segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sob a vista.

No canto dos dois vejo seus corpos se enlaçarem.
Escuto o sussurro de seus gritos presos nas palmas das mãos.
Sinto o cheiro do suor que emana das coxas.
Coxas firmes que tencionam no balançar dos quadris.
Fico quieta a olhar o bailar de seus hálitos segundos antes do beijar.
Observo o encaixe sincronizado de dois seres.
Embriago-me com o amor que escapa dos seus olhos.
O prazer que cola nas paredes me prende ao lado da cama.
Mão dupla. Tantas mãos que parece não ter braço nesses abraços.
Abdômen rígido. Músculos definidos.
É beijo forte. É toque forte.
Virilidade que cresce, endurece.
Meus olhos varrem tudo.
Meu corpo capta tudo.
Energia que se espalha e me alcança.
Me entonteci.

Maria dos Prazeres.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

"Como o morango tem gosto de morango, assim a vida tem gosto de felicidade;"

Durante a tarde me peguei observando um grupo de garotos brincarem. Eles eram sete e se divertiam em um brinquedo inflável que se assemelhava uma montanha enorme a ser escalada e devastada. Pelo menos era isso que parecia aos meus olhos e acredito que aos olhos daqueles garotos também. Eles brincavam de chegar no alto da "montanha" e dali defendiam-na e tentavam impedir que os outros subissem. Era uma avalhanche de crianças. Quando uma chegava ao alto logo era empurrada ou puxada por outra e saiam rolando pelo brinquedo. Essa cena era repetida várias vezes. Eram chutes, empurrões, pulos, risadas, pedidos de socorro, pedidos de ajuda, reclamações, pragas soltas pelo ar e muitos pés e mãos tentando se manterem firmes no alto. Lá em cima como reis.


Fiquei um bom tempo olhando aquela cena. Era tão bom os risos. O brilho dos olhos deles, mesmo distante, iluminava a minha alma. Ficamos eu e meu cachorro a olhar. A invejar aquela inocência e alegria. Aquele momento era pura magia. Um divertimento sem igual. Às vezes me pegava assustada, com medo de que algum garoto caísse do brinquedo, mas eles não se preoucupavam com nada, não tinham tempo, estavam batalhando pelo alto da "montanha".



E daí, me lembrei de alguns dias atrás. Não faziam muito tempo. Um tempo que foi ontem. Quando estava  com meus amigos brincando na praia, no mar. Fazendo qualquer tipo de travessuras. Soltando altas gargalhadas e despertando a atenção de alguns adultos e até crianças que nos rodeavam. Ontem brinquei como aqueles meninos estavam hoje se divertindo. Passiei um pouco mais nas lembranças e fui para mais ou menos um mês atrás. E lá estavámos de novo, em uma piscina, rindo e brincando como crianças que nada viam a não ser os amigos ao seu redor. Lembro de pensar nesse dia que nunca tinha visto um amigo meu rir tanto. E até pensei: Ele ri tão bem. Poderia fazer mais vezes.

E, recordo de duas trocas de palavras entre dois amigos. Estavámos observando um bebê que engatinhava na areia e ele acabará de ter a língua de um cachorro passando por sua boca. E soltará um sorriso e tinha adorado aquilo, então meu amigo disse:
- Criança é uma graça. Acha tudo tão divertido.
e o outro lhe respondeu:
- Mas é. Não sei porque os adultos se esquecem disso.

É, não sei porque nos esquecemos disso.




terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Diálogos II

- Você não faz ideia de quem eu sou.
- E você faz?

(...)

Conhece-te a ti mesmo.

- Deixe-me lhe dar um conselho, bastardo - disse Lannister.- Nunca se esqueça de quem é, por que é certo que o mundo não se lembrará. Faça disso sua força. Assim, não poderá ser nunca a sua fraqueza. Arme-se com esta lembrança, e ela nunca poderá ser usada para magoá-lo.
(A guerra dos tronos).

E com estas palavras Tyrion Lannister, um anão, aconselha Jon Snow, um bastardo. O que lhe diz é apenas para apoderar-se de si. Reconhecer-se e carregar-se pelos caminhos tortuosos da vida. Saber quem se é para poder se fortalecer. Jon Snow é um bastardo e ser um bastardo implica uma postura da sociedade. Ele será tratado com desprezo por possuir tal rótulo. Um rótulo que é reflexo da linguagem de uma época. Um conjunto de crenças construído para um intuito que passa despercebido aos olhos daqueles que o carrega. Ao nascer fora de uma relação conjugal reconhecida já se talha o destino e se pinta um caráter, mas na verdade nada diz sobre o sujeito que carrega essa marca, que insisto em dizer, não é dele, mas de uma sociedade.

No entanto, não se pode negar que ele é um bastardo, mas não apenas isso, e principalmente, que ser bastardo não o define e nem o limita. Mas em todo seu ser ele é também um bastardo e fugir dessa verdade irá enfraquecê-lo. E finalmente, tal rotúlo irá devorá-lo. Aceitar-se como sujeito por completo e não apenas uma parte ditada por um conjunto de valores tão mutável como as estações do tempo. Apoderar-se de si é impedir que seu eu seja ferramenta de alienação de si próprio. Hoje existe outros termos aniquiladores do direito de ser um sujeito singular. Ser bastardo não possuí a mesma conotação de outros tempos. Jon Snow teria uma vida diferente atualmente. 

Converso muito com um amigo sobre seu comportamento questionador e o quanto existem pessoas que se incomodam com tal postura. E refletimos que talvez tal incomodo surja devido ao fato desse meu amigo romper com o roteiro que muitos estão acostumados a seguir. Ele rompe com o personagem que é insistentemente representado pelo indivíduo e mostra, como o reflexo de um espelho, o ator por detrás do papel. Muitos não suportam se ver dessa maneira. Se ver em contradição consigo mesmo. Perceber que estão se enganando na procura de agradar os outros. E, devido a isso, fogem. Desistem, pois seu próprio eu é sua fraqueza, e o é por que não o conhecem e nem o aceitam.

Muitos não têm consciência sobre isso e outros não querem ter. O mundo não se interessa por quem nós somos de fato. Leva tempo conhecer-se e é preciso muita dedicação. Além do mais estamos sempre em mudança e isto nos faz imprevisíveis. O mundo quer ter controle da situação e devido a isso pouco se interessa por nós, por quem somos. Ele procura nos limitar a sermos aquilo que nos oferta. Assim, é mais fácil manipular. Para ter o poder de responder a tal ataque é preciso, inicialmente, ser dono de sua identidade. Ser autor de seus personagens. Conhecer-se. Aceitar-se. Dessa forma não será devorado. 

- (...) Todos os anões serão bastardos, mas nem todos os bastardos precisam ser anões - e, com aquelas palavras, virou as costas e regressou vagarosamente ao banquete, assobiando uma canção. Quando abriu a porta, a luz vinda de dentro atirou sua sombra bem definida pelo pátio afora e, só por um momento, Tyrion Lannister ergueu-se tão alto como um rei.



O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...