quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

A vida é um pega-pego de olhos vendados.

Lembram-se da cabra cega? É um jogo de pega-pego onde o pega está com os olhos vendados. Os outros ficam de olhos abertos e perambulam ao redor do "cabra cega" desafiando-o. Lembro-me que existia algumas regras: O "cabra cega" não poderia ficar parado. Quanto mais ele se movimentava era melhor pro jogo. E os outros precisavam se aproximar do pega. Quanto mais eles se arriscavam no contato com o "cabra cega" aumentava a tensão do jogo. 

Uma experiência no consultório fez-me lembrar dessa brincadeira. Propus um experimento para um cliente onde ele ficava de olhos fechados e pensava sobre seus objetivos e sonhos. Na medida que ele visualizava algo caminhava (de olhos fechados) para chegar até aquele objetivo. Quando pensava na possibilidade de esbarrar em algo tinha medo. Então, caminhava com cautela e receio. Esbarrou em alguns móveis e alguns, ele até imaginava que ira aparecer em seu caminho. Notou que podia reorganizar sua rota e que esses esbarrões não impedia sua caminhada. Alguns móveis ele nem imaginava e não sabia em quê estava batendo, mas mesmo assim, continuou caminhando. Às vezes nem tinha mais um objetivo bem traçado e ainda assim caminhava. Não sabia para onde estava indo e ainda assim caminhava. Aos poucos foi ganhando confiança e começou a andar mais relaxado, mesmo não sabendo para onde estava indo e o que poderia encontrar. 

Na nossa vida seguimos adiante sem visualizar o amanhã. Caminhamos pela vida como o cabra cega, desejando, almejando, idealizando, porém não temos a visão do porvir. Temos apenas que confiar e ter coragem para ir. É angustiante não ter a plena certeza e segurança do que virá. Ficamos receosos e apreensivos. Queremos prever. Às vezes achamos melhor esperar do que ir buscar, mas lembrem-se do cabra cega. É muito chato quando o pega fica apenas de prontidão esperando. A graça está na busca. Em quando ele sai como um zumbi com braços estirados e sedentos atrás do nada. É nesse momento que ele amplia suas chances. A sua busca é um convite para as outros irem interagir com ele. A sua espera diminui o ritmo do jogo e desmotiva. Saí o grito de reivindicação: "Ah! não pode. Fulano tá roubando. Tem que vir atrás." Sim, na vida não podemos parar e esperar. A vida exige busca, caminhada, movimento. Na vida caminhamos e de repente, esbarramos em algo que não havíamos pensado. Em alguns momentos precisamos mudar o percurso, ficamos confusos, as vezes nos machucamos, cuidamos disso e seguimos. Sempre seguimos. Quanto maior a insegurança, maior é a tentativa de controle, já dizia Frederich Perls. As nossas brincadeiras na infância contribuirão para os nossos processos enquanto adultos. Aquele brincar nos ajudará a estruturar e fortalecer as bases da nossa personalidade frente a desafios e adversidades futuras. Nunca pensei que a vida, no final das contas, seria uma grande brincadeira de Cabra cega. E cá estou eu (estamos nós) seguindo com os olhos vendados e algumas coisas consigo agarrar, outras deslizam sobre meus dedos, outras nem percebo, alguns esbarrões, tropeções, pancadas, quedas e ainda estou aqui, indo, visualizando internamente o meu caminho, os meus sonhos, porém, sem ter a plena certeza de que as coisas se darão como meu desejo constrói. Enfim, sigo.

Andreza Crispim
Psicologia Clínica CRP 02/17314
Psicomotricidade Relacional
@psicoterapiafalemais
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