tal delicadeza quando diz:

"Pouco a pouco o passado foi se esbatendo, a saudade diminuindo; ela ainda vinha em certas tardes silenciosas, ao crepúsculo, quando o adeus do sol iluminava a parede do quarto solitário, e o chamado distante e monótono do cuco, cessando de repente, ampliava o silêncio; - então chegava de repente uma saudade que invadia tudo, que penetrava o coração; mas ela não o afligia mais, ela vinha tão suave, tão de leve, que era até meio doce de sentir, como uma dor amortecida". 

Essa característica da saudade é que me encanta. Fico estarrecida com o quanto ela pode ser companhia saudável. Companhia que te mobiliza a seguir e não te aprisiona. Você segue com ela sendo motor de novas possibilidades. Arranca risos e lágrimas açucaradas. Nessas horas, fico feliz por sentir saudade. Parece-me que valeu a pena ter passado pelo que passei. Assim como a única estrela que restou e que agora está no bolso do garoto (Os famosos e os duendes da morte), a saudade é a presença e a ausência unidas sem descordar. Uma convivência harmonizada que nos inunda.

E por isso que "Aprendo-o diariamente, no meio de dores a que sou agradecido: a paciência é tudo". (Cartas a um jovem poeta).

Em mim carrego tudo que não pude levar ao lado.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Inevitável.

Tenho medo. Tenho muito medo. É um sentimento que me devora. Que forma um nó na garganta e escurece o pensar no futuro. Não sei se consigo viver. Viver essa vida que colocam diante de mim. Também não vejo outra para poder usurfruir. O mundo parece que me devora. E o passar do tempo só vem para mostrar que está chegando a hora de desistir

Tenho medo. Tenho muito medo de me deixar engolir. Eu tento, venho tentando desde cedo, porém não está dando certo. Não suportaria carregar o peso do fracasso. Venho tentanto insistentemente encontrar sentido. Algum significado perdido nas esquinas e vielas. Também mergulho em mim e saio a procurar meus motivos, minhas vontades, minha força. Eu tento. 

Ao fim de cada dia bom penso que o amanhã não será como o ontem e que sempre tenho que lutar por ele. Estou nessa batalha e estou cansada. A cada dia que me deito na cama com um sorriso é um alívio. Um alívio saber que sobrevivi e que foi tranquilo. 


Tenho medo. Tenho muito medo de quando essas dúvidas se tornarem certezas. Nesse dia o medo se extinguirá e a decisão será tomada. Tenho medo da vida e toda a sua grandeza. Tenho medo por não encontrar lógica. Se eu não conseguir? O que farei de mim? Existem pessoas que não sabem viver. Simplesmente não sabem. Parece que percorro o caminho inverso de todos aqueles que andam pelo mundo.

Por detrás dos meus olhos existe um segredo. Segredo esse que carrego na carne. Segredo esse que me esconde. Um segredo que quando for revelado serrará meus lábios e me colocará para dormir.

terça-feira, 5 de março de 2013

Escreve-te.

Preciso escrever algo, mas ainda não sei o que é. Sinto que no meu estômago palavras se formam, porém não encontram forma para serem ditas. Penso em temas. Tento ter ideias. Planejo textos, no entanto, no final do dia meus dedos estão mudos. 

Preciso escrever algo, mas ainda não sei o que é. Essa vontade vem me acompanhando a uns dias. Fico caminhando pelas ruas com os olhos procurando algum assunto nas esquinas do cotiadiano. Não encontro nada, nada que faça o coração palpitar e minha cabeça iluminar. Nada que forçe meus dedos se debruçarem.

Preciso escrever algo, mas ainda não sei o que é. Não falo pelos lábios, mas pelas mãos. Com elas sou mais solta. Com elas sou. Noto que existem frases percorrendo meu corpo. Elas estão perdidas, procurando o caminho das minha mãos para serem expressas. Paragráfos inteiros passeiam por mim. Acho que alguns estão atrás da minha coxa direita, e ela dói. Tem outros que parecem estar no meu ombro direito. Ele está estalando de tempo em tempo. Alias, meu lado direito está congestionado.

Preciso escrever algo, mas ainda não sei o que é. A escrita me salvou de inundações e acredito que agora esteja transbordando. Esse silêncio me agonia. A improdutividade me pertuba. Preciso escrever algo, mas ainda não sei o que é.

sexta-feira, 1 de março de 2013

#Poemetos 1

Sabe, amigo, aquela lágrima que calei ao nascer do dia?
Escorreu sobre meus lábios ao escurecer do sol.
Os olhos não viram sua queda.
Mas a boca provou do sabor.
E alias, era doce.

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...