segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O despertar da angústia (Essa versão é a que apresentamos na sala de aula)

“De repente o sol dormiu e as flores murcharam. De repente não mais chovia e era outono. De repente acordou e sentiu sua alma arder. De repente, sentiu que tinha alma.”

E foi então ali que tudo começou. Não saberia dizer como ou por que, nem mesmo lembrava o que acontecera antes daquele dia áspero de início de outono. Mas, finalmente a clareza do incontestável se fez notar e não pude mais negar a minha incompletude. Sentei-me, acendi um cigarro de baunilha e mergulhei nas profundezas do meu ser, e o que encontrei foi o nada.

“Lançou o olhar, então, para norte, sul, leste e oeste. Parecia procurar alguma coisa no ar. Deliberadamente ouviu no vento uma voz sussurrando, era ela murmurando sua dor não doída.”

Nesse momento, tive medo do inevitável. Não há como fugir. É tudo tão instável. Repentinamente aflorou na minha mente a ideia de que nada e ninguém poderiam nunca ter vindo à existência. A propósito, a qualquer instante, tudo e todos poderiam deixar de existir. Imprevisível é a vida. Como é frustrante perceber que não existem saídas a não ser aquela que tentamos evitar. A única coisa certa é a morte. A cada dia que passa estendo o meu viver e aproximo-me do fim, paradoxo. (Deve-se morrer para si mesmo).

“A natureza seguia seu curso e ela estava lá, perdida dentro de si.”

Passei a imaginar onde estivera enquanto o tempo passava sem freio. Por que teve que ser ali, naquele instante e não em outro? Jogada no mundo eu fui. Lançaram-me aqui sem treinamento, sem conhecimento. Ninguém perguntou se eu queria vir. Tudo já estava pronto aguardando a minha entrada. Quando eu partir o mundo continuará ai. Seguirá seu curso sem mim, como pode? Em pouco tempo serei esquecida, uma vida perdida. Mesmo que o mundo seja eterno, não posso com ele desfrutar de sua eternidade. E alias, por que tenho que viver aqui e agora? Quero viver o ontem e o amanhã idealizado. Pararei de pensar. (Não adianta ignorar. A angústia não cessará. Eterna companheira, assim como a morte, é condição de existência).

Lembranças permearam a minha mente. De repente notei que a vida poderia ter sido diferente. A liberdade de escolha te aprisiona na incerteza dos fatos e te deixa, muitas vezes, paralisado diante das possibilidades. É preciso seguir, é preciso caminhar entre as pedras. Experimentar as larvas para poder conhecer as borboletas. O pior disso é entender que somente eu sou responsável, não posso culpar ninguém, não posso contar com ninguém. O sentido das coisas depende de mim e não o contrário.

“A percepção do mundo como um quadro em branco ou um livro sem palavras. Nada parecia existir por si só. O ser sem estar, o estar sem ser.” (Liberdade sufocante não é?).

Pois, só quem se olha no espelho toda manhã conhece a dor de ser o que realmente se é. Pensou ela, antes de arrancar a adaga que a corroía e atirá-la contra o espelho”. (Reaja! Ficar quieta não mudará nada. Agora que conheces a verdade sóis plena. Vai viver tua condição de ser humana, tua condição de ser livre e única).

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