segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A minha perda: em busca de um sentido.

Fico aqui procurando as palavras certas para expor o que estou sentindo. Não sei por onde começar. Não sei o que fazer. A pergunta que ficou rodeando minha cabeça foi: Então é assim que é a morte? Não dá para acreditar na simplicidade dos fatos. Como pode ser possível desaparecer assim alguém que para mim era essencial? É essencial. Que fim é este que não te deixa terminar nada e nem anúncia sua chegada? Ele é. E nós somos apenas peças compondo o tabuleiro da vida que não possui regras para nos esclarecer suas jogadas repentinas. Sim, acabou. Simplesmente acabou. 

Perder alguém. Perder a ti. Como encontrar sentido para tal? Há algum sentido nisso tudo? Para quê haver sentidos? Lógicas que só servem para mascarar a nossa falta de respostas. Ver alguém partir sem destino. Sem destino mais. É destino. O que na verdade eu perdi se nunca foste minha? O que nós perdemos quando alguém morre? Penso agora que são recortes de nós mesmos. Pedaços de nossos sonhos, nossos planos, nossas fantasias e lembranças. Retalhos de tudo que construímos com e que jamais poderá ser sem. É isso, perdi com tua partida algo meu que não mais poderei retomar no contato com outros. É por isso que dói. É por isso que dói? Não sei, mas dói. 

Por enquanto, nesses sete dias que passaram desde a tua despedida sem adeus, as manhãs continuam a acontecer e o mundo continua girar. É incrível, mas é verdade. As pernas dão seus passos, as vezes tropeçam, porém permanecem na estrada que não trilharás mais. O relógio permanece com seu tic tac nos lembrando que o tempo passa, passou e passará. Todos os dias, desde então, levantar da cama tem uma conotação diferente. E meu maior medo é um dia abrir os olhos e não sentir no corpo o peso da saudade. Medo dessa sensação de vazio se propagar. Quando esse tempo chegar saberei que terás ido embora. Somente nesse instante é que terás ido embora. Por enquanto, "aos outros eu devolvo a dó, eu tenho a minha dor". E, não consigo tirar da cabeça que "quando você acorda, a vida já passou." e "Não é preciso ser velho para sentir o tempo".

Tempo. O que falar dele? Poderia tê-lo usado com mais intesidade. Poderia tê-lo aproveitado. Poderia tê-lo. Não tenho. Ver a impossibilidade de manusear o tempo ao nossos caprichos é humilhante. Se pudéssemos brincaríamos com os ponteiros invisíveis do incontrolável e seríamos rainhas do mundo. O universo estaria aos nossos pés. Teria sido engraçado. Mas não é. 

Pelas pontas dos meus dedos escorrem sentimentos, emoções que não ganham voz quando tentam escapar pela garganta. Desde cedo aprendi que escrever era a saída para aquilo que não poderia ficar preso. Você me ajudou a encontrar outras maneiras, porém continuo com velhos hábitos. E é por isso que não consigo falar sobre tal assunto de outra forma. Diante de tudo que estou vivendo não poderia discorrer sobre sentimento de perda, sobre morte, sobre a vida sem ser de maneira passional. Se caso o fizesse estaria sendo desonesta comigo mesma e com tudo que acredito. Nessas conjuções mal elaboradas e emotivas tento organizar o que esta confuso. "(...) trato meu coraçãozinho como uma criança doente, satisfazendo-lhe todas as vontades".

Ainda havia tantas coisas para fazermos juntas. Nossas promessas estão passeando pelo vento e continuarão. Na tentativa de te manter aqui guardo tudo que possa te lembrar. Conservo as memórias, "mas algumas coisas ficam mais bonitas quando se transformam em lembranças". E por mais que pareça loucura, por mais que seja incompreensível, "Mas foi minha, essa amiga, senti esse coração, essa grande alma, em cuja presença eu julgava ser mais do que era, por que era tudo o que podia ser" e isso é o que importa. 

Estou aprendendo que independente do quanto estude, do quanto leia, do quanto pesquise, a realidade sempre te surpreenderá. Quando me deparei com a situação descrita por tantos autores, a circuntância comentada por diversos professores, não pensei, apenas senti. E é no sentimento que pretendo viver e compreender o que me acontece. "Geheimnis".

"Por algum tempo, eles poderiam ter andado juntos sobre o mesmo trilho. Mas nunca seriam esmagados pelo mesmo trem."

P.S: Citações dos livros que partilhávamos como queridos: Os famosos e os duendes da mortes e Os sofrimentos do jovem Werther. E a música De mais ninguém de Marisa Monte que para mim é especial.

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