sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Sobre o brincar no atendimento infantil.


Diversas vezes vejo as pessoas questionando o fato de em atendimentos infantis, nós psicólogos, brincamos com as crianças/clientes. Quero explicar que essa situação se dá por um fato muito simples, é brincando que a criança se comunica. É através da brincadeira que ela revela o seu mundo, seus sentimentos e os modos de relações que vivencia no seu dia a dia. Nós, enquanto profissionais da escuta, precisamos acolher a criança na sua realidade, e é com o brincar que conseguimos compreendê-la na sua singularidade e ajudá-la no processo de desenvolvimento. 

Também quero dizer que brincar é coisa séria. É a expressão autêntica do ser humano. Pura criatividade e espontaneidade. Brincar é saúde. Saber usar a brincadeira para a compreensão das demandas infantis e intervir nesse campo lúdico não é tarefa fácil e exige bastante do profissional. Ao escutar seu filho(a) dizer que brincou com o psicólogo, não se espante e nem se revolte, pois é através dessa ferramenta que intervimos no universo infantil.

Quer experimentar? Pare um pouco para observar as brincadeiras das crianças e verá o quão significativo é esse momento. O quão é revelador e repleto de possibilidades. Criança que não brinca está adoecida, empobrecida na sua potencialidade. Repito, brincar é coisa séria.

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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015


É bastante comum antes das festas de natal e ano novo algumas pessoas começarem a se sentir tristes e angustiadas. Chamam esse evento de depressão de fim de ano. O que será que ocorre nessa época do ano que sensibiliza e mobiliza tantas pessoas? Sugiro alguns pontos:

1. O final de ano remete à uma avaliação de como percorremos e utilizamos nosso tempo. Somos levados a olhar para trás e refletir sobre o caminho traçado. Às vezes notamos o quando estamos perdidos e o quanto estamos afastados de um modelo de vida que satisfaça nossas expectativas. Tornámo-nos conscientes das nossas falhas e das saudades que nos acompanham durante todo dia e que é amortecida pelo corre corre da rotina. No natal e no ano novo há um apelo emocional que nos convoca a entrar em contato com nossos sentimentos e memórias.

2. Existe a sensação que o ciclo da existência se renova no final e começo de cada ano, mas no fundo, nós sabemos que a vida está apenas seguindo. Essa percepção pode despertar certa angústia quando observamos que, por algum motivo qualquer, estamos estagnados. Podemos pensar que, "Mais um ano se passou e nada aconteceu. Mais um ano está chegando e eu não sei o que fazer."

3. Existe um trocadilho muito importante na passagem do tempo. A cada ano novo temos mais tempo na nossa história e menos tempo para aproveitá-la. Ela está esticando e cada vez mais fica próxima do rompimento. Somos convocados para encarar a finitude com as festas de fim ano.

4. Ainda existe o campo que se abre diante de nós com o passar dos anos. O novo. O desconhecido. O mistério. A possibilidade de mudança. Para alguns, esses sãos aspectos assustadores. 

Seria ótimo se aproveitássemos esse momento de sensibilização e auto reflexão para procurarmos apoio psicológico. São nessas circunstâncias onde nos mostramos disponíveis a repensar e questionar nossos comportamentos que a psicoterapia pode ajudar a facilitar e potencializar esse movimento de transformação. Que nesse ano novo sejamos tocados e passemos a olhar para a vida com mais consciência e propriedade.

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sábado, 28 de novembro de 2015

Onde está o teu desejo? Reflexão sobre o processo de auto-descoberta e apoderamento.

Nascemos e crescemos. No meio de tudo isso, desejamos. O desejo é uma lição que aprendemos ao longo da nossa história. Sim, o desejo precisa ser aprendido. Quando somos bebês nossas vontades ainda não possuem sentido lógico e são puros movimentos, puras atitudes, sentimentos sem palavras. Aos poucos ganhamos sentido e o sentir se torna consciência de um querer

Nosso querer é livre, é voraz e destemido. O mundo, na maioria das vezes, não suporta essa força, e assim, somos domados. Aprendemos limites. Aprendemos aceitação e respeito. Aprendemos também a negação, a fuga e a alienação. Aprendemos o esquecimento, a anulação e o refreamento. Somos adestrados.

Vejo diariamente na clínica pessoas que tiveram seus desejos roubados de si. Elas compreenderam bem a moral que diz "Pensar em si mesmo e realizar suas vontades é egoísmo e isso é errado, é feio e pecado". Hoje são adultos que não sabem o que querem e se desesperam na tentativa de sempre estarem disponíveis aos outros. 

Vejo pessoas que criticam o modo de vida alheio, mas não fazem ideia do que estão fazendo com a sua. Estão estagnadas. Desencontradas. Perderam-se a muito tempo quando acreditaram que era necessário satisfazer a vontade do próximo para se fazerem amados, desejados.

Quando se nega a uma criança a validação e reconhecimento de seu desejo se nega a criança inteira. Nossos desejos expressam a autenticidade da percepção que temos sobre o mundo e as pessoas. Negligenciar isso é sufocar nosso mais puro meio de expressão pessoal. É limitar nossa criatividade e poder de inovar sobre o "destino".

