sábado, 15 de junho de 2019

O lugar do trabalho pessoal para o psicólogo.

Na faculdade de psicologia se fala bastante sobre a necessidade do psicólogo fazer terapia, pois assim, ele não irá confundir ou misturar seus conteúdos com os dos clientes. Fala-se da importância do processo pessoal para o psicólogo, pois acredita-se que irá minimizar os riscos de projeções na relação com o paciente. Saímos de lá com essa lei, porém nem sei se temos tanto conhecimento dos seus fundamentos.

Ultimamente penso bastante sobre isso e quero ir um pouco mais além e aprofundar nessa questão. O que noto cada vez mais na medida que me trabalho pessoalmente (Faço terapia individual em Gestalt-terapia e também em grupo com Análise Corporal da Relação, além de participar de variados workshop, oficinas e agora grupo de Constelação familiar sistêmica) e que exerço o trabalho na clínica, é o quanto minha sensibilidade e percepção ficam mais aflorada para a escuta do outro. Quando vou desvelando meus conteúdos nos espaços terapêuticos que participo fico mais disponível para perceber e (re)conhecer os entraves, bloqueios, impedimentos e potencialidades do meu cliente. Tudo que pertence ao humano é legítimo e faz parte de uma possibilidade de ser. Nada que pertence ao outro nos é estranho propriamente, todo conteúdo humano é de alguma forma compartilhado e experienciado. Engana-se aquele que afirma que há neutralidade e distanciamento do desenrolar das histórias que nossos clientes nos trazem. Na escuta dos meus clientes também há uma escuta de mim, e preciso estar atenta e consciente disso. A história dele em algum fenômeno se encontra com a minha. E quanto mais consciente estou dos meus conteúdos, mas sensível e inocente fico com seu discurso. Trago a palavra inocente, pois considero que o inocente é aquele que se deixa surpreender e após a surpresa se reconhece. Quando trabalho minhas faltas e desejos, estou também contribuindo com o trabalho do meu cliente. De alguma forma os conteúdos entre nós que nos conectam vão se desenrolando através do meu movimento pessoal e a coisa se amplia. Ás vezes, há temas que só poderão ser alcançados na terapia com o paciente quando eles já tiverem sido abarcados na minha terapia. Em resumo, meu trabalho pessoal não serve para me proteger ou me blindar dos "problemas" do cliente, e nem vice-versa, e sim para me abrir e me disponibilizar mais livremente e autenticamente naquela relação.

Hoje, compreendo a importância para nós, psicólogos, do trabalho pessoal como ferramenta de intervenção profissional. Estou formada a seis anos e nesse tempo nem sempre estive em trabalho pessoal. Porém, atualmente, não consigo desatrelar uma coisa da outra. Claro que todo processo tem seu tempo e todos os ciclos têm seu começo e seu fim, mas hoje reconheço o quanto é essencial debruçar-me sobre mim mesma para enfim ir ao encontro do outro e colaborar com o debruçar dele sobre si mesmo. Acho delicado quando vejo profissionais que trabalham, especialmente na clínica, e nunca se propuseram a um espaço de escuta terapêutica. Penso: "o que impede esse sujeito de se submeter a uma proposta que ele, geralmente, defende tanto que o outro vivencie?" Caso você trabalhe com psicologia e nunca fez psicoterapia observe o que te impede. O que você evita? 

Pessoal que trabalha com psicologia e em especial psicologia clínica, façam psicoterapia, e se possível, outras práticas terapêuticas que vocês se identifiquem também. Será fundamental para sua vida profissional. Seus clientes irão ganhar muito com isso.

domingo, 2 de junho de 2019

Eu até perdoo nossa despedida.
Mas não posso perdoar os sonhos que ficaram
e aquele velho suspiro da saudade.

O céu que arde na terra.

Celeste nasceu em noite estrelada. Filha única de um casal maduro que já havia perdido a esperança de procriar. Celeste nasce como um milagr...