Somos
indivíduos únicos e singulares. Somos a soma de nossas experiências
de vida e a maneira como percebemos e lidamos com esses eventos.
Quando falamos de subjetividades não falamos em igualdades, falamos
em semelhanças, e na semelhança incluímos, inevitavelmente, a
diferença. Então, é a diversidade de nossas personalidades que nos
define. É, graças as diferenças, que construímos nossas
particularidades. Sem a diferenciação não haveria a identificação.
Pois, na igualdade não há identidade.
A
diferença é o que constitui o ser como único, e sendo único, ele
procura aspectos no mundo aos quais se identifique. Ele procura por
semelhanças, e as semelhanças une os sujeitos, atraem as pessoas.
Como seres únicos, evitamos as diferenças, a diversidade nos
assusta e tendemos a evitá-la, rejeitá-la. Dentro de nossa
fronteira de contato, buscamos manter aquilo que consideramos como
ponto de identificação e expulsamos os pontos de distinção.
“Assim, dentro da fronteira do ego existe geralmente coesão, amor,
cooperação; fora da fronteira existe suspeita, estranheza e
não-familiaridade.” (PERLS, Frederick S., 1997, p.23).
Quando
o sujeito sente sua identidade ameaçada pelas diferenças, ele pode
escolher (de forma básica e geral) por dois caminhos, o primeiro é
avaliar, refletir e questionar para integrar/assimilar novas
possibilidades de ser. O segundo é evitar, expulsar, rejeitar ou até
mesmo destruir aquilo que lhe ameaça. A primeira provoca uma
ampliação do ser e a identidade se modifica, pois adquire novas
características. É um processo difícil e necessita esforço e
períodos de adaptação que perturba a “tranquilidade” do Eu. O
segundo, cria um estado de tensão e desperta a sensação de
perseguição, paranoia e o enrijecimento da identidade para
proteger-se do que considera ser uma violência.
“Só
aquilo que é capaz de perturbar meu Eu corporal é que me provoca.”
(LAPIERRE, André e AUCOUTURIER, Bernard, 1985. p.20). Ou seja “(…)
nós só amamos e odiamos a nós mesmos” (PERLS, Frederick S.,
1977, p.26). Tememos algumas diferenças, pois a percebemos como
possibilidades de Ser. Somos afetados pelas diferenças apenas quando
elas repercutem de alguma forma em nossa identidade. Assim,
rejeitamos ideias fascistas, pois consideramos que elas ferirão algo
que amamos. Aceitamos ideias fascistas, pois sentimo-nos ameaçados
por outras posições políticas/ideológicas e acreditamos, que
aquelas, protegerão valores preciosos para nós. Tememos que, aquilo
que consideramos diferente e perigoso, afete nossa vida, nossa
família, amigos e desestabilize a base onde constituímos nossa
personalidade.
Alguns,
para defender aquilo que consideram precioso, lançam mão e
sentem-se legitimados a serem violentos. Perde-se de vista a empatia,
pois o outro se torna só diferença, e se não há nada nele que
seja semelhante a mim, não questiono feri-lo. “Cada um tem do
outro uma ideia falsa. (…) Já o sentimento hereditário de ser
alguém superior, com pretensões superiores, torna a pessoa fria e
deixa a consciência tranquila: nada percebemos de injusto, quando a
diferença entre nós e outro ser é muito grande, e matamos um
mosquito, por exemplo, sem qualquer remorso.” (NIETZSCHE,
Friedrich. 2012, p.62-63). Não percebemos que num mesmo ponto,
existem semelhanças e diferenças. Ninguém é de todo diferente e
ninguém é de todo semelhante. O que odiamos no outro é apenas
alguns aspectos e não ele todo. Assim, como o que amamos no outro
não é sua totalidade. Em todos nós existem diferenças que nos
afastam e semelhanças que nos unem. Desejar extinguir as diferenças
é assassinar o direito universal de construção de identidade.
Extinguir as diferenças é exterminar possibilidades de crescimento
e de Ser. Repito: “Quando falamos de subjetividades não falamos em
igualdades, falamos em semelhanças, e na semelhança incluímos,
inevitavelmente, a diferença. Então, é a diversidade de nossas
personalidades que nos define. É, graças as diferenças, que
construímos nossas particularidades. Sem a diferenciação não
haveria a identificação. Pois, na igualdade não há identidade.”.
E,
cada lado, luta pelo direito de existir e manter sua identidade.
Andreza Crispim
Psicologia Clínica CRP 02/17314
Psicomotricidade Relacional
Psicomotricidade Relacional
@psicoterapiafalemais
Referências
bibliográficas:
LAPIERRE,
Andre e AUCOUTURIER, Bernad. Os contrastes e a descoberta das noções
fundamentais. 2° ed. São Paulo, Editora Manole, 1985.
NIETZSCHE,
Friedrich. Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres.
São Paulo: Companhia das letras, 2005.
PERLS,
Frederick Solomon. Gestalt-terapia explicada. 2. ed. São Paulo,
Summus, 1977.
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