Discute-se que precisamos impor limites para as crianças, e eu concordo, porém quero deixar claro que limites e sujeitos conscientes de seus desejos não são coisas opostas e discordantes. É absolutamente possível, e lógico, ter noção de suas limitações e do mundo, e afirmar suas necessidades e paixões. Ambas são facetas de um mesmo processo que é o desenvolvimento saudável da personalidade. É no limite, na falta, que a necessidade revestida de vontade poderá surgir e se firmar. É na limitação que encontramos estratégias para a realização de nossos objetivos como também nasce a motivação para buscar algo. Pense, como notamos a motivação dessa nova geração que é amplamente assistida e satisfeita de imediato?


Revelam alguns teóricos que estamos vivendo na era da falta de limites, porém observa-se que o número de jovens incapacitados para suportarem/lidarem com as adversidades da vida cresceu. Estamos educando jovens limitados emocionalmente. Precisamos aprender a desejar. Somente conscientes do nosso querer conheceremos a nós mesmos, seremos responsáveis pela construção de nossa história, estaremos abertos para relações com trocas autênticas, despertaremos para a busca de nossa satisfação e teremos capacidade para suportar e ultrapassar as frustrações. 


Precisamos aprender a desejar. E isso ocorre lá no começo, meio e fim da vida. Onde está o teu desejo? É fácil e simples desejar. Não deixem que lhe enganem quanto a isso. Difícil é assumi-lo. Reencontra teu desejo, e assim, reencontrarás a vida.


Fotos: Jackie Monteiro. Ilustradora/Artista Plástica.
www.jackiemonteiro.com.br

sábado, 21 de novembro de 2015

Sobre sonhos e coragem.

Desculpa-me mamãe.
Não pude realizar teus desejos.
É que eu quis mais.
Eu quero mais.

Teus sonhos, mamãe,
eram firmes e seguros,
mas a mim cabia sonhos encantadores.
Sonhos arriscados e com tons de inocência.

Eu sei, querida mãe,
que tu só queres o meu bem.
Eu sei.

Porém, ficas aí,
com teus sérios planos e estratégias.
E deixe-me cá,
a rir das minhas ingenuidades.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Composição.

Corpo eu sou
e sou palavra também.

Sou toda palavra que me lançaram durante a vida.
Sou todo toque que me depositaram enquanto história.

Sou o choro sufocado de minha mãe
e sua alegria escancarada.

Sou a presente ausência de meu pai.
Sou os ciúmes de meu irmão.

Sou os meus nós e laços.
Sou toda abraço.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Aleluia.

Ali, deitada de cara ao chão, te perdoei pela ausência, pelo vazio e pela saudade.

Ali, de cara ao chão, me perdoei pelo não, pela despedida e pela saudade.

Chorei todas as nossas distâncias.

Adeus pai.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O que aprendi na escola? - Sobre o trabalho da psicologia escolar e educação.

A escola é ambiente de aprendizagem e crescimento. Todos os dias crianças e adolescentes se dirigem a escola e passam grande parte do tempo nesses locais aprendendo e se desenvolvendo. Ok, isso todo mundo sabe e ninguém nega. Porém, mais do que aprender os conteúdos das matérias, mais do que saber sobre português, matemática, história e tantas outras disciplinas, os alunos vivem e experimentam a vida nesses ambientes. Hoje, trabalhando como psicóloga escolar percebo, mas do que na época que fui estudante, a relevância de se ampliar a reflexão sobre o papel da educação escolar na vida dos jovens. 


Trabalho com adolescentes do 6º ano do ensino fundamental anos finais até a 3º série do ensino médio. Convivo com eles diariamente. Divido experiências. Compartilho sentimentos. Diferentemente da clínica que apenas vejo o cliente um dia na semana por 45 minutos, passo a manhã inteira com esses jovens conversando sobre variados temas. Somos mais próximos. Temos uma vinculação completamente diferente daquela realizada no ambiente do setting terapêutico. As vezes realizo escutas na escada, no banquinho da entrada, no chão da quadra, em frente ao banheiro, no meio da sala de aula e tantos outros cantinhos onde possa haver a necessidade de simplesmente falar sobre algo que não seja equação ou conjugação verbal. Tem vezes que apenas um olhar ou um cafuné na cabeça parece legitimar uma presença, fortalecer um ego. Em alguns momentos (na verdade vários) recebo abraços, risos e comprimentos, e esses energizam meu dia e o deles também. 

Atualmente vivemos numa época onde a performance, a competitividade e a cobrança por uma eficiência impecável perpassam nossas relações e o modo como encaramos nossas atividades e personalidades. Os adolescentes exigem de si (são exigidos) graus de excelências massacrantes. É doloroso as vezes ver a rotina de estudos que se submetem (são submetidas) crianças/adolescentes de onze anos. Esses jovens são alunos com notas maravilhosas e também frágeis emocionalmente, inseguros, ansiosos, excessivamente exigentes, agressivos e não percebem limites. São meninos e meninas que possuem boletins com notas impecáveis, mas que não podem ouvir um não ou que não sabem aceitar que seu colega não queria fazer algo que lhe foi solicitado. Porém, a vida não é nada simples e muito menos a escola.


