domingo, 23 de dezembro de 2012

Ele. *__*

Vendo a ti tão pequeno não tenho medo do futuro. Pelo contrário, sinto vontade de devorá-lo. Aspiro para que ele chegue e te faça grande. Faça a ti um homem bom. Um homem que carregue dentro de si esse pequenino que hoje cabe tão perfeito nos meus braços. 

Nesses teus passos desajeitados tenho vontade de correr pela estrada da vida. Seguir por ela e ver o que há no caminho. Sem temer as curvas, os buracos e os outros que não se importam com o nosso percuso. Carrego-me de forças e sou capaz de transpor os obstáculos mais enraizados dentro de mim. 

Esses teus olhos escuros iluminam minha alma. É magia. Quanto te vejo olhando para mim fixamente sinto que sou vista. Finalmente existo. Coloca-me no mundo. Teus olhos tãos cheios de energia me transbordam. 

Tua pele macia. O melhor travesseiro já inventado. Poderia passar o dia com a cabeça recostada ao teu corpinho. O cheiro sossegado me embriaga. Cheirinho de coisa boa. O odor que limpa os pulmões. Queria poder guardá-lo em um frasco. 

Não sei explicar esse amor. Não sei explicar o valor que tu tens. Parece mentira. Parece bobagem. Admito que não esperava algo assim. É loucura demais, mas vale a pena mergulhar dentro dela. Afogar-se nesse não sentido. Quando estais presente não há mais nada. Não importa mais nada. Suporto tudo. Enfrento tudo. Meu sobrinho. Meu encanto.

sábado, 22 de dezembro de 2012

A saída.

''E todos os dias serão piores enquanto eu continuar aqui, vivendo uma vida que não é minha.''
Tal frase ecoava nos seus ouvidos como um sino que marca a passagem do tempo. Ela acreditava no anúncio que as palavras faziam sobre a condição de sua alma, mas não era tão simples. Parava pra pensar um pouco mais e se fazia a pergunta: Qual vida será a minha? Se não é esta, qual é então? 
Não descobria nada passeando pelos pensamentos. Eles não possuem a resposta. Por um bom tempo, tempo incerto demais para ser dito seguramente, ficou procurando algo que confortasse suas dúvidas. Saia por aí em busca da vida que seria a dela. Aquela vida que é sua e que está implícita na frase.
Numa noite adormeceu docemente. Há muito tempo que não o fazia. No sono seu pensamento se desprendeu da razão que o guiava enquanto desperto e ela sonhou. Sonhou com uma sala e neste ambiente não estava só e ao mesmo tempo sim. Para onde olhava só via a si mesma. Ela era várias. Como se repentinamente fosse dividida e esses pedaços ganhassem vida. Seis. Seis garotas idênticas e diferentes distribuídas ao longo da sala. Susto. Medo. Estranheza. Familiaridade. Não havia nada ali que elas não conheciam. Eram elas. Era ela. 
"Como viver uma vida que satisfaça a todas?" Esse era o assunto. O tema da discussão. E elas se debatiam e lutavam para encontrar uma solução. Cada uma possuía algo de particular. O que era bom para uma servia de veneno para outra. Às vezes a maioria concordava, mas sempre tinha aquela que não estava satisfeita. E se todas não estivessem unidas não daria para continuar. Houveram brigas. Muitas brigas. Ameaças. Porém, nada foi decidido. "Por hoje encerramos".
Ela acordou sobressaltada. Com o ar escapando dos pulmões. Seu corpo doía como se tivesse sido repartido. Confusa. Passou o dia pensando sobre a noite e percebeu que não havia sido um mero sonho. Era uma tentativa desesperada de sua mente de resolver o dilema e ao mesmo tempo revelá-lo. Era por isso que nunca tinha conseguido encontrar a resposta. Dentro si havia vários "eus" e cada um com suas expectativas. Era esse o motivo de não encontrar uma vida que fosse sua, pois haviam tantas possibilidades e nenhuma contemplava todas. Ao anoitecer. Fechou os olhos e novamente sonhou a continuação da noite anterior.
Lá estavam. Lá estava. E recomeçaram a discussão. No calor do tema teve uma que gritou: "Desse jeito não dá para todas viverem". E os olhos saltaram e ficaram frios. Será? Será que essa é a saída? 
Acordou sem reação. Não tinha o que pensar. Sua mente estava em silêncio. Passou o dia passeando pelas horas. Até a noite chegar mais uma vez e o sonho retornar. 
"O que foi dito ontem não é algo a ser pensado". Estavam caladas. Cada uma com suas reflexões. E assim foi por vários dias. As vezes se tentava falar sobre alternativas, mas nada encontravam. E durante o dia as coisas foram ficando difíceis. Era doloroso continuar daquela maneira. Sem saber seu lugar. Sem sentir que vive. Estando sempre errada. Não dava mais. 
"Se apenas uma não pode viver e não podemos viver como uma, então poremos fim em todas. Essa é a forma de acabar com tudo o que nos pertuba". Algumas relutaram, tentaram debater, usaram diversos argumentos, mas nada bom o suficiente. Então, todas concordaram. Juntas, uma sufocando a outra. E no instante que o último suspiro foi lançado finalmente eram uma só.
 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

"Nas ondas verdes do mar"

Repentinamente me vi diante do mar. Senti no rosto o vento com cheiro de maresia que brota do horizonte e diante dos olhos o mar dançou pra mim. Nos seus passos vi o cotidiano, o dia-a-dia que nos faz esquecer que há vida dentro de nós e que iremos passar. Estamos passando. 

Na imensidão daquelas águas lembrei do quão pequeno é o tempo. Pequeno demais para nós. Pequeno demais para ti. Em mim o tempo passea. Brinca com meus anos e cansa os meus dias, pois ele corre depressa e não posso alcançá-lo. Quem é que pode? Tu não pôdes. Fosses engolida por ele. Iremos todos.

No movimento das ondas vi o mistério que nos envolve. A forma como ele balança, ligeramente muda seu curso e não consigo perceber esse momento. Descubrir o instante que as coisas se transformam, mudam de tal modo que não sabemos o ponto onde tudo aconteceu. Estamos em outro lugar sem ter ideia de como nossos passos nos levaram até lá. Até aqui. Estou agora. 

Eles se cruzam e depois se separam. É assim que somos nós. Foi assim que fomos nós. Em um minuto estávamos aqui a fazer planos e no outro estou eu a recolher retalhos dos sonhos que se chocaram nas pedras. Sim, ainda estou navegando. Meu navio continua a navegar. Ele é forte, tem medo demais para naufragar, mas o mar tem seus mistérios.

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...