Alguns dias atrás assisti ao documentário Tarja Branca - A revolução que faltava. Esse fala sobre o ato de brincar e a sua importância para a natureza humana. Fui inquietada em diversos momentos e sobre variadas questões, mas principalmente no que se diz a respeito do brincar. Com o documentário comecei a questionar um pouco mais esse aspecto do humano. Noto que costumeiramente estamos interligando o brincar à uma atividade, ou seja, brincar implica em exercer uma atividade lúdica e essa leva o nome de brincadeira ou jogo.
No entanto, penso que muito mais do quê o exercício de uma atividade, o brincar é um estado de espírito que se caracteriza pela espontaneidade, inteireza e expressão genuína do ser. O sujeito que se coloca a disposição para experimentar e ser criativo, estar brincando. Em outras palavras, o simples exercício de uma atividade lúdica não se caracteriza como brincar, mas sim quando eu me encontro em um estado de abertura para ser livremente espontâneo, inteiro nas minhas relações e com respeito às minhas manifestações pessoais.
Brincar é estar em contato consigo mesmo e aberto para receber o outro como ele é. É estar disponível. No campo do trabalho o brincar é mal visto, pois é reconhecido como bagunça e sem seriedade. Porém, aquele que brinca no seu trabalho desempenha suas tarefas com mais criatividade e prazer. Ele não para de exercer suas funções predeterminadas, mas as encara de um modo diferente. Brincar é abrir-se para o novo, na verdade, brincar é perceber o novo na rotina desgastada do dia-a-dia. Brincar é inovar-se. E como está faltando dentro do ambiente de trabalho essa leveza de poder se renovar na rotina e de reescrever novos sentidos para as atividades. Faltam pessoas criativas, inovadoras, espontâneas e encantadoras no campo do trabalho. Sim, o encantamento, brincar é encantar-se e encantar. Alguém que brinca encanta o outro para animar-se também. Convoca o outro a se colocar de modo mais apaixonado nas suas atividades.
Ambientes que procuram extinguir de seu meio o brincar, são lugares que não dão espaço para o ser. Ambientes assim minam a subjetividade do homem. Estão mecanizando os sujeitos, robotizando-os, pois brincar é ser a si mesmo. O trabalho e a escola são ambientes que na atualidade veem mortificando o ser.
Brincar é fundamental, pois coloca o sujeito em contato consigo mesmo. Na brincadeira não há tempo para ensaios. O sentir, o pensar e o agir estão completamente interligados. Só há o agora. A criança entende isso, e mais uma vez digo que vai além do exercício de um jogo, é um modo de existir. Pense, alguém que não brinca tem um modo de vida engessado, endurecido, está preocupado em controlar as situações e não se arrisca, não se entrega, não se experimenta, não conhece as possibilidades de seu potencial. Brincar é liberdade.
Quando somos brincantes estamos abertos para descobertas. Experimentamos, nos arriscamos, cometemos erros, reaprendemos constantemente, duvidamos e criamos. Quando somos brincantes estamos abertos para a vida. Brincar é vida.
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