domingo, 23 de fevereiro de 2014



Deixei de contar os dias da tua ausência. Agora quando paro para pensar no tempo só sei que faz mais de um ano que tu fosse embora. Saber os dias não faz mais diferença, o que realmente importa é que não há mais. Você decidiu abraçar a morte e independente de quanto tempo passou e passará, não há mais nada a fazer que não ser viver com esse silêncio e diversas perguntas. Mas tá tudo bem, as coisas vão acontecendo de um modo que te faz seguir em frente, é que as vezes a gente olha para trás e se pergunta: E se?

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Que seja incerto enquanto dure.

"Na duvida, ninguém desespera" (JACOBSEN, Jens Peter. 2003, p. 65).

A primeira vez que li essa frase fiquei estarrecida com tamanha absurdidade, pois era comum a mim se corroer entre as diversas dúvidas. Não a aceitei e rapidamente a rejeitei, no entanto, ela volta e meia retornava aos meus pensamentos. Demorou até que eu começasse a ter uma nova postura sobre ela e talvez tenha começado a me aproximar do sentido do autor. Hoje essa frase faz parte do meu vocabulário para entender as coisas do dia a dia.



"Na dúvida, ninguém desespera" retrata, na minha opinião, a existência do homem livre, do homem que é responsável pela construção do seu projeto de vida. Essa citação revela a pluralidade da vida e o quanto para nós é necessário e imprescindível realizar escolhas. Em uma aula na faculdade sobre saúde mental comentei dessa frase e disse que para mim, a doença mental, era a impossibilidade de realizar escolhas. Comentei que acreditava que o sujeito adoecia quando se via sem alternativas para trilhar o seu viver. Era a certeza irremediável que levava a pessoa a enlouquecer. Enquanto houvessem saídas, possibilidades, o sujeito teria perspectivas, mas quando se percebia encerrado em uma situação, perdia-se. 



Na dúvida, ninguém desespera, pois a dúvida indica que existem oportunidades de mudanças e mudanças são chances de crescimento. Eu sei o quanto nossas dúvidas podem causar desconfortos. Eu sei que a dúvida remói o ser e nos machuca quando é provocadora demais. Também sei que a dúvida pode nos paralisar. Contudo, na dúvida padecemos do mistério que há no além de cada decisão. Sentimos, na dúvida, o medo do não saber o que virá depois e também o medo de perder o que já é. Isso tudo nos mostra que temos um caminho a prosseguir, uma história para escrever. Na dúvida temos medo da nossa capacidade de realizar as coisas e da imprevisibilidade dos fatos que independem da nossa vontade e desejo. 


Penso agora numa analogia que é bem simples, mas acredito que engloba bem o que venho falando. Imagine que a vida são as estradas, ruas e vielas de uma cidade. Nós temos que percorrê-las sempre em frente, sempre em caminhos que nunca percorremos, pois, não dá para voltar, já que a medida que andamos o percurso percorrido se apaga atrás de nós. Às vezes encontramos lugares parecidos com outros visitados, mas nunca são os mesmos. Enfim, passamos o tempo todo caminhando, entrando em ruas, becos, estradas e a cada passo não sabemos muito bem o que vamos encontrar a frente, mas enquanto há estrada estamos caminhando. Algumas são mais preservadas que outras, existem umas mais estreitas, outras com esgoto a céu aberto, ruas de barro, estradas esburacadas e sei lá mais o quê. Temos medo a cada esquina, pois não sabemos o que iremos encontrar. Alguns são mais audaciosos que outros, mas volta e meia se questionam sobre qual caminho percorrer. Outros não querem seguir, mas precisam pois não dá pra ficar parado. Até que de repente, dobra-se uma rua e se encontra sem saída. Não há para onde ir. O caminho vem se desmanchando aos seus pés. Que desesperador deve ser perceber que tudo está ruindo e que não se vê para onde ir.

A certeza é fim. A dúvida é o anúncio de um começo. "Só quando a última porta se fecha à nossa frente é que se cravam em nosso peito as geladas garras da certeza, que pouco a pouco penetram, já dentro do nosso coração, a finíssima teia da esperança da qual pende a nossa felicidade. Então rasgam-se os fios dessa teia, então cai e só então é destruído o que eles antes sustentavam, e então ecoa agudo pelo espaço o grito de desespero." (JACOBSEN, Jens Peter. 2003, p. 65). Aqui o autor fala da esperança e do quanto ela é alimento para nossas paixões e anseios, do quanto a nossa felicidade se apoia nessa fina teia chamada esperança. Na dúvida, ninguém des-espera. Há na dúvida a esperança por algo que ainda não se sabe o quê, mas se espera, por mais incerto que seja. Ninguém des-espera enquanto ainda há dúvida sobre o que há pra ser.
 
Com isso recomendo o conselho do poeta Rilke (2001), "Sua dúvida pode tornar-se uma qualidade se o senhor a educar. Deve-se transformar em saber, em crítica. Cada vez que ela lhe quiser estragar uma coisa, pergunte-lhe por que aquilo é feio. Peça-lhe provas, examine-a; talvez a ache indecisa e embaraçada, talvez revoltada. Mas não ceda, exija argumentos. Ponha-se a agir assim, atenta e consequentemente, cada vez, e dia virá em que, de destruidora, ela se tornará sua melhor colaboradora, talvez a mais sábia de quantas que cooperam na construção de sua vida" (p.74).



Referências:

JACOBSEN, Jens Peter. Niels Lyhne. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.

RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta e A canção de amor e morte do porta-estandarte Cristovão Rilke. São Paulo: Globo, 2001.




quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014





Quando morrer, a única coisa que quero levar da vida é a sensação de não tá levando nada.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014


Que minhas palavras escritas possam falar aquilo que há de indizível no meu ser.
Que elas reflitam o que falta no meu corpo.
E expressem os silêncios dos meus lábios
Que mostrem as cicatrizes ausentes da minha carne.
Que possam fazer dos meus sonhos, realidade.

Que minha escrita liberte os meus monstros
E desperte os meus males.
Que ela transforme meus sóis em tempestades
Que dance com minha fantasia
E brinque com os meus sentidos.

Que a escrita deixe transparecer o perdido de mim
e que eu conheça o mais que existe no que ainda não.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Iluda-me, por favor!

E ela preferiu encarar a mentira confortadora
do que se deparar com a verdade devastadora.
Se agarrar a ilusão pra não morrer
com doses de desilusão
Quem a pode julgar?
Só prefere a realidade
aquele que não consegue sonhar

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...