Uma adolescente que tira apenas notas acima de 8 recebe seu primeiro 6. A professora passa na minha sala pedindo pra que eu vá falar com ela, pois a adolescente está chorando muito depois que recebeu a prova. Imagino de imediato "Já sei. Foi baixa" e pergunto isso a profissional; ela me diz, "Nada, foi um 6". Eu lhe digo " Ah, mas isso basta." E vou procurar a jovem. Quando a vejo ela está muito mal, a levo para a sala e ela chora, ela treme e tem a prova completamente amassada nas mãos. Pergunto-lhe o que houve e a jovem desamassa a prova e diz que tirou uma nota baixa e não consegue se conformar com isso. O mais tocante em tudo isso é que a dor e a vergonha são tão grandes que ela não consegue olhar para a nota e me mostra a prova com a parte do papel que contém o seis ainda amassada, sem possibilidade de ser vista. Nesse momento vejo o quanto a situação é delicada e fruto de imenso sofrimento.

Permito que ela chore sua decepção, que ela lamente a quebra de sua auto/hetero idealização e reafirmo para ela o quanto a vida não se trata de justiça e por mais que a gente se esforce, as vezes, as coisas não acontece como imaginávamos e não há nada que possamos fazer a não ser continuar e saber que os erros e frustrações fazem parte do percurso. Em nenhum momento pensei em lhe dizer " É apenas um 6. Veja não é tão ruim assim. Você supera fácil". Geralmente, temos o costume de menosprezar o sofrimento alheio quando ele não faz sentido para nós. Admito que tirei muitos 6 (e até menor que isso) na minha época escolar, mas ali não se tratava de mim e nem do modo como eu percebia a situação. Essa era a vivência dela e doía de uma modo visceral. Era angustiante ver o quanto ela se lamentava e como isso arrasou sua auto confiança. Vai ser preciso tempo, vai ser preciso coragem e paciência para que ela ultrapasse esse baque. Existem coisas na nossa vida que não podemos mudar, só podemos ultrapassar. E esse tipo de aprendizagem fundamental para a vida em sociedade, para a existência humana, a escola pode e deve proporcionar. A educação escolar não está de modo algum longe dessas questões.


Depois conversei um pouco com a professora sobre a situação e notei que ela ficou um pouco preocupada e ai eu lhe disse, "Não fique preocupada. Ainda bem que ela recebeu essa nota baixa. Que bom que a escola pôde proporcionar a ela esse tipo de aprendizagem. Isso é importantíssimo. Eles precisam aprender que na vida não se pode viver sem passar por situações de frustração. Agora vamos cuidar do sentido que ela/eles vão dar para isso". Na escola aprendemos sobre a vida, pois a vida não se divide e nem espera que saíamos pelo portão do colégio pra começar a se fazer presente e soberana. O que precisamos é saber como utilizar esse conhecimento de modo a fortalecer os jovens e não massacrá-los e fragilizá-los mais ainda. Essa foi uma importante lição para a pequena e para mim também.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

As pessoas costumam dar asas a sua imaginação.
Eu? Eu prefiro dar asas aos meus afetos.
Gosto de pensar que minhas emoções flutuam libertas.
Não há nada que as prende.
Não há nada que as dome.
Meus sentimentos são passarinhos
que passam sem pestanejar por corpos e seres.
Meu desejo não tem freios e que assim seja.
Que ele jamais seja reprimido a um só coração.
É bom demais amar para ser comprimido e espremido a anseios alheios.
Quanto mais solto, mas vontade de permanecer.
Eu gosto de pensar que meus afetos têm asas
e que não estão em gaiolas.
Eu gosto de amar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Sobre medo.

Dos medos que possuo
procuro livrar-me de todos eles.
São minhas algemas.
São meus grilhões.
Com eles me impeço de sonhar.
Com eles permaneço na insatisfação.
Meus medos controlam minhas aspirações.
Com eles perco o controle...

Dos medos que possuo
procuro cuidar bem deles.
São minha companhia.
São meus parceiros.
Com eles tenho as minhas desculpas.
Com eles tenho garantido os meus fracassos.
Meus medos me impedem de errar além da conta.
Com eles eu acredito que tenho controle...

- poeminha retirado de vivências no acompanhamento terapêutico, pois psicoterapia é poesia. Tem gente que nasce poesia, já dizia Manoel de Barros.

Reencontrar-me no prazer de estar só.
No prazer de estar vã.
Nas minhas profundezas ressurgir inteira na confusão das imensidões.
Questionar minhas certezas tão duvidosas.
Revirar meu avesso e achar o que nem sei se está lá.

Quero poder ficar só e sentir completude.
Sentir que posso mais. Que quero mais.
Desejar. Realizar.
Satisfazer-se.
Satisfazer-me.

Reencontrar a doçura de uma lágrima.
Rememorar as fantasias.
Desconstruir sonhos.
Sentir-me intensa.
Sentir-me existente.
Sentir-me viva.
Sentir-me.

Ser.

domingo, 13 de setembro de 2015

Sou poeta.

Minha mãe não sabe, mas sou poeta.
Ou pelo menos sempre quis ser.
Desde cedo gosto de observar as coisas que não são vistas.
Leio seus mistérios e descubro o que ela teima em esconder.


Meu irmão não sabe, mas sou poeta.
Ou pelo menos sempre tentei ser.
Quando ele se afastou senti no estômago a saudade.
E até hoje não compreendo nossas distâncias.

Minhas tias não sabem, mas sou poeta.
Ou pelo menos penso que sou.
Sinto cheiro de magia quando elas se encontram.
Um tipo de calma me afeta quando estão unidas.

Minha prima não sabe, mas sou poeta.
Ou pelo menos finjo que sou.
Rio com a sua juventude.
Temo por sua esperança.

