quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Sempre aqui.

Na terça-feira, dia 9 de dezembro, minha amiga voltou da Irlanda depois de um ano por lá. Eu e outros amigos fomos a sua casa vê-la e acalentar a saudade. Chegamos, tocamos a campainha, seu pai abre a porta e ao entrarmos sinto algo estranho, mas não sei dizer o que é. Fico ansiosa para encontrá-la e então, vejo-a passando pelo corredor, tomei um susto, mas também senti algo diferente. Quando a vi não senti que ela esteve distante. Surgiu em mim um sentimento de familiaridade e serenidade. Dei-lhe um abraço bem forte, mas senti que ela nunca tinha ido embora, de alguma forma sempre esteve perto. Parecia que a tinha visto a pouco tempo atrás. Não havia desconforto ou estranhamento, pelo contrário, o que me perturbou nesse momento foi exatamente a familiaridade e a serenidade da situação. Não sei bem como descrever. 


Já tive essa sensação em outros momentos com outros grandes amigos. A distância desperta a saudade, mas quando os encontro sinto que não houve distanciamento. Parece que sempre estivemos próximos. Não há arroubos, não há gritaria, choro, ou grandes espetáculos de reencontro, existe apenas aquele sentimento de estar em casa. Acho muito engraçado essa situação. 

Não há como não pensar na frase do livro Os famosos e os duendes da morte que diz, "Estar perto não é físico.", cada vez mais vejo o quanto isso faz sentido. O ser humano ultrapassa o limite que lhe impõe sua pele. Com seus sentimentos, linguagem e capacidade cognitiva ele se lança além dos contornos do seu corpo e se faz presente a distâncias. A tecnologia possibilita o alastramento da comunicação, mas acredito que o próprio sentimento, sem a presença de comunicação, também mantêm o laço e oportuniza que o outro amado mesmo distante se faça presente. A linguagem gera segurança, abre espaço para que a o outro se renove e se recrie no dia a dia. A cada frase trocada cresce a sensação de consistência, de atualização contínua. Lembro que sempre que conversava com essa amiga enquanto viajava tinha a sensação de que ela estava caminhando junto comigo. Que nós estávamos percorrendo os dias e que podíamos compartilhar experiências. A linguagem solidifica a presença do outro no cotidiano, a medida que conversávamos ela se fazia presente. O sentimento cultiva a vontade, o desejo, a saudade, a presença nas lembranças, no imaginário. A capacidade cognitiva encontra maneiras de estabelecer contato e apaziguar a angústia pelo reencontro. 

Procurar descrever o que senti no momento que a vi é simplificar o que significou pra mim. De qualquer forma, seja bem-vinda Jéssica Grossini, e ao meus amigos que por algum motivo estejam longe, não fiquem preocupados, vocês estão em mim. 

Um comentário:

  1. Que coisa mais linda! Só eu sei o quanto vocês (amigos) foram importante nessa minha viagem.
    De fato: "Estar perto não é físico."

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