terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Oi, eu sou de marca.

Dias atrás quase fui assaltada por uma senhora que tinha em média 70 a 80 anos. Ainda não acredito no que aconteceu. Não vou contar o episódio aqui por que é ridículo. O importante é que ela não conseguiu levar meu celular que só vale uns R$ 20,00. O cômico disso tudo é que quando ela se aproximou de mim eu já sabia que ela ia tentar assaltar, ou melhor, enganar a mim, aquela carinha enrrugada não era confiável (para mim, pelo menos). Se eu não tivesse sido rápida iria apanhar na parada de ônibus, pois, quem acreditaria que aquela pobre senhora estava assaltando a mim, uma jovem com mochila nas costas, de chinelo, desarrumada (estava um bagaço, admito) e com cara de maloqueira (Eu tenho essa cara)? Ninguém.

Percebi naquele instante que no mundo a aparência é fundamental. É óbvio, eu sei, mas é muito mais do que ser belo e bem apresentável. A aparência hoje em dia é TUDO. E não falo somente de imagem corporal, falo de uma imagem comercial. A nossa imagem é mercadoria. Se sai bem nas situações quem tem a melhor para apresentar aos consumidores, que somos nós.

Fala-se no consumismo de corpos, mas não é isso que buscamos, queremos uma imagem que vai além das curvas de um corpo malhado. Um corpo belo por si só não se vende, ele tem que vir acompanhado de uma embalagem bonita, de algo que ilumine e aumente o valor daquele "material". É simples, vamos pensar em duas meninas, uma que é linda, malhada, porém é pobre e outra que é universitária, não está tão em forma quanto a primeira, tem um carro e usa coisas de marca, diga-me com toda sinceridade quem, quem chama mais atenção?

O que procuramos atualmente é mais do que um corpo belo, é um ideal de Eu refletido nas mercadorias que possuímos. Isso é o que buscamos e o que esperamos encontrar no outro. É o que mais brilha aos nossos olhos. É através disso que somos reconhecidos, é através disso que nos tornamos gente. Há um tempo venho escutando as músicas do grupo Racionais Mc's tentando fazer um trabalho, admito que ainda não consegui, o que ouço nas letras das canções é o reflexo de um sistema contraditório e perverso. A nossa cultura cultiva um ideal de grandeza e felicidade por meio de mercadorias, mas renega a boa parte da sociedade os meios de consumo. Somos incluídos dentro de um sistema, dentro de um ideal, e excluídos das possibilidades de se alcançar esse "sonho" ou objetivo social. Alias, não é uma exclusão, e sim, uma inclusão perversa.

É mágico e ao mesmo tempo temeroso ver no olhar de um moleque pobre a alegria ao conseguir comprar aquele tênis, aquela roupa. Posso dizer por experiência própria que é como se ele disesse: Eu existo. É muito forte. Se você parar pra notar verá que corpos não são nada, não são tão importante. O que importa, o que vale no jogo da vida de fato, é a embalagem que cobri o corpo, é o que você pode comprar. Fico pensando então se você é o que consome, ou consome o que é?

Esse assunto é muito mais profundo e complexo do que se imagina. Tenho tanto ainda o que aprender, pesquisar e entender. Mas, não sei bem, acho que nada do que eu venha escrever será bom o bastante. Ainda tenho muito o que o pensar.

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