Meu sobrinho não entende, mas sabe que sou poeta.
Quando cantei para o seu sono.
Quando choro as nossas despedidas.
Quando peço a Deus, mesmo com a fé frágil,
que ilumine seu caminho e me faça poeta para encantar seus dias.




segunda-feira, 7 de setembro de 2015

As primeiras relações e seu papel no desenvolvimento infantil.

"Desça meu filho. Confie em si mesmo, rapaz. Eu num mandei você descer?!"

Ao escutar isso às 6h30 da manhã no meio de um ônibus lotado fico emocionada e encantada. Primeiro porque pensei que a mãe ia terminar o discurso na segunda frase "Confie em si mesmo, rapaz", depois por ela ter continuado e a explosão de ideias que surgiram na minha cabeça. Logo quando ouvi pensei: que coisa mais contraditória. Porém, passado algum tempo, refleti que essa sentença relatava a importância das figuras parentais no desenvolvimento infantil. Vou tentar explicar um pouco da minha ideia. 

Quando nascemos não estamos preparados para a vida em sociedade. Somos lançados em um mundo que exige de nós certos comportamentos. Precisamos aprender a conviver com os outros e com as regras e as normas sociais. A medida que crescemos nossos pais, ou aqueles que cumprem esse papel, vão nos inserindo nesse contexto complexo de relações e de auto descoberta, pois é na relação com o mundo e com as outras pessoas que vou percebendo sobre mim mesmo (ou me perdendo). Enquanto criança, experimentando e conhecendo essa experiência de ser humano preciso da afirmação de meus pais. Necessito que eles me permitam desbravar e desvendar os conteúdos e mistérios que existem por ai. Acabei de ver um vídeo de uma colega, onde seu filho, com menos de um ano, sai engatinhando pela areia da praia em direção ao mar. Ela acompanha tudo. A criança vai em disparada, chega no meio do caminho para e olha para trás. Vê que sua mãe ( e talvez seu pai também) a está observando, acena para ela (eles) e continua em frente. Ele precisou verificar se sua mãe (pais) estava ali, possibilitando o seu explorar, cuidando e acompanhando com o olhar, afirmando esse movimento de descoberta e aprendizagem, de ousadia e coragem. 
 As figuras paternas e maternas são a principal fonte de onde bebem os bebês para acessar ao mundo e consequentemente a si mesmos. Ninguém se constitui sozinho. É sempre em relação que vamos construir nossas qualidades e defeitos. Nossas mais íntimas características. Com o tempo, vamos ganhando mais poder de atuação e afirmação sobre nós mesmos, mas no começo, lá no começo da nossa história, não somos tão independentes assim. Somos imensamente dependentes, e precisamos ser. No meio dessa dependência e o modo como ela vai sendo vivida encontramos saídas. Imagino como deve ter acabado a engatinhada voraz do pequeno Bernardo. Até onde ela permitiu que ele fosse? Como ele foi retirado dessa empreitada? Ah, são tantas coisas para sempre pensadas, ou melhor sentidas. A criança pequena, mas do quê o adulto, se guia pelo sentimento. 

Algo parecido, de certa forma, ocorreu com meu sobrinho. Conta minha cunhada que ele estava brincando de chutar a bola em uma árvore no meio do parquinho. Meu irmão e ela estavam a certa distância observando tudo. Vinícius, meu sobrinho, estava inteiramente envolvido no seu brincar (como geralmente as crianças estão) e de repente, interrompendo aquela atividade de imenso prazer, rompendo com a linha do desejo e querer, a bola estoura. Meu sobrinho para assustado e de imediato vira para trás a procura dos pais. Esses estavam observando de longe, assim como minha colega, acompanhando com o olhar e permitindo seu movimento. Meu irmão ao ver o filho olhando pra eles com aquela cara de assustado diz "estourou papai, a bola" Vinícius cai no choro e corre para receber o conforto dos dois. Aqui, os pais precisam estar presentes para fortalecer o filho. Ajudá-lo a suportar a perda. Colaborar com o processo de aprendizagem sobre as frustrações. Naquele dia o parquinho terminou um pouquinho mais cedo e ele não levou a bola de volta pra casa. Fico aqui pensando como iria terminar se ao estourar a bola e se virar, meu sobrinho não encontrasse o olhar dos pais? Esses estivessem observando qualquer outra coisa. Como seria para ele?

A mãe quando disse ao seu filho, "Desça meu filho. Confie em si mesmo, rapaz. Eu num mandei você descer?!", não estava se contradizendo, muito pelo contrário. Estava afirmando a importância que tem para a construção da autoconfiança do filho. Aqui ela se fez presente e assumiu sua função. É fundamental que os pais saibam o quanto são colaboradores no processo de personalização de suas crianças. São os pais que dão, inicialmente, as condições, saudáveis ou não, para o desenvolvimento da autoestima e autoconfiança dos pequenos. Não é apenas no discurso que essa influência se faz presente, na verdade, ela ultrapassa o uso das palavras. É no modo como a relação se dá. Na forma como os pais se colocam diante do filho, do mundo e dos outros. A criança para além da linguagem ela capta as atitudes, os desejos satisfeitos e os insatisfeitos. Não é tarefa fácil relacionar-se, vamos admitir. Porém, a coisa boa, é que sempre há tempo para mudar. Para ampliar-se e o melhor, aprender.

