Quando alguém procura uma
psicoterapia vai em busca de ajuda, de uma resposta para suas dúvidas e
tormentos. Ela acredita que aquele profissional poderá responder às suas
confusões e encerrar seu sofrimento. O
cliente chega com todas as perguntas e espera sair com algumas respostas. O psicólogo
quando recebe um cliente espera ser útil para este e o melhor que ele pode
fazer é não ajudá-lo. Como assim?
Quando penso em ajudar alguém
estabeleço uma meta, possuo um conceito do que seria o melhor para este sujeito,
procuro fazer algo para melhorar a sua vida. O ato de ajudar me coloca como
ativo e o ajudado como passivo. Quando penso em ajudar alguém me vejo
praticando uma ação que acredito que aquele não é capaz de fazê-la no momento. Tal posicionamento por parte de um
psicoterapeuta não trará os benefícios propostos de uma psicoterapia. E o que
uma psicoterapia pode proporcionar?
A psicoterapia é um espaço de (re)descoberta.
Gosto de pensar também que esse é um espaço de aprendizagem. E o que se (re)descobre
e se aprende? A si próprio. “O que é essencial não é que o terapeuta aprenda
algo sobre o paciente e então lhe ensine, mas que o terapeuta ensine o paciente
como aprender sobre si mesmo.” (STEVENS, Barry. 1978, p.39). Perls costumava
dizer que aprender é descobrir que algo é
possível, e para mim essa frase culmina exatamente no tipo de aprendizagem
que se apreende da psicoterapia. O cliente descobre que/como é possível lidar
com os infortúnios da vida. Ele descobre elementos novos sobre si e os utiliza de
modo que sua vida se torne mais satisfatória. O psicoterapeuta fornece
ferramentas para que o consulente construa seus próprios instrumentos de
crescimento.
Muitas pessoas acreditam que não
precisam (re)descobrir a si mesmas. E algumas estão corretas, outras nem tanto.
Durante nossa vida somos impulsionados a acreditar que a melhor maneira de
sobreviver nesse mundo é nos anularmos e fazemos isso para nos proteger do
sofrimento. Contudo, pagamos um preço muito caro e este é que chega um momento
na vida em que sentimos certo vazio e uma incapacidade para lidar com as
dificuldades. Não sabemos do que somos capazes, se somos capazes e quais os
recursos que possuímos. Não confiamos em nós mesmos, em nossa potencialidade
para realizar algo, na possibilidade de transformação interior e exterior.
Estamos incertos quanto ao que pensamos, sentimos e fazemos. Ás vezes parece que
a nossa história não é construída por nós. Existem milhares de dúvidas a
respeito do que estamos construindo para nossas vidas.
Enquanto a esse processo de
aprendizagem da descoberta, a psicoterapia, informo que “As descobertas são
solitárias. Sempre foram. Sempre serão.” (CANEPPELE, Ismael, 2010, p.68). A
riqueza de uma descoberta advinda de um processo pessoal de busca é muito mais
válida do que aquelas percebidas pelo olhar do outro. O grande barato é não
revelar a verdade, mas possibilitar que o outro a perceba através dos seus
próprios recursos e no seu devido tempo. É encantador observar o espanto que o
cliente tem quando se depara com algo que não estava percebendo em si mesmo. O psicoterapeuta não mostra nada ao cliente,
esse é que mostra as suas verdades e dúvidas, o profissional só irá apontar
tais informações, e ao olhar mais uma vez para seu discurso o cliente poderá
descobrir novas questões que não estava atentado.
“Nossa visão do
terapeuta é que ele é semelhante àquilo que o químico chama de catalisador, um
ingrediente que precipita uma reação, que de outra maneira poderia não ocorrer.
Ele não determina a forma da reação, que depende das propriedades reativas intrínsecas
das sustâncias presentes, e tampouco participa de qualquer composto que venha a
ser formado com sua ajuda. O que ele faz é simplesmente dar início a um
processo, e há alguns processos que, uma vez iniciados, são automantenedores e
autocatalíticos.” (STEVENS, Barry. 1978, p.38).
Rainer Maria Rilke, poeta alemão de grande relevância, escreveu um conjunto de cartas entre os anos de 1903 e 1908, endereçadas ao jovem Franz Xaver Kappus com o intuito de lhe falar sobre o ofício de escritor. O jovem lhe requisitava respostas sobre suas produções e queria conselhos do grande poeta que admirava. As respostas de Rilke para as inquietações de Kappus podem ser utilizadas na reflexão sobre o posicionamento do psicoterapeuta diante das requisições dos seus clientes.
“O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer
neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar – ninguém. Não há senão um
caminho. Procure entrar em si mesmo. (...) Se depois dessa volta para dentro,
desse ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar a quem for
se são bons.”(p.26-27). Sobre o processo de crescimento pessoal Rilke continua,
“Nada a poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora
respostas a perguntas a que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa
responder na hora mais silenciosa.” (p.28).
Aos psicoterapeutas aconselho algo,
que sejam pacientes. A paciência é fundamental para a nossa profissão. Cada
sujeito tem seu ritmo e sua forma de se desenvolver. No pouco tempo que tenho
de profissão venho aprendendo a ser paciente e também tenho tentado ter
paciência com meu processo de aprendizado. Como diria Rilke (2001),
“Não busque por enquanto respostas que não lhe
podem ser dadas, por que não as poderia viver. Pois trata-se precisamente de
viver tudo. Viva por enquanto as perguntas. Talvez depois, aos poucos, sem que
o perceba, num dia longínquo, consiga viver a resposta. Quiça carregue em si a possibilidade de criar
e moldar- como uma maneira de ser particularmente feliz e pura. Eduque-se para
isto, mas aceite o que vier com toda confiança.” (p.42-43)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
STEVENS, Barry. Não apresse o rio: ele corre sozinho. São
Paulo: Summus, 1978.
CANEPPELE, Ismael. Os famosos e os duendes da morte. São
Paulo: Iluminuras, 2010.
RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta e A canção de amor e morte do porta-estandarte
Cristovão Rilke. São Paulo: Globo, 2001.
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