"Dinheiro não traz felicidade." Ele manda trazer ...
Desculpe-me os pobres, mas dinheiro é fundamental. E não apenas pelo valor econômico, mas, principalmente, pela lógica do mercado de consumo no qual ele é produto e produtor.
O tempo atual é definido por Zygmunt Bauman como Modernidade líquida. Um momento na história da humanidade onde a fluidez das experiências humanas impera. "O tempo não para." diria Cazuza, e ele estava certo, mas não fazia ideia do que estava por vir. Nosso momento histórico é entendido como um eterno fluir de possibilidades. Nada para. Tudo está em movimento. Temos diversas opções e jamais seremos capazes de contemplar todas elas. A cada conquista notamos que temos ainda muito o que fazer. Nos tornamos projeto, algo a ser sempre construído. Esse ponto não é opcional. Somos indivíduos e isso quer dizer que a constituição de nossa identidade é uma tarefa nossa que está fadada a nunca finalizar. Isso implica uma vida de escolhas e mais ainda de liberdade.
Somos livres. É inegável esse fato. Somos responsáveis por nossas decisões. Precisamos escolher o fazer da nossa vida. Tudo depende de nós. As possibilidades estão a nossa frente e são muitas, diria até infinitas. A questão é: temos recursos para alcançá-las? Foi nos dado a liberdade, no entanto, nos retiraram os meios para concretizá-la. É depositado em nossas mãos a responsabilidade por nos criarmos, porém nos esqueceram de dar as ferramentas. Esses instrumentos, não se iludam, não serão encontrados dentro do seu ser apenas. No mundo do consumo precisamos comprar aquilo que dará a oportunidade de sermos livres de fato e não apenas constitucionalmente. Do que adianta ser livre se não posso escolher entre as milhares de opções que são postas a minha frente?
A partir daqui preciso parar um pouco e pensar, pois o pensamento que tenho pode se partir em três pontos, no entanto quero falar apenas de um. E quero dizer que todos, pobres e ricos, brancos e negros, homens e mulheres, adultos e crianças estão inseridos na lógica de consumo. Os bens físicos se tornaram fundamental para compor nosso dia a dia e a nossa identidade. Todos, ou pelo menos a maioria, já ouviram falar que vivemos no tempo que para ser é preciso ter e que para se ter é preciso comprar. E para comprar é imprescindível o dinheiro. Assim, meus caros, ter dinheiro, ou melhor, valor de compra é fundamental para se construir enquanto sujeito na contemporaneidade e isso, traz felicidade.
Contudo, não falo apenas do ato comercial de comprar. Bauman é muito perspicaz quando diz que "Não se compra apenas comida, sapatos, automóveis ou itens de imobiliário". Hoje vamos às compras em diversos aspectos da nossa vida que não incluem o comércio em si. Bauman ressalta "Se 'comprar' significa esquadrinhar as possibilidades, examinar, tocar, sentir, manusear os bens à mostra, comparando seus custos com o conteúdo da carteira ou com o crédito restante nos cartões de crédito pondo alguns itens no carrinho e outros de volta às prateleiras - então vamos às compras tanto nas lojas quanto fora delas (...)". Hoje saímos às compras para construir nosso modo de vida e a nossa identidade. E transitar com maior facilidade nesse mercado nos fornece felicidade. Alcançar um objetivo nos dá felicidade. Saber caminhar na lógica do consumo, em nossa sociedade, gera felicidade. Aqueles que se vêm fora desse contexto ou sem recursos objetivos para concretizar seus desejos muitas vezes filhos de um ideal mercadológico sentem dificuldade em participar da fatia da felicidade contemporânea. Necessitamos aprender a ir às compras na nossa vida.
Muitos dirão agora que os pobres também são felizes apesar das dificuldades de sua vida. Eu sei. E isso não contraria o meu discurso acima. Não digo que a felicidade é exclusividade dos ricos, ou daqueles que têm dinheiro. A classe baixa também está inscrita nessa lógica e todo dia sai ás compras, mesmo que sem dinheiro. E além do mais, a felicidade não é produto de consumo. Ela é um sentimento que surge de fontes indizíveis e não generalizáveis. Porém, negar que ter dinheiro traz felicidade é uma grande mentira. Como diria Machado de Assis "O dinheiro não traz felicidade — para quem não sabe o que fazer com ele".
A pobreza e a felicidade não estão em campos opostos. Só é preciso que exista o homem pra felicidade se fazer possível. Muitos de nós tende a olhar para o pobre feliz como um mistério inominável e depois dizemos o ditado acima com maior gosto sem perceber o quanto estamos sendo contraditórios. Lembro de um texto que meu professor Marcos Creder escreveu em seu blog com o título "Oscar Wilde e o sorriso do gari", ele termina da seguinte forma: "Certa vez, apontaram-me na rua um gari sorrindo – percebi, que não só aquele, mas muitos garis sorriem – foi um sorriso altivo, debochado tão provocador e corajoso como a alegria espontânea e solitária. A pessoa que me apontou disse-me: 'veja só que paradoxo!” Respondi com outra pergunta: “se é um paradoxo, quem teria permissão para alegria?'"
A pobreza e a felicidade não estão em campos opostos. Só é preciso que exista o homem pra felicidade se fazer possível. Muitos de nós tende a olhar para o pobre feliz como um mistério inominável e depois dizemos o ditado acima com maior gosto sem perceber o quanto estamos sendo contraditórios. Lembro de um texto que meu professor Marcos Creder escreveu em seu blog com o título "Oscar Wilde e o sorriso do gari", ele termina da seguinte forma: "Certa vez, apontaram-me na rua um gari sorrindo – percebi, que não só aquele, mas muitos garis sorriem – foi um sorriso altivo, debochado tão provocador e corajoso como a alegria espontânea e solitária. A pessoa que me apontou disse-me: 'veja só que paradoxo!” Respondi com outra pergunta: “se é um paradoxo, quem teria permissão para alegria?'"
P.S: Para quem quiser ler o texto de Creder: http://literalmente-literalmente.blogspot.com.br/2013/07/vale-pena-ver-de-novo.html
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