Foto: Jonas Araújo

domingo, 16 de agosto de 2015

Perdoe-me, mas não me console por favor.
Deixe-me sentir a dor.
Deixe-me sentir a vida.
Aqui reencontro meus sentidos.
Aqui refaço significados.
Sou descoberta.
Sou mistério.
Palavra simples.
Simplesmente palavra.
Silêncio.

Perdoe-me, mas não me console.
Porém aguarde. Acredite.
Seja presença.
Permita o tempo.
O movimento.
A costura dos retalhos.
O desembaraçar dos nós.
Deixe correr.
Acontecer.










Eu tenho pressa para ter mais paciência. Não aguento mais me perturbar com essa calmaria. Eu quero o mais que existe no que ainda não. Eu quero a possibilidade de transformar o que aí está e parece ser fim. Quero poder aproveitar tudo o que der da finitude. Ter certeza de que me manter incerta e duvidosa é o melhor. Quero poder ficar satisfeita com o vazio. Ser preenchida pela falta e encontrar nos meus desencontros as respostas para as milhares de perguntas que ainda não fiz e talvez jamais formule. Deus, como eu quero. Ah, como eu quero. A vida que me assombra e encanta que ela possa sempre ser esse espaço a frente. Que no dia que for partida que eu possa mesmo ainda havendo esperança aceitar despedir-me. E que haja nesse instante a dúvida: e se eu tiver mais um dia? E que me sobre o desejo: só mais uma poesia.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Sobre o "NÃO" e o papel que esse cumpre na infância.

Decidi pensar sobre o NÃO. Essa palavrinha que vem sendo alvo de muitas discussões no âmbito da educação e da psicologia infantil e social. Todos dizem que é necessário dizer NÃO para as crianças. Que precisamos fazê-las entender sobre os limites e o quando isso é fundamental para o seu desenvolvimento e para a construção de um convívio social mais agradável e saudável. Concordo com essas opiniões, mas quero complementar essa ideia inicial com o seguinte: É preciso respeitar também o não das crianças e saber ouvi-las nas suas negativas. 


Comentei a um tempo atrás sobre meu sobrinho de 3 anos que mora distante de mim e como são nossos reencontros. Geralmente ele só consegue entrar em relação comigo e interagir livremente no segundo dia. No início ele não conversa comigo e sempre impõe o não para a tentativa dos outros membros da família de nos colocar em contato. Procuro ter paciência e esperar que o estranhamento inicial ceda naturalmente e de modo leve. Para mim, ele não está apenas repetindo uma palavra que ouve com frequência, mas sim manifestando seu poder de afirmação de si e impondo um limite. Eu respeito inteiramente, mesmo querendo voar naquele bucho amarelo e beija-lo até secar os lábios. Mas, qual a relevância de tudo isso? As crianças geralmente ouvem muitos nãos. Quanto menores forem mais nãos escutam. E mais impressionante ainda que quando elas aprendem o não são inteiramente desrespeitadas.

Existe a famosa fase do "não" que as crianças por volta dos dois anos se inserem. Dizem não pra tudo e sem pensar duas vezes. Pensando assim, muitos pais negligenciam a importância que aceitar e respeitar o não na infância pode ter. Mas, qual o sentido do não mesmo? Quando negamos algo afirmamos nosso ser. O não é a afirmação de si. É poder. É configuração de um desejo que se afirma na negativa. Alguém que tem o poder de dizer não para as imposições externas é reconhecido como potente. A criança ao começar a dizer e CRIAR um sentido para o não vai dando forma ao seu ser. Vai ganhando reconhecimento como alguém que possui necessidades próprias em um ritmo próprio que difere dos pais. A criança diz que não quer comer e nega o alimento com todo o seu poder afirmativo de si e seu desejo. Ela também diz com todas as letras que não quer o abraço e muito menos o beijo, e que lindo é vê-la colocando esse limite sobre si, sobre seu corpo, sobre seu tempo. Os pais, na maioria das vezes, rompe essa potência afirmando que ela "não tem querer", ou então atravessando seu momento e fazendo-a abraçar e beijar sem ser de sua vontade. Digam-me, como uma criança pode aprender sobre o significado do não e a importância que esse tem para as relações sociais e formação de identidade se constantemente é desrespeitado quando pronuncia essa palavra? 

Acho engraçado que os pais exigem que a criança entenda e respeite o sentido dessa palavra quando é falada por eles, mas não entendem, e muitos nem se esforçam para isso, quando é a criança que a pronuncia. É como se eles dissessem: Você não tem direito ao não, somente nós. Ou pior ainda, essa palavra não tem valor de verdade, pode ser desrespeitada a qualquer momento. A criança compreenderá melhor os limites quando senti-los na relação com os outros e quando lhe for permitida sentir na sua vivência o que o não pode possibilitar. 

Em resumo, quero dizer que o não precisa sim ser colocado para a criança, mas não como imposição unilateral de respeito que parte do adulto para a criança, mas que seja uma possibilidade de relação. Não vamos deixar a criança fazer de tudo. Por exemplo, meu sobrinho enlouqueceu quando sua mãe quis guardar os iogurtes na geladeira, ele gritava: NÃO. É MEU. NÃO. Ela não podia deixá-los do lado de fora com ele levando a bandeja pra lá e pra cá, e nesse momento é preciso que a autoridade e consciência adulta tome conta da situação. Sem precisar de agressividade e grosseira. Sem precisar humilhar a criança e dizer que ela não tem moral pra nada, que ela não tem querer. Não é necessário. No entanto, quando meu sobrinho está brincando com a minha mãe e eu tento me aproximar e ele diz prontamente: Titia, não. Só eu e titia sol. Aqui ele pede privacidade. Quando ele me diz, não quero beijo, eu digo que tudo bem. E espero o momento que ele está aberto para isso. Se passarmos a olhar para as nossas crianças como iguais não precisaremos mais manipulá-las e muito menos invadi-las. Gosto de comparar o modo como tratamos as crianças com as relações adultas. É altamente desconfortável pensar que alguém venha beija-lo, abraça-lo ou force a alimentar-se quando você deixou bem claro que naquele momento não quer nada daquilo.
 
