sábado, 11 de janeiro de 2014

O começo - Caso Clínico fictício

(Em pensamentos...)

Cliente: - A primeira vez que entrei naquela sala não sabia o que poderia acontecer. Meus pensamentos estavam confusos e meus sentimentos reviravam a boca do estômago. Fui buscar ajuda, um apoio, uma resposta, algo que me tirasse aquela dor e solucionasse meus problemas. 

Terapeuta: - A primeira vez que vi aquele cliente não sabia o que podia acontecer. Era alguém que parecia trazer nos ombros o peso do mundo. Olhar cabisbaixo e desesperado. Veio em busca de uma ajuda, queria que alguém lhe desse as respostas para seus questionamentos. Dei-lhe meus ouvidos e o aceitei na sua forma de ser singular. 

Cliente: - Podia falar o que viesse a cabeça. Sentir qualquer sentimento que emanasse do meu corpo. Nunca pude me expressar verdadeiramente na vida, nos meus relacionamentos, comigo mesmo. Aqui, neste local, com este alguém que me escuta sem julgar-me, posso finalmente ser e isso dói. 

Terapeuta: - Inicialmente é difícil para o cliente se abrir. É preciso que a confiança seja estabelecida e que ele se sinta acolhido no seu discurso. Com este não foi diferente e ao mesmo tempo foi. Ao aceitá-lo na sua particularidade possibilitei  que ele pudesse se perceber e aceitar-se. Ele já trazia em si o crescimento apenas o ajudava a driblar e notar alguns obstáculos que estavam barrando o seu desenvolvimento. 

Cliente: - É tão difícil se impor em um mundo repleto de armadilhas que tentam lhe aprisionar, dominar, domesticar como a um animal selvagem. São tantas batalhas para enfrentar que às vezes é mais fácil se deixar levar. 

(Começa o diálogo entre ambos)

Cliente: - Estava pensando como é complicado ser você mesmo nesse mundo. Você num acha?

Terapeuta: - Sim, eu acho, mas e você? Sente dificuldade em ser você mesmo no mundo? Como é isso?

Cliente: - Sinto, parece que não sou aceito. Tenho que esconder minhas emoções para conviver com as pessoas. É estranho isso, né? 

Terapeuta: - É estranho ter que esconder suas emoções para se relacionar com as pessoas? Como é ter que fazer isso?

Cliente: - Sim, não é normal. É ruim. Às vezes não sei muito bem o que estou sentindo. Tem horas que tenho raiva e vontade de explodir, mas não falo nada e fico me roendo por dentro. Ninguém quer saber realmente como você se sente. Tá cada um preocupado em fingir suas dores para si mesmo e pros outros. É tudo um jogo pra manter a cordialidade.

Terapeuta: - Eu quero saber como você realmente se sente e aqui não é necessário fingir suas dores, pois quero ouvi-lo e ajudá-lo a lidar com seus problemas. Você está dizendo que acha ruim ter que fingir ser alguém que não é para as outras pessoas e que às vezes não sabe o que está sentindo. E que tudo isso é um jogo para manter a harmonia. Qual a sua participação nesse jogo?

Cliente: - (Em pensamentos...) Como assim qual a minha participação? Eu sei lá. É cada uma! Às vezes ele faz umas perguntas que me dão raiva. Ele quer dizer que tenho alguma culpa nisso tudo? Eu sou uma vítima. Sou assim por que as pessoas são mesquinhas e falsas. Ele diz que quer me ouvir, mas não responde nada. Eu só quero saber o que fazer pra sair dessa situação. (Dialogando) Não sei. Estou apenas jogando por que todos jogam. 

Terapeuta: - (Em pensamentos...) Notei que aquela resposta estava carregada de sentimentos que não foram trazidos à tona. A pergunta causou um desconforto nele, seu corpo se enrijeceu e suas sobrancelhas franziram, mas tudo ficou guardado. É difícil nos responsabilizarmos pelas consequências de nossas ações e perceber que somos autores de nossa história. É um caminho árduo, mas não tenho pressa.

2 comentários:

  1. Lendo as confissões de uma terapia, na qual retrata neste texto, recordei-me de uma aula na qual tínhamos como objetivo, criar uma ideia de abordagem. Poxa, não é nada fácil criar uma situação, imagine trabalhar ela no processo terapêutico. Adorei cada palavra aqui criada, parabéns. Belíssimo texto. Inspirativo.

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