sábado, 2 de julho de 2011

O adubo da humanidade.

É inacreditável, mas o ser humano prefere a ilusão à realidade. E isso é bastante compreensível e aceitável. É muito difícil para o homem fincar os pés no real e vivê-lo em sua objetividade. O real é o terreno onde plantamos nossos desejos e idealizações e sem isso ele não significa nada. É apenas um pedaço de terra vasto, porém sem vida.

A ilusão é o que nos mantém firmes no chão. É o que fertiliza o real e dá vida ao mundo. Quando falo ilusão quero dizer a nossa capacidade de idealizar os objetos ao ponto deles parecem melhores do que são e de encontrarmos saídas além dos instrumentos fornecidos pelo concreto. É ultrapassar os limites do determinado e estático e alcançar o impensável.

Fazer uso disso não é doentio, pelo contrário, é um mecanismo normal que todo ser humano lança mão para enfeitar o seu dia-a-dia.

No livro, As crônicas marcianas, no conto "O marciano" é relatado de maneira belíssima a nossa preferência, em algumas circunstâncias, pela fantasia ao invés do concreto. A seguinte citação é um bom exemplo do que venho falando: "Se a realidade é impossível, um sonho basta. Talvez eu não seja a morta que voltou, mas sou algo quase melhor para eles; um ideal delineado pela mente deles" (As crônicas marcianas). Assim, alguns de nós, embarcam de tal forma nas suas ilusões que constroem uma realidade a parte e desprendem seus pés do chão. Flutuam. Contudo, não há como viver eternamente no ar, afinal de contas a gravidade te chama. Então, sempre fica um sentimento de estranhamento como se aquilo não fosse certo, como se tivesse faltando algo. Não há como se dissociar da realidade por total, pois o que nos marca é uma eterna relação entre o eu e o mundo.

"Não existe beleza na realidade. Nunca existirá" (Os famosos e os duendes da morte). A realidade aponta nossas limitações, mostra-nos a feiura de nossa existência. Creio que o que há de mais prejudicial para o homem não é voar nas asas da fantasia, mas sim saltar no abismo da falta de sentido. Outros de nós sofrem por não conseguirem projetar na realidade suas idealizações. Olham para o mundo e o que vêem é o real. Não há colorido, não há fantasias, não há ilusões. Desesperam-se, pois não entendem o que faz as outras pessoas continuarem a caminhar nessa estrada defeituosa e repleta de obstáculos. Eles enxergam cada pedra, cada barreira, cada dor, todas as lágrimas, eles vêem por detrás do véu da fantasia. Eles conhecem os bastidores da realidade. Não prestam muita atenção no que está sendo apresentado e sim, na construção do espetáculo. Contudo, não é apenas uma falta de sentido na sociedade e na vida em conjunto e sim, uma ausência de significados em si mesmo. Percebem o mundo em tons de cinza por que não tem outras cores no estojo do seu ser.

O mundo é um terreno fértil e nós somos as sementes. Precisamos, então nos plantarmos para dar vida a terra e assim, conseguirmos germinar nossas potencialidades. É nesse ciclo que se dá a existência, uma rede de interdependência.

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