Se querem ver seus nãos respeitados, respeitem os nãos alheios.


Foto: Jonas Araújo - FOTOGRAFIA (https://www.facebook.com/jonasaraujofotografia?fref=ts)

quarta-feira, 15 de julho de 2015

As flores não murcharam. O amor sim.


Você se foi e levou suas roupas do armário.
Carregou do banheiro a escova de dentes.
Recolheu seus livros da estante.
Até retirou do computador suas fotos (nossas fotos).
Saiu e bateu a porta deixando claro que nada mais restava de você para mim.
Então, desconsolado, sento no chão da sala.
De repente enxergo o vaso e vejo as rosas.
Aquelas que você nos deu dizendo que representavam nosso amor.
Elas estão lá, vivas, floridas, fortes e coloridas.
Pego-me pensando: Ainda há esperança para nós (para mim)?
Já que as flores vivem. Já que as flores ficaram.
Ou ela deixou apenas aquilo que não mais lhe interessava, nosso amor.


Foto: Thyeri Bione.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Estou em desajuste com as minhas certezas.
Quero a esperança que se esconde nas dúvidas.


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Desafio Ph Poem Day.

Começo tardiamente a brincadeira, mas não quis perdê-la. Desafio de escrita ‪#‎phpoemday‬ ‪#‎day4‬ ‪#‎temaosilêncio‬


Se partires de mim, sai em silêncio.
Não suportaria ouvir tua despedida.
Deixa-me com o surdo de tuas palavras.
Com o silêncio eu posso criar.
Serão minhas as frases que ecoarão.
Criarei um belo espetáculo, onde tu estarás sofrível e arrependido.
Vai calado, e me deixa inventar nosso amor.


http://www.vanessachanice.com/2015/05/desafio-de-escrita-phpoemaday-iii-edicao.html

sexta-feira, 29 de maio de 2015

XVI Congresso Internacional de Gestalt-terapia: Primeiras impressões.

"Somos sociais ou antissociais?"

A minha primeira experiência com congressos de Gestalt-terapia foi no ano de 2013 no evento nacional aqui em Recife. Fiquei maravilhada com o encontro e com as repercussões que esse gerou sobre mim. Criei a ideia de que os congressos de Gestalt-terapia eram profundamente inquietantes e terapêuticos. Com esse pensamento cheguei ao XVI Congresso Internacional de Gestalt-terapia no Rio de Janeiro e fui surpreendida. 

Na noite de abertura fomos atravessados. Aos arredores da UERJ, local que estava recebendo o evento, ocorria um protesto de moradores de uma favela próxima contra a desapropriação de terras. Também havia dentro da Universidade, no prédio em frente ao nosso, um movimento dos estudantes e esses quebravam vidros e gritavam palavras de ordem. A situação estava tensa. O metrô estava fechado, na rua havia batalhão do choque e policiais, nenhum carro passava. Nós estávamos trancados em um teatro e por um bom tempo não fazíamos ideia do que acontecia lá fora. Até o momento em que fomos informados que precisaríamos evacuar a Universidade com urgência. O desespero se instaurou, pois cada um que contava sua versão. Disseram que havia morrido um chefe do tráfico e estavam protestando por isso, chegaram a dizer que se continuássemos juntos, eles (seja lá quem fosse) não entrariam atirando em nós. Entre a tentativa de manter-se calmo e o clima de pânico que surgia entre nós havia o pensamento: Como isso pode estar acontecendo? Eu paguei caro por isso aqui.

Era incerto a continuidade do evento. Saímos por uma "rota segura" e lá fora as pessoas estavam calmas e vivendo a sua rotina normalmente. Enquanto nós, que carregávamos pastinhas azuis, corríamos desesperados e duelávamos por um táxi que aceitasse nos levar para o destino desejado. Foi difícil, mas chegamos bem. 

No outro dia, fui normalmente para o congresso, e aqui começo a falar da minha experiência pessoal, mas com um sentimento de incerteza e certo incômodo. Após as apresentações da manhã fomos convidados a nos reunirmos no grande teatro para resolver questões da organização do Congresso. Lá somos informados que o evento não poderá mais ocorrer na Universidade por riscos de novas mobilizações e protestos. O reitor temia por nossa segurança e o evento terá que ser transferido para uma Universidade Particular, pois lá "não acontece dessas coisas". Teríamos algumas perdas. O congresso não iria acontecer dentro do programado.

