quarta-feira, 28 de março de 2018

Sobre terapia, pressa e esperança.

Escolher procurar por um psicólogo não é fácil. Iniciar uma terapia exige um processo anterior de aceitação e superação de idéias pré-concebidas. Existem diversos preconceitos com o trabalho do psicólogo, em especial, a psicoterapia/terapia. Buscar esse serviço indica a ultrapassagem dessa primeira barreira: o julgamento alheio que envolve o fazer clínico em psicologia. Quem nunca achou estranho quando alguém fala que vai à terapia? Pensamos logo em "Loucura, sofrimento e fragilidade". Nem sempre nessa ordem e nem sempre o pacote todo. Porém, esses conteúdos perpassam o nosso imaginário ao falarmos de psicoterapia.

Ok! Geralmente, devido a isso, quando o sujeito decide procurar por terapia ele está no seu limite. Ele vive o insuportável. Encontra-se transbordado, sufocado e exausto. O cliente chega com o sentimento de emergência e quer urgência, pois não aguenta mais. Ele tem pressa e nesse ponto encontramos um impasse. Na sua grande maioria as dificuldades vividas no processo terapêutico se dão pela necessidade de urgência que os clientes chegam ao consultório. A angústia está intensa e pede pressa.

Contudo, para a psicoterapia é preciso paciência. Aqui, não há pressa. Terapia exige tempo e não tem certezas. Ela maltrata os ansiosos por não ter respostas prontas e garantias. Chegar ao consultório pedindo por pressa é constatar uma limitação e se deparar com a frustração. Não é nada simples. O terapeuta que entrar na pressa do cliente perde a potencialidade da terapia e o processo empobrece. Eu cuido bastante da minha ansiedade pra que ela não atrapalhe a temporalidade do processo terapêutico. E admito, às vezes, ela me confunde. 

Psicoterapia pede tempo e espera. Eu diria esperança até. Esperança no movimento, esperança na dor e esperança na capacidade do cliente de enfrentamento. Às vezes eu penso: "Se essa pessoa aguentou até aqui, então ela tem uma força gigantesca e vai suportar o processo de espera da terapia.". Caso contrário, irá procurar por soluções mágicas, velozes, prontas, práticas, sem sofrimento e desistirá da terapia, pois não trabalhamos com esses modelos. Terapia não anestesia. Terapia revira, procura, remexe, reabre, e trata, não para se alcançar um estado de "cura" , e sim para se aprender o "o quê" e "o como" estamos nos "adoecendo". Passamos a tomar consciência dos nossos processos de bloqueios e impedimentos para, enfim, agirmos sobre eles e isso muda a forma como encaramos a nossa vida.

Adiantando um pouco as coisas, recomendo que busque terapia antes da urgência. Que você possa ir quando ainda puder tolerar. Que a procura surja quando as coisas não estiverem insuportáveis. Que a terapia possa vir no momento que ainda há serenidade. Garanto, que isso será algo que facilitará um pouco mais o trabalho. Vai por mim... Ou não. Na verdade, você que sabe. 


Foto: Thyeri Bione


Andreza Crispim
Psicóloga CRP 02/17314
Psicomotricista relacional
@psicoterapiafalemais



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