E assim, lá estou eu, sentada naquela poltrona sem acreditar no que estava acontecendo. Sentindo-me lesada, impotente, frustrada e preocupada. Fiquei lembrando do questionamento lançado por uma palestrante: "Somos sociais ou antissociais?". Não dava para negar a realidade. Não dava para discutir sobre os conceitos de Contato, Campo e Ajustamento Criativo e negar o meio social em que vivemos. Como pensar figura e fundo e não levar em consideração a nossa experiência naquelas circunstâncias? Eu sou um ser social e faço parte de tudo isso. E tudo isso faz parte de mim. Os moradores da favela da mangueira e os estudantes da UERJ jogaram isso na minha cara. O que fazer diante disso? Por enquanto a alternativa que encontramos é mudar de lugar. Ir para longe. Afastar-nos. Vamos agora para a Universidade de Santa Úrsula (e que ela nos proteja). No entanto, penso: não é assim que sempre fazemos? Não é assim que "resolvemos"?

É, os Congressos de Gestalt-terapia são extremamente inquietantes.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Oração pela liberdade.


Senhor, permita-me o direito de errar.

E ao errar que eu seja julgada e condenada.
Quero carregar em mim todos os meus erros.
Sim, sou culpada, e tenho orgulho disso.

Senhor, permita-me construir a minha história
do modo como acredito ser satisfeita.
Deixa-me carregar meus fardos,
meus fracassos e que cada vitória seja minha.
e a mim, exalte adoração.

Senhor, será que posso fazer à minha vontade
por mais que pareça injusta?
Quero poder deixar em minhas mãos
as ferramentas para o meu viver.
Que eu viva para mim e por mim, Senhor.
E na minha unicidade eu exalte a tua liberdade.



A vida me imensa.

Ando transbordando.









Foto: Cayo César (https://www.facebook.com/fotografiacayoce/timeline)

quinta-feira, 26 de março de 2015

Teu corpo suado me lembra o mar.
Salgado.
Navego entre as águas
e descubro novas ilhas.
Onde descanso e me reencontro.
Nele mergulho e deixo-me afogar.
Sufoco.
Perco os sentidos.
Desfaleço no teu abdômen ondulado.
Renasço na força dos teus braços.
E impulsionada pelas tuas coxas
Ressurjo em mim e para mim.

Faço-me cachoeira e desaguo em ti.
Sou batizada nas águas que escorrem de nós.

Maria dos Prazeres.





 

quarta-feira, 25 de março de 2015

Posso falar de coisas boas aqui?

"É! Tem que terminar com alegria."

Ouço essa frase de uma cliente ao terminarmos a sessão fazendo piadas. Quando ouvi a frase, pensei de imediato, "Opa! Não é bem assim." e depois fui tomada pelo pensamento, "E porquê não?". 
 

A psicologia trabalha com a subjetividade humana. Durante a graduação vamos aprendendo sobre os afetos que permeiam os comportamentos humanos e se entrelaçam com a percepção do homem sobre si e o mundo. Ao longo do curso somos inundados da complexidade da existência humana repleta de sentidos singulares, diversos e dinâmicos. O sofrimento humano é para nós fonte de crescimento e possibilidades. Compreendemos que esse aspecto da vida humana é inevitável e que precisamos lidar com ele. Lembro que uma professora num certo dia disse que sabia que a terapia estava caminhando bem quando o cliente saia chorando da sala. Escutei isso no 2º período e acredito que durante a minha graduação essa ideia prevaleceu e criou raízes no meu modo de encarar o processo de psicoterapia. Até agora.

Perceber que o cliente sai mobilizado da sessão é sinal de que algo está sendo remexido, questionado, repensado. É difícil permitir que o cliente sinta e permaneça nesse estado de inquietação e angústia que poderá proporcionar descobertas e reconfigurações de posições na sua vida, mas compreendemos o valor desse momento. O sofrimento é algo fundamental. No entanto, acredito que estamos perdendo de vista a importância dos sentimentos positivos na configuração de uma sessão psicoterapêutica. 

Tem que terminar com alegria, e porquê não? Ver que a cliente apesar das suas problemáticas e sofrimento, naquela sessão específica terminou leve e sorridente. Pegou o elevador com o rosto convidativo. Deu-me um abraço apertado e sinto que um novo fôlego foi dado para a sua semana. Que a sessão para ela seja o espaço de reencontrar o encanto de sorrir com uma piada. A vida não é só sofrimento e que essa dimensão possa ser percebida também em uma psicoterapia quando se rir das dores ou dos nossos ridículos.


O percurso de estudo de um psicólogo é pautado na busca da compreensão do sofrimento humano e das diversas problemáticas que isso pode causar para o sujeito. Falamos imensamente sobre tristeza, depressão, abandono, solidão, angústia, rejeição, raiva e etc, mas pouco nos é colocado sobre a alegria, felicidade, amor, amizade, sentimento de pertencimento e tantos outros. Esse aspecto da existência humana vem se diluindo no cuidado do psicólogo. Lembro de uma outra cliente que sempre me pergunta se pode falar de coisas boas na sessão, ou lá é apenas o lugar de falar sobre seus problemas e dores. "Como assim?", eu penso. A psicoterapia fica com a imagem de ser um espaço de dor, quando na verdade é o contrário, ou pode sê-lo. Fazer psicoterapia é (re)encontrar a relatividade da vida. O quanto ela é bela e cruel. O quanto a vida é dinâmica e transformadora. É espaço de reconstrução de sentidos. E sim, ela pode terminar com alegria, não há nada de errado com isso. Que hoje possa ser terminada com um riso. Na próxima a gente vê por onde ela caminha. Assim como na vida, que a cada momento desfrutamos de uma emoção e aprendemos a encarar o dia a dia com seus desabores e delícias. 


Página no Facebook: Psicoterapia, fale mais sobre isso... (https://www.facebook.com/psicoterapiafalemais)

Foto: Cayo César (https://www.facebook.com/fotografiacayoce) e Jonas Araújo (https://www.facebook.com/jonasaraujofotografia)


quarta-feira, 18 de março de 2015

Catarse

Não quero dormir. Surgiu em mim um incomodo que não se aquieta com a paz do sono. Sabe aquela agonia que toma conta de quem tu és? Completa a ti e preenche teus espaços. Uma agonia inominável que revira tuas ideias e inquieta tua estabilidade de acreditar que estar tudo caminhando bem e tranquilo. És tocada. Fui tocada. A escrita elabora para mim esses sentimentos que não cabem nas palavras. A minha cabeça logo dói. Ela responde à minha ausência de entendimento. Escrever, para mim, é poder fugir da lógica. É brincar com os sentidos. Minha fala é rasa. Minha escrita sobrevoa e mergulha de cabeça. Falando em cabeça, como ela dói quando meu ser é acalentado pela emoção inominável. Fico vazia de respostas. As perguntas escorrem pela pele. Inundam meu paladar. Perceber essa falta é desesperadora. As perguntas e suas incompletudes. A vida e suas ausências. A vida e seus desdobramentos. A vida e seus encantos. O medo de estar passando por ela sem saborear tudo o que pode. A ilusão de ter o amanhã para poder fazer melhor. Não há tempo, mas preciso acreditar que sim. Precisamos. A esperança nos alimenta e nos engana. O futuro não existe e por isso mesmo é o futuro. Agora, desvio-me do que me apavora, pois foco no que há de seguro para mim, ou no que acredito que seja. Respiro e a cabeça alivia. Talvez esteja chegando a hora de dormir.

quinta-feira, 12 de março de 2015

segunda-feira, 9 de março de 2015

Psicoterapia, fale mais sobre isso...

 

A clinica psicológica é o lugar de uma escuta acolhedora, mas o que isso significa de fato? A psicoterapia é um espaço de confiança, entrega e descoberta, mas o que isso quer dizer exatamente? 

Venho questionando o sentido de um serviço psicoterápico, suas possibilidades e limites. Hoje pude perceber o quanto é comum ligarmos à terapia psicológica o conceito de mudança. Quando procuramos esse serviço, geralmente, somos levados a pensar nas mudanças que desejamos para a nossa vida. Fazer psicoterapia está ligado ao desejo de transformação. Mudança é a ambição de muitos que chegam até nós, no consultório. No entanto, proponho uma outra palavra.



Antes de promover mudanças é preciso que um espaço terapêutico proporcione aceitação. Uma escuta acolhedora significa possibilitar ao outro a expressão de suas verdades sem julgá-las e não impor novos valores ao cliente. A partir dessa perspectiva, o sujeito poderá se abrir e revelar-se a si mesmo. Escutar o outro nas suas verdades sem subjugá-lo não é algo comum em nossa sociedade. Pense, em quantos lugares/relações você se sente a vontade para falar sobre tudo o que pensa e sente? Em quantas relações/lugares você se sente aceito por quem é e não por aquilo que parece ser? Recebo diariamente pessoas que jamais se sentiram escutadas verdadeiramente nas suas vidas. Poder se expressar genuinamente é uma dádiva. É libertador ter um espaço onde podemos nos aliviar de nossos papéis, máscaras e amarras.

Alias, proponho uma outra pergunta para reflexão, você se aceita como se é e não como quem gostaria de ser? A aceitação não parte apenas do psicoterapeuta, mas é preciso questionar se nós antes de desejarmos mudar, nos aceitamos como somos. E qual a diferença que isso faz? Poder aceitar-se é uma mudança impressionante. Nossos conflitos com nosso modo de ser no mundo tendem a se dissolverem. Nos ampliamos. Quando nos descobrimos e entendemos a nós mesmo, podemos tomar decisões mais coerentes com nossos desejos e nos tornamos mais conscientes e respeitosos com nossa pessoa. Aceitar-se é uma grande mudança para o homem contemporâneo.



Estamos tão inquietos com quem somos que buscamos mudar sem nem ao menos tentar nos entender e procurar descobrir nossas motivações para sermos o que somos. Nossos comportamentos não são desligados de nosso ser, eles representam desejos, necessidades, sentimentos e uma história de vida. O processo psicoterápico nos ajuda a nos descobrirmos e para isso é necessário nos entregarmos em uma relação de confiança onde existe aceitação e não julgamento. Quando nos descobrimos podemos escolher se mudamos ou se permaneceremos o mesmo. Na realidade, possivelmente, não fará tanta diferença assim, pois alcançaremos um estado de ser que não se impedirá mais. Estaremos nos permitindo a viver cada situação do seu jeito particular. Sem ensaios, sem culpas, sem preconceitos. Teremos assumido as rédeas de nossa história. Aceitação, a palavra-chave de uma psicoterapia. Usando as palavras de Carl Rogers,

“A experiência mostrou-me que as pessoas têm, fundamentalmente, uma orientação positiva... Acabei por me convencer de que quanto mais um indivíduo é compreendido e aceito, maior tendência tem para abandonar as falsas defesas que empregou para enfrentar a vida, e para progredir num caminho construtivo.”

Página no Facebook: https://www.facebook.com/psicoterapiafalemais

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...